12 DE OUTUBRO
DIA NACIONAL DO LOBO-GUARÁ
Inicialmente comemorado no segundo domingo do mês de outubro (data instituída pelo Grupo de Trabalho de Canídeos (GTC), do Plano de Manejo para o Lobo-guará, sediado no Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”, em Sorocaba, SP), o Dia Nacional do Lobo-guará hoje é celebrado em 12 de outubro, graças ao calendário oficial de datas alusivas ao meio ambiente instituído pela Prefeitura deste município, por meio da Lei nº 8.812, de 15 de julho de 2009. A partir daí, vários zoológicos do país passaram, também, a adotar esta data.
Um dia dedicado à esta espécie é importante para apresentá-la para as pessoas, chamar atenção para as ameaças que enfrenta na natureza e os esforços que vêm sendo empreendidos visando à sua conservação.
O Zoológico de Belo Horizonte/FPMZB apoia essa ideia. Junte-se a nós!
LOBO-GUARÁ
Maned Wolf
Chrysocyon brachyurus
Chrysocyon (grego): Chrysos=dourado; cyon= cachorro
brachyurus (grego latinizado): brachy= curta; urus, vem de oura=cauda
Significado do nome: cachorro dourado da cauda curta.
Características
É o maior canídeo silvestre da América do Sul. Mede entre 0,95 e 1,25 metros de comprimento de corpo, com 0,32 a 0,51 metros de cauda, podendo atingir um comprimento total de 1,76m da ponta do focinho à ponta da cauda. Tem, em média, 0,80m de altura, podendo chegar a 0,90m (considerando-se a distância do ombro ao chão).
Um indivíduo adulto, na natureza, pesa entre 20 e 33kg.
A pelagem do corpo é laranja-avermelhada, com uma crina negra na parte superior do pescoço, que se arrepia quando o animal se sente ameaçado. Esta varia de tamanho e em tonalidade, desde mais rala e mais clara a bem peluda e muito escura. As patas são também avermelhadas, com pelagem escura, às vezes menos, às vezes mais extensa. É como se estivesse usando meias que, eventualmente, se estendem até metade dos membros. As patas traseiras possuem quase sempre “meias” escuras e mais curtas. O focinho, na maioria dos casos, também é negro. A ponta da cauda, a garganta e o interior das orelhas são brancos. As características da pelagem servem para diferenciar os indivíduos.
Possui patas longas e finas que lhe dão porte elegante e lhe propiciam melhor movimentação pelos ambientes abertos do Cerrado e dos Campos Sulinos, onde originalmente era encontrado, além de permitir uma melhor visualização do ambiente onde vive. Elas auxiliam também no momento da caça, pois possibilitam altos saltos. As orelhas longas (com cerca de 15cm de comprimento), funcionam como amplificadores e movem-se constantemente para captar melhor os sons, ainda que pequenos ruídos. Dessa maneira, para a busca de alimento, esse animal confia na perfeita audição e no excelente olfato.
Tem cinco dedos nas patas anteriores, sendo um vestigial, e quatro nas posteriores. Os dois dedos centrais são parcialmente fundidos na base por uma pequena membrana.
Estado de conservação da espécie
Aparece nas Listas Vermelhas de Espécies Ameaçadas de Extinção nas seguintes categorias: “Quase ameaçada” (IUCN, 2022-1) e “Vulnerável” (ICMBio, 2022).
Levando em consideração a velocidade e a intensidade da redução dos seus ambientes naturais, principalmente as altas taxas de desmatamento do bioma Cerrado e dos Campos Sulinos, o futuro da espécie é preocupante. Estimativas de viabilidade populacional foram realizadas a partir de uma taxa média de 1% ao ano de conversão de habitats do Cerrado em campos de plantio, pastagens e áreas de mineração. De acordo com essas taxas, a espécie sofreria uma redução de 30% em sua população total em 21 anos (três gerações). De 2002 a 2008, a taxa de desmatamento anual no Cerrado foi calculada em 1,34%, e estima-se que atualmente essa taxa esteja em torno de 2%. O número reflete uma perda populacional ainda maior, considerando a necessidade dessas áreas naturais para a manutenção de populações viáveis de lobo-guará. E, aqui, os cálculos foram baseados somente na perda de habitats, sem considerar a perda de indivíduos por outros fatores.
