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Maria Luiza Moreira

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Maria Luiza Moreira - Quilombo Luízes
Acervo Quilombo dos Luizes

 

A história da comunidade dos Luízes e de seu território remonta ao ano de 1895, período no qual se iniciava a construção de Belo Horizonte, evidenciando o entrelaçamento entre as histórias dos Luízes e do município e até hoje, o Quilombo dos Luízes carrega a tradição de ser uma família que sempre foi comandada por “mulheres fortes corajosas e guerreiras”. O próprio nome da comunidade – que também já foi conhecida como Vila Maria Luiza ou comunidade do povo das piteiras faz referência não apenas ao nome da matriarca, mas também à história de sua linhagem. 


As tradições do grupo estão bastante ligadas às práticas agrícolas, o cultivo da pita (Agave americana) faz parte da história dos Luízes desde a época em que a família morava no Quilombo das Piteiras, em Nova Lima, cidade na qual Dona Maria Luiza nasceu, em 1886. Filha de Antônio Luiz Lopes e Ana  Apolinário Luiz, Dona Maria Luiza Moreira, assim como seus oito irmãos nasceram livres e, orgulhosos dessa conquista do povo negro, os integrantes da família utilizavam uma flor de lótus feita de barro como símbolo de liberdade e que os identificava como um “Luiz”.

 

Em meados de 1890, Dona Maria Luiza e seu marido  Vitalino Nunes Moreira, junto a outros integrantes da família, mudaram-se  para a região do atual território do quilombo,  que fazia parte da antiga Fazenda Calafate. O córrego das Piteiras atravessava a região mais baixa do território da Fazenda Piteiras e foi aberto pelos Luízes para irrigar a horta que cultivavam. A região da Avenida Silva Lobo era o quintal da matriarca Maria Luiza e sua casa se localizava na beira de onde foi construída a avenida. A horta era cortada pelo córrego das Piteiras que passava no centro de onde hoje é a avenida, e seus produtos serviam de sustento para toda a comunidade e para venda em vários outros bairros de Belo Horizonte.

 

A devoção e religiosidade de Dona Maria Luiza dá origem à uma das maiores manifestações de resistência do Quilombo dos Luizes. A festa de Sant’Ana, tradicionalmente celebrada em julho pela comunidade, traz ainda os elementos principais dos tempos de Maria Luiza: a novena, realizada antes do dia da santa em 26 de julho, e o hasteamento da bandeira com a participação do congado. A celebração à santa padroeira da família é uma manifestação centenária, uma vez que a devoção à Santa’Ana é uma herança deixada por Anna Apolinária e ao longo dos anos é passada entre as gerações de mulheres da família. Outra referência cultural importante dos Luízes está associada à afirmação e valorização da estética negra, especialmente os cuidados com cabelo afro e suas formas de trançados.  

 

Carinhosamente chamada de Biza ou Vovó pelos descendentes, Dona Maria Luiza é referência da Liderança  Feminina e matriarcal da comunidade, sendo a mulher que ensinou aos seus filhos e netos  a importância da luta por direitos dos povos quilombolas e a preservação das tradições e da cultura do  Quilombo, por meio da  resistência e do pertencimento.