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Mais de 300 pessoas, a maioria de branco e azul com turbante na cabeça e com um estardarte de Iemanjá, confraternizam na orla da Lagoa da Pampulha, à noite.
Foto: Ricardo Laf/PBH

Festas de Iemanjá e dos Pretos Velhos foram reconhecidas como patrimônio de BH

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O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte aprovou com unanimidade o registro imaterial da Festa de Iemanjá e da Festa dos Pretos Velhos. A decisão foi tomada nesta quarta-feira, dia 16, em reunião extraordinária no Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira, após análise dos dossiês de tombamento.
 

Na mesma data, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, inaugurou a exposição “FÉSTEJOS – O Sagrado afro indígena nas ruas da cidade”, que pretende promover, valorizar e salvaguardar as manifestações culturais dos povos tradicionais da cidade.

 

O reconhecimento atende a uma solicitação de representantes das comunidades tradicionais de matrizes africanas e afro-brasileiras encaminhado ao Conselho em 2017. Com a aprovação, as duas festas serão reconhecidas oficialmente como patrimônio cultural da cidade, integrando a lista de bens culturais que contam com a colaboração do poder público para sua salvaguarda e continuidade histórica.

 

Para Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura, o Brasil tem em sua formação histórica e cultural a presença, em todos os aspectos da vida, da herança afro, indígena e portuguesa. Sem falar nas muitas contribuições de libaneses, alemães, italianos, latino-americanos de várias nações. “É sobre essa diversidade cultural que nosso país se constituiu e foi construído e aí reside nossa maior riqueza. Essa memória viva que atravessa a vida brasileira, desde a língua portuguesa que falamos, as diversas gastronomias existentes nos quatro cantos do País e o cotidiano com seus saberes e fazeres da nossa gente. No campo do sagrado, temos o aporte de todas essas matrizes culturais e é um espaço vital da nossa singularidade como povo. O registro do patrimônio imaterial da Festa de Iemanjá e da Festa dos Pretos Velhos reforça o esforço da Prefeitura de Belo Horizonte para valorizar, preservar e promover o nosso patrimônio e a cultura popular da cidade. E a exposição FÉSTEJOS retrata a força dessa tradição”, completa.

 

 

Festa de Pretos Velhos

Desde 1982, nos meses de maio, em meio aos prédios residências do bairro Silveira, a praça Treze de Maio abriga anualmente o culto aos Pretos Velhos e Pretas Velhas, ancestrais guias da Umbanda. Os Pretos Velhos e Pretas Velhas, entidades mais populares da Umbanda, guardam relação direta com a África e com o passado escravagista brasileiro. São ancestrais negros, homens e mulheres idosos, que vivenciaram a escravização com toda a sua violência no ‘novo mundo’. A maturidade, experiência espiritual e a sabedoria desses ancestrais estão vinculadas à caridade, simplicidade, humildade e paciência. A Festa de Pretos Velhos reúne centenas de afro-religiosos que vão louvar seus ancestrais e pessoas que buscam atendimento nas dezenas de terreiros, das várias partes da cidade e região metropolitana que fazem parte do festejo.

 

 

Festa de Iemanjá

Realizada anualmente desde 1953, a Festa de Iemanjá possui uma relevância histórica para os adeptos das celebrações do Sagrado afro-brasileiro na capital mineira. Cerimônia de grande importância para os adeptos do Candomblé e da Umbanda, revela o sagrado no espaço urbano. Próximo à Praça Dalva Simão - que compõe conjunto moderno da Lagoa da Pampulha, reconhecido, em 2016, pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade - a Festa reverencia a orixá Iemanjá, à água, pela qual a vida flui e se faz caminho. O projeto original do Conjunto Moderno da Pampulha, inaugurado na década de 1940, não previa um espaço para manifestações do sagrado das religiões de matriz africana. A ocupação e a permanência dos adeptos da Umbanda e do Candomblé, há quase seis décadas, atribuíram novos sentidos e significados para um espaço tradicional da cidade contribuindo para uma apropriação plural e democrática do espaço público.

 

 

Manifestações culturais ganham destaque em nova exposição

A exposição “FÉSTEJOS - O Sagrado afro indígena nas ruas da cidade” convida o público a conhecer os festejos mais tradicionais da cidade com fotografias de Ricardo Laf, a mostra registra o que há de comum nas celebrações e entre os Povos de Tradição em Belo Horizonte. As lentes de Laf capturaram dos elementos reverenciados como a água, o fogo, a terra, o alimento aos momentos singelos, de puro afeto, de comunhão, fraternidade, solidariedade, devoção ao sagrado, cuidado com os mais novos, respeito aos mais velhos, cuidado com a cidade, levando os observadores a uma imersão profunda nos FÉSTEJOS.  

 

A exposição constitui-se como uma ação de divulgação, valorização e salvaguarda dos bens culturais de Belo Horizonte. Fruto da confluência das heranças africanas e indígenas e expressão da devoção ao Sagrado, a Festa, a Celebração, é um ponto comum entre os bens culturais (as Festas de Iemanjá e de Pretos Velhos) e as Comunidades Tradicionais afrodescendentes (os quilombos Luízes, Mangueiras e Manzo Ngunzo Kaiango; o Terreiro de Candomblé Ilê Wopo Olojukan e a Irmandade Nossa Senhora do Rosário do Jatobá) já reconhecidos como patrimônio cultural da cidade de Belo Horizonte.

 

De acordo com Françoise Jean, diretora de Patrimônio Cultural e Arquivo Público, os festejos retratados pela exposição possuem uma importância simbólica e política imensa, justamente por se constituírem como acontecimentos públicos. “Ao ganharem as ruas de Belo Horizonte, dando visibilidade às celebrações indígenas e de matriz africana, ressignificando os espaços públicos da capital, esses FÉSTEJOS assumem grande dimensão afirmativa e educativa, expressando o direito à cidade pelas diversas culturas e povos e, em particular, por aqueles historicamente à margem das políticas públicas e do acesso aos direitos fundamentais”, afirma.

 

A exposição “FÉSTEJOS - O Sagrado afro indígena nas ruas da cidade” fica em cartaz no Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira (avenida Antônio Carlos, 821 - Mercado da Lagoinha) até o dia 31 de dezembro 2019, e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. A entrada é gratuita.