A leishmaniose visceral (LV) é uma doença vetorial grave que apresenta um ciclo biológico complexo e que, se não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos. O Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral (PVC-LV), do Ministério da Saúde (MS), prevê a realização, de forma integrada, de medidas de controle que visam o diagnóstico precoce e tratamento adequado dos casos humanos, o controle do reservatório canino e do vetor. Em 2021, o MS oficializou a proposta de incorporação da coleira impregnada com inseticida (deltametrina 4%) para controle da LV em municípios prioritários, associada às demais ações do programa. São também recomendadas as atividades de educação em saúde e manejo ambiental.
Belo Horizonte possui equipes específicas de controle da LV, com distribuição de Agentes de Combate a Endemias (ACE) em todas as regionais. As ações são direcionadas de acordo com a realidade epidemiológica existente, com realização de coleta de sangue canino, controle químico do vetor e repasse de informações sobre a prevenção da doença. A partir de 2023, o município implantará o uso da coleira impregnada de Deltametrina em áreas prioritárias, mediante a realização de inquéritos caninos censitários.
As ações sistemáticas de controle da LV ocorrem em Belo Horizonte desde 1994. Entre 2008 e 2014, vivenciamos uma redução drástica do número de casos humanos de LV (161 para 41) e de óbitos (18 para 5). No mesmo período houve expansão qualitativa e quantitativa das ações de controle no município, que realizou, no ano 2012, exame de leishmaniose visceral em 70,0% da população canina do município (202.896 coletas). Foram registrados 331 casos novos da doença de 2015 a 2022 (dados parciais), com média de 41 casos no período, e ocorrência de 53 óbitos de LVH.
Além da complexidade do controle da LV nas áreas urbanas, a incidência da doença pode estar associada a condições climáticas favoráveis ao aumento da população do vetor, Lutzomyia longipalpis, conhecido popularmente como mosquito palha, assim como a existência de ambientes propícios para formação de seus criadouros. Nesse sentido, é indispensável a participação da população, que deve manter os ambientes limpos, com a retirada de folhas, troncos, fezes de animais, e outros tipos de matéria orgânica, além de fazer o acondicionamento correto do lixo.
O que é?
Leishmaniose Visceral (LV) é uma doença crônica, sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, aumento do fígado e baço, perda de peso, fraqueza, redução da força muscular, anemia e outras manifestações.
As pessoas residentes em áreas onde ocorrem casos de LV, como o município de Belo Horizonte, ao apresentarem alguns desses sintomas, devem procurar o serviço de saúde mais próximo o quanto antes, pois o diagnóstico e o tratamento precoce evitam o agravamento da doença, que pode ser fatal se não for tratada.
Como ocorre a transmissão?
Os transmissores da LV são insetos denominados flebotomíneos, conhecidos popularmente como mosquito palha. No Brasil, a principal espécie envolvida é a Lutzomyia longipalpis e o agente causador da doença o protozoário Leishmania infantum. A transmissão acontece por meio da picada de fêmeas de flebotomíneos infectados que ingerem o parasito ao picar cães ou outros animais infectados e depois picam o homem transmitindo o parasito. Na área urbana o cão é o principal reservatório da doença, e no meio silvestre, as raposas e os marsupiais (gambás). Não ocorre transmissão da LV de pessoa para pessoa.
Como fazer o diagnóstico da leishmaniose visceral?
Para o diagnóstico precoce, deve-se estar sempre atento às manifestações clínicas da doença, tanto em crianças quanto em adultos, e sempre incluir a leishmaniose visceral no diagnóstico diferencial de quadros clínicos com esplenomegalia e/ou com febre de longa duração, realizando exame sorológico.
O exame a ser realizado é o Teste Rápido para LV (TR_LV), o paciente quando atendido nos Centros de Saúde deverá ser encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) onde fará o teste. O TR_LV está disponível em alguns hospitais de referência para tratamento da LV.
Em casos em que o TR_LV for negativo e/ou haja necessidade de diagnóstico diferencial com outras doenças, deverá ser solicitada a realização do exame de Aspirado Medular e/ou PCR (Reação em Cadeia de Polimerase).
Quais são as referências para atendimento e/ou internação de casos suspeitos?