Ocorrência
Historicamente, ocorre praticamente em todo o bioma Cerrado e áreas do sul do Brasil. Esporadicamente, pode aparecer também em algumas áreas do Pantanal. Além das áreas brasileiras, onde é mais extensivamente encontrado, ainda habita áreas de cinco outros países: Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Uruguai. No entanto, devido às alterações em seus habitats tanto no Brasil como nos outros países, acredita-se que a distribuição atual sofreu grandes reduções, em especial na porção sul de seu limite. Paralelamente, vieram as altas taxas de desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica, tornando o ambiente aberto, não florestal. Assim, por um lado, o lobo-guará, espécie adaptada às áreas de campos, de Cerrado, expulso de seus ambientes naturais, passou a encontrar nas áreas desmatadas a alternativa para uma recolonização, uma expansão de seus limites de ocupação após uma severa diminuição. É o que vemos acontecer desde a segunda metade do século XX. Muitos se espantam ao ver a espécie em áreas de transição entre o bioma Cerrado e a Amazônia (estados de Rondônia e Tocantins), ou totalmente imersa na Mata Atlântica (nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia). E cada vez mais presente no Pantanal.
Hábitos
Os lobos-guarás têm hábitos solitários. Apesar de passarem a maior parte do ano sozinhos, a unidade social é o casal. Machos e fêmeas dividem o mesmo território, mas pouco se encontram durante o ano todo. Juntam-se quase que apenas na época reprodutiva e, se tiverem sucesso, durante alguns meses com os filhotes.
Esse animal é mais ativo ao entardecer, à noite e ao amanhecer (hábitos crepusculares). No entanto, estudos mostram que a relação das taxas de umidade do ar com a temperatura é o que define quando ele estará mais ativo ao longo do dia. Em dias de clima mais ameno, céu nublado ou após uma chuva, é possível observar esse animal procurando alimento e patrulhando o território a qualquer hora. É territorialista, utiliza-se de cheiros presentes na urina e nas fezes para demarcar o território e indicar a sua presença.
Em suas atividades cotidianas – alimentação, descanso, reprodução – utiliza uma área (chamada área de vida) de 10 a 115km², uma média de 50 a 70km². Essa variação depende da qualidade do ambiente que abrange, da disponibilidade de alimento e outros recursos (abrigos, áreas naturais, água etc.), da composição da paisagem (florestas, campos, pastagens etc.) e do grau de degradação ambiental. A vocalização é utilizada na comunicação entre casais e na interação com filhotes e jovens. Esse animal emite diversos tipos de chamados e sons. Ao anoitecer, emite um grunhido gutural característico, diferente do uivo dos lobos do hemisfério norte, que pode ser ouvido a longas distâncias, a fim de alertar outros lobos-guarás de sua presença.
Alimentação
É uma espécie onívora. Sua dieta é composta de uma grande diversidade de frutos, tais como a fruta-do-lobo, o araçá, o murici e o cajuzinho-do-cerrado e, também, de pequenos animais, como ratos, gambás, tatus, aves (principalmente as que vivem no solo, como perdizes, codornas e inhambus), lagartos e serpentes (mesmo as peçonhentas, como jararacas e cascavéis) e muitos insetos. Às vezes, pode caçar animais maiores como a raposa-do-campo, o cachorro-do-mato e, em casos raros, animais ainda maiores como catetos e veados.
Mesmo com frutos disponíveis o ano inteiro, na maioria dos locais onde vive, esse animal costuma variar sua dieta de acordo com a estação do ano. Durante a época das chuvas (normalmente de novembro a abril), aproveita-se da abundância de frutos no seu ambiente e baseia sua dieta em vegetais. Já na estação seca (de maio a outubro), quando a quantidade de frutos diminui, precisa sair bastante para caçar suas presas, que também estão mais ativas em busca do alimento escasso. Em ambientes muito degradados, essa sazonalidade na alimentação pode não existir.
Reprodução
A maturidade sexual é atingida a partir de um ano para as fêmeas e um ano e meio para machos. O acasalamento ocorre normalmente entre março e junho e o mesmo casal é formado todos os anos, caracterizando monogamia, que é rara entre mamíferos.
