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FAN-BH 2023 conecta tradições ancestrais e a atualidade a projeções futurísticas
Arte/PBH

Edição do FAN-BH 2023 começa na próxima segunda-feira (23) na capital

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A partir de um pensamento que une passado, presente e futuro, e da conexão entre as tradições ancestrais e visões futurísticas, o conceito do FAN BH 2023 busca compreender e refletir sobre a realidade atual. Com esta Tríade Temporal e tendo a trança como símbolo, a 12ª Edição do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte, que acontecerá entre os dias 23 e 29 de outubro, traz uma experiência cultural única que valoriza a riqueza da identidade afro-brasileira. Para a abertura, nesta segunda-feira (23), a partir das 17h30, o FAN BH terá três cortejos, partindo de vários pontos do Centro da capital até o Parque Municipal, além de show do Chico César para encerrar a primeira noite do festival.

Realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, em parceria com o Instituto Lumiar, selecionado a partir de chamamento público, celebrando a união do Poder Público e da Organização da Sociedade Civil, o FAN BH 2023 apresenta uma programação gratuita com mais de 100 atrações, repleta de shows, espetáculos teatrais e de dança, sessões de cinema, oficinas, rodas de conversa, residência artística e exposições. Em breve, será divulgada a programação completa.

Um dos destaques da programação do Festival será a roda de conversa aberta ao público com a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, com o tema "Futuros Desejáveis, Caminhos Possíveis: reflexões sobre cultura preta, tecnologias ancestrais, cidadania e reparação histórica". A ministra também vai participar de um bate-papo, reservado apenas para convidados, com representantes de Quilombos Urbanos.

Iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultural, o FAN BH 2023 terá como palco principal o Parque Municipal Américo Renê Giannetti, mas, buscando também descentralizar as atividades, o evento ocupará outros espaços, como o Viaduto das Artes, no Barreiro, o Cine Santa Tereza e o Teatro Raul Belém Machado, no bairro Alípio de Melo.

Cortejos multilinguagens abrem programação

Para a abertura, nesta segunda-feira (23), a partir das 17h30, o FAN BH terá início com três Cortejos Multilinguagens, iniciando de vários pontos do Centro da cidade, que irão se encontrar no Parque Municipal. Um deles será a Guarda de Congado Reizado 13 de Maio, que sairá do Largo do Rosário, em Lourdes (Rua da Bahia com Rua Timbiras). Da Praça 7 e da Praça da Estação sairão, respectivamente, os blocos afro do carnaval de Belo Horizonte Angola Janga e o Tambolelê. Todos os cortejos serão recepcionados pelo Bloco Afoxé Ilê Odara, um dos mais antigos da capital mineira. Completando a programação de abertura no Parque Municipal, a cantora, compositora e tamborzeira Maíra Baldaia fará um Pocket Show. E, para encerrar a noite de abertura do FAN 2023, o convidado é o cantor e compositor paraibano, Chico César.

A tríade temporal, conceito que norteia o Festival, também se faz presente na programação quando se tem Fundo de Quintal, Virgínia Rodrigues, MV Bill e Major RD em um mesmo evento, possibilitando que gerações diferentes da cultura negra possam se aquilombar e celebrar. 

Rap, grafite, B.boy e Dj: os quatro elementos do Hip Hop também estarão presentes na 12ª edição do FAN BH 2023 que abre espaço para as celebrações dos 50 anos do gênero. Diversas atividades ligadas ao Hip Hop serão realizadas durante a programação e, uma delas, é a exibição a céu aberto do documentário “Racionais Mcs: das Ruas de São Paulo pro Mundo” (disponível na plataforma de streaming Netflix), que acontecerá no Viaduto das Artes, no Barreiro. Também será lançado no Festival um selo em comemoração aos 50 anos do Hip Hop no mundo e 40 anos do Hip Hop no Brasil, atividade que integra ações da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura sobre o tema. Ainda em clima de comemoração, o FAN BH 2023 celebra o aniversário de 40 anos do Baile da Saudade, com uma programação que exalta a potência do Soul.

Para a secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, “o FAN BH é um festival que apresenta, resgata e difunde diversas manifestações de matriz africana e reúne um recorte significativo da riqueza cultural existente em Belo Horizonte, no Brasil e em outros lugares do mundo. “Exatamente por representar essa potência cultural e artística, o FAN BH enquanto política pública municipal de cultura é fundamental para a formação de público, além de fortalecer o setor artístico e cultural da cidade”, destaca.

De acordo com Luciana Féres, presidente da Fundação Municipal de Cultura, diferente da última edição pós-pandemia e, portanto, ainda com muita cautela e protocolos, este ano o evento é uma celebração ainda mais intensa do encontro com a cidade. “Teremos uma programação multilinguagens, que reflete a pluralidade da cultura e das artes negras. É um festival que fortalece a importância da cultura para a construção de uma sociedade antirracista e um compromisso da política pública em cumprir o papel de fortalecer e promover as identidades culturais de matrizes africanas”, pontua.

