31 March 2025 -
A mostra de filmes “Memórias da Ditadura” chega ao Cine Santa Tereza com o intuito de preservar a memória coletiva e refletir sobre um dos períodos mais sombrios da história do Brasil. Com estreia nesta terça-feira (1º), data que marca os 61 anos do golpe que deu início à ditadura militar, a mostra traz, até domingo (6), registros documentais raros, filmes baseados em fatos reais e outras obras que destacam os efeitos da violência institucionalizada. Um dos destaques é a exibição de filmes raros gravados ainda durante o período de repressão, incluindo depoimentos como o de Eunice Paiva, cuja história ganhou destaque internacional com o filme vencedor do Oscar “Ainda Estou Aqui”. A mostra tem ingressos gratuitos, que podem ser retirados na plataforma Sympla ou na bilheteira do cinema, 30 minutos antes de cada sessão.
A programação começa com o documentário “Retratos de identificação” (dir. Anita Leandro, 2014), que conta a história de Dora e seus companheiros de resistência ao regime militar, por meio de fotografias e documentos de suas respectivas prisões e subsequentes episódios de tortura. Na quarta-feira (2), será exibido “Os dias com ele” (Dir. Maria Clara Escobar, 2013), um documentário em que a cineasta mergulha nas memórias do pai, com quem conviveu pouco, após ele ter se exilado para escapar das ameaças de prisão e violência sofridas durante a Ditadura.
Em “Vlado, trinta anos depois” (Dir. João Batista de Andrade, 2005), a história do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nas instalações do DOI-CODI, em 1975, é contada por meio de depoimentos de pessoas próximas a ele. O documentário será exibido na quinta-feira (3). Flávia Castro, diretora de “Diário de uma busca” (2010), documentário em cartaz na sexta-feira (4), reconstitui os passos do pai Celso Afonso Gay, exilado político e morto, em 1984, em um crime misterioso.
Zuzu Angel, Eunice Paiva e outras mulheres que resistiram
Para encerrar a mostra, no dia 6, o Cine Santa Tereza dedica uma sessão dupla, com o longa “Zuzu Angel” (Dir. Sérgio Rezende, 2006), seguido das exibições dos curtas “Eunice, Clarice, Thereza” (Dir. Joatan Vilela Berbel, 1979) e “Santo e Jesus, Metalúrgicos” (Cláudio Kahns e Paulo Sérgio Ferraz, 1983).
“Zuzu Angel” é baseado na história real da estilista mineira Zuleika Angel Jones (1921-1976), que, mesmo nunca tendo sido militante política, teve sua vida transformada depois que seu filho foi preso em 1971 e desapareceu, para nunca mais ser visto.
Filmado durante a ditadura militar, o recém-restaurado “Eunice, Clarice, Thereza” reúne depoimentos emocionantes de três mulheres que perderam seus maridos para o regime. Eunice Paiva era casada com o engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva, que foi levado de sua casa em 1971 e nunca mais retornou. A história de Eunice, que enfrentou tortura psicológica enquanto lutava pela verdade e ainda criava seus cinco filhos, tocou o coração do mundo, sendo retratada no livro “Ainda Estou Aqui” de Marcelo Rubens Paiva, que serviu de base para o roteiro do filme homônimo, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional.
Clarice Herzog também teve o depoimento registrado no documentário. Ela é viúva do jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado pelos militares no DOI-CODI, em um dos casos mais emblemáticos da repressão. Apesar dos militares tentarem esconder o crime alegando suicídio, foi a incansável luta de Clarice que levou à reabertura do caso e ao reconhecimento da verdade. Outra mulher que teve a história gravada foi Thereza Fiel, esposa de Manoel Fiel Filho, metalúrgico assassinado sob tortura pelos militares em 1976, em um crime que chamou a atenção por suas semelhanças com o caso Herzog. Thereza, assim como Eunice e Clarice, enfrentou a dor da perda e a luta pela justiça, tornando-se também uma voz forte contra a repressão e em defesa da memória do marido.
O movimento operário também foi duramente atingido pela ditadura militar, e Manoel Fiel Filho não foi o único metalúrgico a ser vítima da violência do regime. Fechando a mostra, o curta “Santo e Jesus, Metalúrgicos” faz um elo entre essas tragédias e retrata os assassinatos dos operários Nelson Pereira de Jesus e Santo Dias.
A mostra "Memórias da Ditadura" reúne relatos diretos e pessoais sobre a repressão de forma íntima, expondo o impacto humano da violência autoritária e destacando as histórias de resistência e coragem de personagens reais que lutaram pela verdade e pela democracia.
Serviço
Mostra: “Memórias da Ditadura”
Data: De 1 a 6 de abril de 2025
Ingressos: gratuitos, com retirada na plataforma Sympla, conforme disponibilidade
Local: Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89 - Santa Tereza)