Referências ambulatoriais: |
Ambulatório do Hospital Eduardo de Menezes: 3328-5055. Av Dr. Cristiano de Resende, 2213 – Bonsucesso. Centro de Pesquisas Rene Rachou: 3349-7700. Av. Augusto de Lima, 1715 – Barro Preto. |
Referências Hospitalares |
Hospital Eduardo de Menezes: 3328-5000. Av Dr. Cristiano de Resende, 2213 – Bonsucesso. |
Hospital Infantil João Paulo II: 3239-9074 – Alameda Ezequiel Dias, 345 - Santa Efigênia |
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais: 3409-9327. Av. Prof. Alfredo Balena, 110 – Santa Efigênia |
Tratamento da Leishmaniose Visceral Humana
Apesar de grave, a LV tem tratamento e cura para os humanos. Os medicamentos específicos estão disponíveis na rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e baseia-se na utilização de três fármacos a depender da indicação médica: o antimoniato de N-metil glucamina (Glucantime®), a anfotericina B e a anfotericina B lipossomal.
Recomenda-se o antimoniato de N-metil glucamina como fármaco de primeira escolha para o tratamento da LV, exceto em algumas situações, nas quais se recomenda o uso da anfotericina B, prioritariamente em sua formulação lipossomal.
A lista de indicações para utilização da anfotericina B lipossomal inclui pacientes que atendam a pelo menos um dos critérios abaixo:
- Idade menor de 1 ano;
- Idade maior que 50 anos;
- Escore de gravidade: clínico >4 ou clínico-laboratorial >6;
- Insuficiência renal;
- Insuficiência hepática;
- Insuficiência cardíaca;
- Intervalo QT corrigido maior que 450ms;
- Uso concomitante de medicamentos que alteram o intervalo QT;
- Hipersensibilidade ao antimonial pentavalente ou a outros medicamentos utilizados para o tratamento da LV;
- Infecção pelo HIV;
- Comorbidades que comprometem a imunidade;
- Uso de medicação imunossupressora;
- Falha terapêutica ao antimonial pentavalente ou a outros medicamentos utilizados para o tratamento da LV;
- Gestantes.
Nas situações em que o paciente apresente hipersensibilidade ou falha terapêutica ao antimonial pentavalente e não se enquadre em nenhum dos critérios de indicação para utilização da anfotericina B lipossomal, poderá ser adotado como alternativa terapêutica o desoxicolato da anfotericina B.
Como obter o Glucantime para tratamento?
O Glucantime é distribuído aos hospitais, tanto público quanto privados e aos Centros de Saúde através das farmácias distritais da Secretaria Municipal de Saúde, mediante receita médica e ficha de notificação.
Quando usar e como obter a Anfotericina B lipossomal?
A anfotericina B lipossomal apresenta custo elevado, o que restringe seu uso. De acordo com o Ministério da Saúde, esta medicação deve ser usada em pacientes com Leishmaniose Visceral Grave que apresentem falha terapêutica ou toxicidade ao desoxicolato de anfotericina. A anfotericina B lipossomal deve ser usada como primeira escolha
A anfotericina B lipossomal é liberada pelo Centro de Informação Estratégica em Vigilância em Saúde (CIEVS-BH) para todos os casos que preencham os critérios padronizados pelo Ministério da Saúde. Os casos são discutidos entre o médico assistente e a médica plantonista do CIEVS-BH. Se os critérios forem preenchidos, o CIEVS entra em contato com a Farmácia Distrital Oeste informando sobre a liberação e a instituição se responsabiliza por retirar o medicamento entregando os formulários exigidos.
Referências Bibliográficas
Orientações mais detalhadas em relação à assistência ao paciente podem ser consultadas nos documentos e sites:
1 - “Recomendações para o manejo clínico da leishmaniose tegumentar e visceral” que está disponível no portal da saúde da PBH (www.pbh.gov.br)
2 - “Leishmaniose Visceral Grave - Normas e Condutas” disponível no portal do Ministério da Saúde (http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lv_grave_nc.pdf).
3 - “Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral” ( http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_leish_visceral2006.pdf )
4 - Guia de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde – Volume 3 – Brasília/DF - 2017
Dados Epidemiológicos da LVH
DADOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL HUMANA NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, PERÍODO 2008-2024
DADOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL HUMANA NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, PERÍODO 1994-2007
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