4 December 2017 -
“Quando a cabeça é livre, ninguém nos segura.” Esta é uma das frases mais representativas do escritor Pedro Muriel Bertolini que esteve na Escola Municipal Anne Frank no dia 22 de novembro para um bate-papo com os estudantes do 8º ano.
A ida do escritor à escola foi articulada pela estagiária de História da UFMG Luíza Parreira, uma das colaboradoras do projeto História em Quadrinhos do Confisco. Para contar a história sobre a construção do bairro Confisco no formato de quadrinhos, os estudantes saíram pelas ruas do bairro entrevistando moradores - que eles chamaram de “pessoas-livro”, porque guardam em suas memórias fatos e histórias que não estão registradas em livros.
Quem melhor definiu esse conceito foi a estudante Rayane Helena, de 14 anos: "A gente está fazendo o trabalho da história do bairro. A gente quer saber mais coisas sobre o bairro e, para isso, tem as pessoas-livro. Ao invés de a gente buscar nos livros para aprender, a gente pergunta às pessoas."
Luíza Parreira explica que o escritor foi convidado para ministrar a palestra de encerramento do ano. “O Pedrão é também uma pessoa-livro, só que ao invés de contar a história do bairro, ele veio contar a sua história, despertar os estudantes sobre as possibilidades da literatura e conscientizá-los sobre a questão da acessibilidade”, disse.
Uma história de otimismo
Assim como os moradores do Confisco, Pedro tem uma história de luta diária. Portador de uma doença neurológica rara, ele é cadeirante e utiliza um aparelho, uma espécie de ventilador mecânico, que o ajuda a respirar.
Mesmo com as limitações físicas e desafios, Pedro nunca teve dificuldade de escrever, porque é isso o que ele mais gosta de fazer. Assim como a adolescente alemã de origem judaica Anne Frank escrevia, à época da Segunda Guerra, o seu diário no anexo secreto, porque nele poderia confiar os seus pensamentos mais íntimos, o escritor considera importante que cada um crie uma narrativa positiva dentro de si para melhorar sua autoestima e conseguir realizar seus sonhos. Para quem ainda não descobriu o prazer pela leitura, ele aconselha: “A leitura e a escrita são coisas maravilhosas, que trazem novas perspectivas. Se você acha que não gosta de ler, é porque ainda não encontrou o livro certo, então continue a procurar.”
Em relação ao projeto História em Quadrinhos do Confisco, o escritor não poupou elogios: “Esta escola é sensacional. Vejo poesia em tudo e o projeto do Confisco é uma poesia.”
As estudantes Ana Maria Nascimento da Silva e Vitória Ferreira da Silva, 15 e 14 anos, respectivamente, gostam de escrever sobre seus sentimentos e experiências. Motivada pela própria história de vida, Ana Maria conta que escreve um diário desde fevereiro passado. “Tenho vontade de ser escritora. Gosto de escrever como me sinto diante do que já aconteceu comigo. Achei muito legal a visita do Pedrão.”
Já Vitória Ferreira gosta de escrever frases e pensamentos sobre temas diversos e utiliza somente o WhatsApp, enviando mensagens para os amigos. “Escrevo sobre o amor, a amizade, a falsidade, mas nunca pensei em ser escritora.”
Para Luíza Parreira, o resultado da visita foi muito positiva. Presentear os estudantes do projeto com uma palestra do escritor era um grande sonho seu: “Pedro acabou conhecendo o bairro e as histórias dos moradores através dos meus relatos. Era importante para mim que ele visse com seus próprios olhos e compartilhasse do sentimento de alegria ao ver uma escola engajada na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.”
O escritor
Pedro Muriel Bertolini tem 30 anos e é bacharel em Relações Internacionais pela PUC-Minas. De empreendedor social à blogueiro tatuado, ele se autodeclara ousado e comilão. Faz viagens pelo mundo todo mostrando as facilidades e dificuldades de um cadeirante nas diversas cidades turísticas. Sua maior paixão é ler e escrever, por ser uma forma de se sentir livre, ganhar mais confiança e melhorar a autoestima.
Duas de suas poesias estão publicadas na coletânea “Magistratura em prosa e verso” (2016). Escreve poesias e crônicas sobre diversos temas na página “Cadeira Atômica do Pedrão” no Facebook, nas Revistas Sentidos e Tendência Inclusiva. “Meu maior amor é a poesia. Tudo pra mim é poesia. A poesia invade todos os espaços, é como se fosse um abraço”, diz.
Em 2017, lançou seu primeiro livro individual, “Proesia”, que é a junção das palavras prosa-proeza-poesia. “É um livro de poesias sobre a sensibilidade do ser humano, uma obra sobre as pessoas com deficiência, sobre o cotidiano. Falo dessa vontade de não ficar em casa, de partir para novas ideias, falo também sobre o amor e a esperança de dias melhores”, resume.