O FAN BH completa 28 anos em 2023 e o evento bienal está em sua 12ª edição. De todas essas edições, a professora, escritora, doutora em letras e uma das integrantes da comissão artística do evento, Rosália Diogo, participou de quatro delas como curadora, mas acompanha o Festival desde seu início, em 1995. Segundo ela, o ano de 2023 é mais um para consolidar o evento que celebra a cultura de matriz africana na capital mineira. “O FAN BH, depois de muita luta da comunidade negra, de pessoas interessadas em promover a nossa arte, alcançou o seu lugar de uma política de Estado, executada pelo município e realizada a cada dois anos", celebra.

A tríade temporal: um entrelaçar de passado, presente e futuro

O tema central do FAN BH 2023 é a Tríade Temporal, conceito que norteia a construção do Festival, atuando como uma ponte entre as tradições ancestrais e as visões futurísticas, tudo em busca de uma compreensão mais profunda do presente. O evento desempenha o papel de catalisador dessa encruzilhada, provocando reflexões profundas sobre território, cultura e políticas públicas.

A 12ª edição do Festival traz o pequeno Luan Manzo como mestrinho de cerimônia da abertura do evento e, pensando nos pequenos, o FAN disponibilizará uma programação direcionada ao público infantil. O Fanzinho contará com apresentação de teatro, oficina de trança nagô e sessões de cinema com obras que exaltam a comunidade negra e sua ancestralidade. Um dos filmes a ser exibidos é o curta-metragem “Olhos de Erê”, do próprio Luan Manzo, que fala sobre a história de um menino quilombola, criado em um terreiro de candomblé.

No cerne dessa temática também se encontra a trança, um dos maiores símbolos da cultura africana. Mais do que uma manifestação estética, a trança representa uma ferramenta de sobrevivência que remonta aos tempos da escravidão, servindo como uma tecnologia ancestral que permitiu a preservação da cultura e da identidade negra.

Isaura Paulino, uma das fundadoras da Ubuntu Produções, responsável pela produção do Festival, ressalta a importância do tema deste ano para a comunidade negra e a significância do conceito para esse evento multilinguagens e de programação diversa, como é o FAN BH. “Para o povo preto, a trança é uma tecnologia. Dos símbolos mais potentes que atravessam a nossa cultura, a trança é um saber ancestral transmitido de geração em geração. E, para além da estética, esse elemento fala muito sobre a resistência e a sobrevivência do povo preto. Ter a trança como tema central do FAN BH - esse que é o maior festival multilinguagem de arte negra da América Latina - foi uma escolha consciente, pensada a partir da força e beleza desse conjunto uno e potente, formado a partir da união de 3 fios, 3 tempos, 3 conceitos”, comemora.

Aquilombamento de gerações: Sankofa, Afrofuturismo e Ubuntu

O FAN BH 2023 tem também como missão lembrar às crianças e jovens negros sobre o valor do Sankofa, conectando-os com suas raízes e história. Simultaneamente, busca apresentar o Afrofuturismo às gerações mais velhas, demonstrando como as novas tendências e tecnologias ancestrais podem ser usadas para se reinventar e permanecer vibrante. O festival encarna a filosofia Ubuntu, enfatizando que "eu sou porque nós somos".

Sankofa: Este termo provém da língua Akan, falada em Gana e Costa do Marfim. O símbolo Sankofa é representado por um pássaro com a cabeça voltada para trás, buscando um ovo em suas costas. Esse conceito simboliza a ideia de voltar ao passado para buscar conhecimento e sabedoria, reconhecendo que nossa história e tradições são fundamentais para nosso futuro. No contexto do FAN BH 2023, o Sankofa é um chamado às novas gerações para que se reconectem com as raízes culturais e históricas.

Afrofuturismo: O Afrofuturismo é um movimento cultural, artístico e filosófico que combina elementos da cultura africana e da ficção científica, visando imaginar um futuro inovador e positivo para as comunidades negras. Este movimento investiga a diáspora africana e a identidade negra em um contexto futurista, muitas vezes, questionando identidade, pertencimento e tecnologia. No FAN BH 2023, o Afrofuturismo é uma maneira de empregar a criatividade e a imaginação para construir um futuro mais brilhante, mantendo-se conectado às raízes culturais.

Ubuntu: Ubuntu é uma filosofia africana que enfatiza a importância da comunidade, da interconexão e da empatia. A palavra "ubuntu" significa "eu sou porque nós somos", destacando a ideia de que nossa própria existência está intrinsecamente ligada à dos outros. No contexto do FAN BH 2023, o Ubuntu é um chamado para a solidariedade, a colaboração e o apoio mútuo, promovendo um senso de unidade e pertencimento na celebração da cultura afro-brasileira.