O período de gestação dura entre 60 e 65 dias, nascendo de um a cinco filhotes por vez. Estes nascem com pelagem quase negra com a ponta da cauda branca. Aos sete meses, já começam a apresentar a coloração de um indivíduo adulto. Entre nove e dez meses, atingem o porte do adulto, apesar de ainda serem jovens.
A amamentação ocorre, normalmente, até os quatro meses de idade, mas já a partir da quarta semana de vida os pais começam oferecer ao filhote alimentos regurgitados, e isto dura até os seis/sete meses. A fêmea e o macho cuidam juntos dos filhotes, alternando nos cuidados parentais diretos e nas saídas para a obtenção de alimento.
Os pais mudam os filhotes de lugar constantemente, ainda mais sob o sinal de ameaças. Carregam um a um os filhotes com poucos dias de vida, pela nuca, por grandes distâncias.
Os filhotes, depois de crescidos, ainda permanecem dentro da área de vida do casal até atingirem entre um ano e meio e dois anos. Somente depois se dispersam para as vizinhanças ou para longe e estabelecem sua própria área de uso.
Principais ameaças
As principais ameaças à espécie são: a perda e a fragmentação dos ambientes naturais, os atropelamentos, a caça e a perseguição por predar aves domésticas e as doenças, sejam aquelas que costumam acometer essa espécie, ou outras transmitidas por animais domésticos. Além disso, a espécie sofre nas mãos de pessoas que acreditam em poderes mágicos e nas propriedades de cura com o uso de partes do seu corpo. Essas práticas, comuns entre os antigos, são chocantes e continuam sendo utilizadas até os dias de hoje, o que continua contribuindo para a diminuição de suas populações.
Estratégias de conservação
Esta espécie está listada no Apêndice II da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES). Vale destacar que as espécies que constam no Apêndice II, embora atualmente não se encontrem ameaçadas de extinção, poderão chegar a esta situação, a menos que o comércio esteja sujeito à regulamentação rigorosa.
Em 2011 foi oficializado, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Plano de Ação Nacional para a Conservação do Lobo-guará – PAN-Lobo-guará, que teve como objetivo reverter o declínio populacional da espécie em sua área de distribuição, reduzindo a categoria de ameaça. Esse Plano encerrou-se em 2016, e em 2018 a espécie passou a ser contemplada no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Canídeos Silvestres – PAN-Canídeos, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros – CENAP/ICMBio. Esse Plano tem como objetivo geral: reduzir os impactos provocados nas populações de canídeos silvestres pela alteração de habitats e pelo contato com animais domésticos, e diminuir a perda de indivíduos causada por atropelamentos e conflitos com o ser humano.
Além disso, foi implementado, em nível continental, o Grupo Especialista de Canídeos – Canid Specialist Group, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês). O objetivo foi garantir a coordenação de longo prazo entre os pesquisadores em toda área de ocorrência do lobo-guará e permitir o compartilhamento das estratégias direcionadas para reverter o declínio populacional que a espécie enfrenta.
As instituições que mantêm esses animais sob cuidados humanos, como os zoológicos que têm condições de lhes oferecer elevados níveis de bem-estar, dão valiosas contribuições para a conservação integrada da espécie. Dentre as várias ações desenvolvidas nesses locais, vale destacar a reprodução, como ferramenta para, se necessário, subsidiar futuros programas de reintrodução de espécimes na natureza. Essas instituições contribuem, ainda, com programas educativos que estimulam a formação de cidadãos sensíveis e comprometidos com essa causa. Um bom exemplo de ação educativa desenvolvida nos zoológicos, é a Campanha “Sou Amigo do Lobo”, lançada em 2013 pelo Instituto Pró-Carnívoros, uma organização não-governamental que atua para melhorar a relação entre as comunidades locais e os carnívoros em diversos pontos do Brasil, e adotada em 2015 pela Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB) com intuito de unir forças a fim de disseminar conhecimento sobre essa espécie, apresentar iniciativas e estratégias para a sua conservação em todo o território nacional. A ideia principal é que, conhecendo a importância dessa espécie para o equilíbrio do ambiente onde ela vive, haja uma maior mobilização em favor do lobo-guará e, também, do Cerrado.
Animais que estão sob os cuidados do Zoológico de Belo Horizonte/FPMZB
Estão sob os cuidados da instituição seis indivíduos dessa espécie, sendo três machos e três fêmeas.
ATIVIDADE DIA NACIONAL DO LOBO-GUARÁ