25 January 2021 -
“Criar um hábito é essencial para a sobrevivência humana, mas mudá-lo é muito difícil”, disse o psicólogo Paulo Henrique Jelihovschi no evento Mudança de Hábitos, promovido pela Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão, em encontro virtual na última quarta-feira, dia 20.
O evento abriu o calendário de atividades do Programa Movimenta PBH 2021. O projeto de mudanças de hábitos terá palestras sobre alimentação saudável, sessões on-line de ioga e treinamento funcional para os servidores da Prefeitura. As ações do Movimenta PBH começam em fevereiro.
Na palestra virtual, Paulo Jelihovschi falou sobre os desafios, as estratégias e as metas para alcançar uma vida mais saudável a partir de novas escolhas e novos hábitos.
“O hábito é importante em nossas vidas. Por exemplo, se eu vejo uma cobra em meu caminho, não fico pensando se ela é um réptil, se é venenosa ou algo nesse sentido. Eu corro. Isto garante nossa sobrevivência. O hábito é uma maneira usual de ser, fazer e sentir É um costume, regra e um modo permanente ou frequente de comportamento. Ele também é uma forma de economia de energia. Imagina se parássemos para pensar e analisar tudo o que fazemos no dia a dia? Às vezes, vamos no automático em situações cotidianas. Nós automatizamos as coisas para evitar gastos energéticos ou sobrecarga em nossos cérebros”, explicou o psicólogo.
Paulo falou também sobre como Daniel Kahneman, teórico da economia comportamental, explica o processamento da informação nos cérebros. “Kahneman divide o processo em dois sistemas: o Sistema 1, que é rápido, pouco reflexivo, não consciente, e atua em tarefas rotineiras e simples, como colocar uma água num copo, e o Sistema 2, que é lento, consciente, reflexivo, com tarefas que exigem esforço cognitivo, como fazer um relatório para seu chefe. Neste caso, seu cérebro vai gastar muito mais energia e exigir concentração. Então criamos hábitos, pois o cérebro não aguenta usar o sistema 2 o tempo todo. O hábito faz uso do Sistema 1. Realizamos algumas tarefas com baixa reflexão”.
O psicólogo ressaltou a importância das heurísticas e vieses de pensamento. “O cérebro, para evitar gastos de energia e facilitar nosso raciocínio, começa a simplificar a forma como a gente pensa. Kahneman propõe três heurísticas de pensamento. A primeira é a Disponibilidade: o que você vê é tudo que há. Por exemplo, vejo que uma padaria fecha ao lado da minha casa e penso que todas as padarias estão fechando também. A segunda é a Ancoragem: tomada de decisões e formação de opiniões baseadas em âncoras subjetivas, como escolher um produto mais barato no supermercado porque está ao lado de um mais caro. A terceira é a Confirmação, que é a busca de informações para confirmar uma opinião que você já tem. Isto acontece muito no cenário político e no futebol. Só que as vieses de pensamento podem nos levar a tomar decisões erradas. Na ânsia de economizar energia, posso adotar hábitos que não irão fazer bem para mim”.
Os hábitos, segundo o palestrante, surgem do estímulo, resposta e consequência. “Posso entrar numa briga contra uma pessoa bem maior do que eu. Se eu apanhar, crio o hábito de nunca mais fazer tal coisa. É uma experiência negativa. Se eu der uma resposta a um estímulo cuja consequência foi boa, tendo a repetir esta ação. Comer uma pizza é um exemplo. É prazeroso. Só que eu não posso fazer isso três vezes ao dia e muitas vezes não enxergamos isso. Não é uma construção simples. Posso acostumar a ter prazer em comer pizza toda noite. Isto se torna um hábito, no qual nem penso mais, e que vai me fazer mal”, advertiu Paulo.
Paulo ainda destacou sobre como poderiam mudar seus hábitos. “Temos que trabalhar nosso Sistema 2, refletindo sobre o que fazemos e quais são nossas manias. É importante identificar o mau hábito e perguntar por que faço o que faço. Quando eu início esse hábito? Quais estímulos estão associados a ele? O que eu ganho de recompensa ao fazê-lo? O quanto de controle eu tenho sobre esse hábito? Ele me parece ser compulsivo? Eu preciso de ajuda para mudar o hábito? O primordial é o foco para mudar a atitude. O hábito levou tempo para ser criado, então mudá-lo é muito difícil”.
De acordo com o psicólogo, nosso cérebro pode nos sabotar durante a tentativa de mudança. Ele pode nos levar a continuar pedindo pizza, alegando que esta é a última, num processo que nunca termina. Segundo ele, temos que ter a mente aberta, para evitar julgamentos, o coração aberto, para vencermos o preconceito, e a vontade aberta para transformarmos nossos medos. “O maior desafio do indivíduo é trocar a pequena recompensa de curto prazo por uma grande recompensa de longo prazo”, disse.