Curadoria: diversidade de saberes

A programação do FAN BH 2023, foi pensada pela comissão artística do Festival, composta por duas representantes do poder público: Rosália Diogo, Coordenadora do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado - CRCP, e Vanessa Santos, Coordenadora do Cine Santa Tereza; e pelas gestoras culturais da Ubuntu Produções, representantes da sociedade civil, Isaura Paulino e Ana Paula Paulino.

Uma equipe composta por sete Curadores de diversas áreas, também garantiu uma abordagem multidisciplinar para enriquecer o evento e a programação. Entre os curadores estão nomes como Ana Pi, pesquisadora de danças urbanas e dançarina contemporânea; Glaw Nader, pianista, cantora e produtora; Tatiana Carvalho, curadora e consultora de cinema e audiovisual; Douglas Din, rapper renomado; Wanatta Aruanã, arte educador, produtor cultural e grafiteiro; Maria Aparecida Moura, professora da UFMG; além de Pai Ricardo, Sacerdote da Casa Pai Jacob do Oriente. 

Douglas Din destaca: "O processo de pesquisa foi intenso e enriquecedor, tanto para construirmos a programação, quanto para ampliarmos a visão sobre a riqueza das artes negras de Belo Horizonte e do Brasil. Acredito que vamos celebrar esse momento com alegria e abertura para absorver a riqueza desses dias".

Para Ana Pi, integrar a equipe de curadoria do FAN BH em 2023 é um exercício de grande responsabilidade: "O festival, desde a primeira edição, em 1995, nos colocou diante da força que as artes negras têm e o rigor que se deve ter ao convidá-las para dentro de qualquer espaço institucional. Este ano, o FAN BH, assim como todos os eventos de arte e cultura do país, se reposiciona diante de um outro contexto político e sanitário. E dentro da equipe estamos tramando a partir destes pontos que são muito concretos, para apresentar para a cidade um evento que seja vibrante, saudável e que aponte para muitos modos de continuarmos nossas tradições e perspectivas negras de arte".

A pesquisadora de danças urbanas e dançarina contemporânea também destaca sua preocupação em expandir o território e estabelecer diálogos que sejam profundamente diversos dentro do que é a diáspora, tanto no tempo quanto no espaço.

Seleção residência artística "Coração Tambor"

Em um diálogo entre passado, presente e futuro da cultura afro-brasileira, um elemento fundamental se destaca no FAN BH: o Tambor. A Residência "Coração Tambor" tem como missão unir diferentes gerações e linguagens, tecendo as narrativas e memórias que o tambor carrega. A residência pré-selecionou 10 artistas para um programa coletivo de quatro dias, orientados por especialistas em diversas áreas artísticas. O produto dessa experiência será uma performance compartilhada com o público durante a 12ª edição do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte.

Ojá – Mercado das Culturas

O Ojá será realizado entre os dias 26 e 29 de outubro, no Parque Municipal. Nos dias 26 e 27, os afroempreendedores vão expor seus produtos. Com origem na palavra Yorubá, que significa “Mercado”, o Ojá é reconhecido como um espaço de movimentação da Economia Criativa no Festival de Arte Negra de Belo Horizonte, que promove a circulação de recursos, a realização de encontros e a troca de ideias e afetos. Também tem como objetivo destacar o trabalho de empreendedoras e empreendedores pretos de BH e Região Metropolitana, criando uma Rede de novos negócios e oportunidades.

Sobre o FAN

O Festival de Arte Negra de Belo Horizonte – FAN BH é realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, em parceria com uma Organização da Sociedade Civil (OSC), selecionada por meio de Chamamento Público, com o propósito de valorizar e difundir a arte de matriz africana na capital mineira. Desde sua criação, em 1995, o FAN BH tem se consolidado como um importante fórum de encontro e intercâmbio entre artistas locais, nacionais e internacionais para compartilhar ideias, processos artísticos e resultados da Arte Negra. Importante também ressaltar que o caráter internacional da programação do Festival garante à Prefeitura o relevante destaque na realização de eventos mundiais com esta temática.

Com periodicidade bienal, o Festival compreende uma ampla programação cultural, marcada pela diversidade de linguagens artísticas e pela participação de artistas, grupos e pesquisadores da arte e da cultura negra. As referências do FAN BH articulam as raízes ancestrais dessa cultura às expressões da contemporaneidade.

Um grande fluxo criativo e formativo toma conta dos participantes, estimulando a continuidade dos trabalhos a partir de oficinas, apresentações artísticas e encontros informais em vários Centros Culturais, Teatros e no Ojá (“Mercado”, em Yorubá).

Como política pública da Prefeitura de Belo Horizonte, de acesso, formação, democratização e descentralização, o FAN BH atua como importante instrumento de valorização de manifestações artísticas diversas e cumpre o papel de promover o fortalecimento das identidades culturais de matrizes africanas.

Serviço:

12ª Edição do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte - FAN BH 2023


Data: De 23 a 29 de outubro de 2023

Locais: Parque Municipal e diversos espaços populares de Belo Horizonte

Entrada franca, sujeita à lotação máxima dos espaços.