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Libras na escola

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Uma onda de inclusão através dos gestos

 

Projeto de Libras na Escola Municipal Professora Ondina Nobre rompe as barreiras da comunicação.

 

Viver em um mundo onde a comunicação é limitada é enfrentar diariamente desafios que muitos de nós nunca imaginamos. Imagine-se em um ambiente onde as palavras se perdem no ar e os gestos e expressões são a única forma de comunicação. Essa é a realidade que as pessoas surdas enfrentam diariamente, lutando por inclusão em uma sociedade que muitas vezes as deixa à margem.

 

No entanto, um projeto inovador surgiu como um ponto fora da curva na Escola Municipal Professora Ondina Nobre, localizada no bairro Céu Azul, em Belo Horizonte. Sob a liderança da professora Alessandra Cristina Pereira, a instituição abraça uma revolução educacional ao adotar o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras). O projeto contou com a participação ativa de 17 turmas do 1º ao 4º ano do turno da manhã e três turmas do 5° ano no turno da tarde, que, mesmo não tendo alunos surdos, abraçaram a oportunidade de aprender e se comunicar por meio da Libras.

 

Como tudo começou

 

A trajetória da professora Alessandra na jornada da Libras começou em 2022, pós-pandemia, quando ela mergulhou nos módulos iniciais do curso e se apaixonou pela linguagem. O que a motivou a embarcar nessa jornada? Segundo ela mesma, a resposta é clara: a importância da inclusão. "Eu acho que a Libras é mais importante até mesmo que o inglês, pois em qualquer lugar que você vá você encontra pessoas surdas. Eu acho que essa é a verdadeira inclusão", afirma Alessandra.

 

Com essa convicção em mente, Alessandra não apenas começou a lecionar Libras para seus alunos, mas também desenvolveu um projeto inovador em suas classes. O projeto, voltado para novas tecnologias usando a Libras, surgiu da necessidade de superar obstáculos relacionados à tecnologia na escola. Apesar de não haver alunos surdos na instituição, com o apoio da diretora Daniela Cristina Felismino, Alessandra implementou o projeto.

 

Em abril de 2023, o projeto ganhou vida no turno da manhã, transformando completamente a dinâmica escolar. Desde a produção de materiais didáticos até as atividades recreativas no pátio, tudo foi adaptado para incluir a Libras. O resultado foi surpreendente: os alunos começaram a se comunicar em Libras, e o movimento se expandiu para além dos muros da escola, alcançando os familiares das crianças. Além disso, a turma do 5º ano do turno da tarde começou a ter aula de Libras também em 2024.

 

O projeto na prática

 

#paratodosverem:fotografia colorida de uma turma com cerca de 18 estudantes. Eles estão sentados em suas carteiras, atentos à professora, que está diante da turma e sinaliza com as mãos enquanto eles repetem.

Foto por: acervo da EM Professora Ondina Nobre.

 

O projeto contou com a participação ativa de 20 turmas 

 

 

A inclusão deixou de ser uma promessa distante para se tornar uma realidade palpável na escola. Projetos trimestrais, com apresentações de música e teatro, tudo foi feito nessa linguagem, promovendo não apenas a inclusão, mas a valorização da diversidade e a quebra de estereótipos. Além disso, a acessibilidade tornou-se uma prioridade, com a produção de um alfabeto com os sinais de Libras e a implementação de sinais em toda a escola, desde a cantina, biblioteca até a quadra e os banheiros, tudo elaborado pelos próprios alunos.

 

Jogos pedagógicos, histórias e brincadeiras durante o recreio foram conduzidos em Libras. Os projetos trimestrais, assim como as apresentações de teatro e música, foram desenvolvidos integralmente a partir dessa abordagem. Inclusive, a cantata de Natal foi apresentada nesse formato para toda a comunidade escolar.

 

#paratodosverem:fotografia colorida de uma turma com cerca de 10 estudantes. Em primeiro plano, três estudantes olham para a câmera e seguram os trabalhos produzidos. São desenhos coloridos com letras e sinais da Libras.

Foto por: acervo da EM Professora Ondina Nobre.

Os alunos desenvolveram projetos em Libras

 

Numa reviravolta surpreendente e cômica, os alunos descobriram uma abordagem única para colaborar entre si, fazendo uso da Libras como meio de comunicação durante as avaliações. A situação, embora divertida, estimulou os colegas e educadores a aprofundarem seu entendimento da linguagem.

 

O que mudou com esse projeto?

 

A inclusão deixou de ser uma ideia abstrata para se tornar uma prática diária. Afinal, como afirma a própria Alessandra: "É fazer a inclusão antes mesmo dela acontecer. É estar preparado para a inclusão." Esse processo de evolução não apenas influenciou a dinâmica educacional, mas também trouxe significativas mudanças para os alunos envolvidos. Veja a seguir alguns relatos de alunos:

 

Julia Caroline Hortelan Lima, aluna do 6º ano B, descreveu sua participação no projeto como uma experiência incrível. Ela destacou que agora consegue conversar com pessoas surdas, o que a deixa muito feliz. Julia compartilhou como uma apresentação para um projeto da escola, interpretando o tema "Família" em Libras, com a música dos Titãs, abriu diversas oportunidades. Isso incluiu a produção de dois livros: "Histórias e Memórias dos Meus Antepassados" (no 5º ano) e "Poemas por um Clique" (no 9º ano). Além disso, Julia também relatou que participar do projeto proporcionou a vivência de uma experiência marcante fora da escola. Durante um trabalho missionário em sua igreja, teve a chance de interagir com um homem surdo, aplicando tudo o que aprendeu em Libras.

 

Sarah da Silva Lana, estudante do período da tarde, ressaltou a importância de projetos similares de inclusão de Libras em outras instituições educacionais, destacando o potencial dessas iniciativas para beneficiar alunos surdos. Ela destacou que o projeto a fez enxergar as pessoas surdas de uma forma diferente, percebendo-as como pessoas incríveis.