29 June 2020 -
Com a suspensão da coleta seletiva em Belo Horizonte, devido à pandemia do novo Coronavírus, o número de garrafas descartadas no lixo comum aumentou. Mas, antes de jogar as garrafas e outros objetos cortantes no lixo, a população deve tomar alguns cuidados, pois o risco dos garis se acidentarem é grande. A maioria dos acidentes de trabalho com os garis tem relação direta com o mau acondicionamento do lixo. Mesmo com o uso dos equipamentos de proteção, como uniformes, luvas e calçados apropriados, somente em 2019, 146 garis foram afastados de suas atividades por ferimentos causados por cacos de vidro, seringas e pregos, entre outros.
A orientação da SLU é que materiais pontiagudos ou cortantes (vidro, latas de alimentos em conserva, estiletes, pregos, espetos de churrasco, lâminas e agulhas) devem ser acondicionados em garrafas PET, embalagens Tetra Pak (longa vida) ou embrulhados em papelão ou outro material resistente. Além disso, agulhas devem ser protegidas por suas respectivas tampinhas para aumentar o grau de segurança. As tampas das latas de alumínio devem ser pressionadas para dentro. Somente depois disso, estes resíduos devem ser ensacados e disponibilizados para o recolhimento na calçada.
O gari Rafael Bruno Rodrigues, 38 anos, que é coletor de lixo na região Nordeste de Belo Horizonte, já passou por maus momentos devido a acidentes com objetos pontiagudos durante seu trabalho. “Já fui ferido com seringa, vidro, espeto de churrasco e até palito de dente e espinho de roseira”, conta. Para ele os acidentes causados por seringa são sempre os mais graves. “Quando isso acontece, precisamos de atendimento muito rápido e passar por muitos exames, além de tomar coquetel retroviral por 28 dias, que provoca muitos efeitos colaterais”, afirma.
A questão preocupa tanto Rafael que ele se propôs a desenvolver um projeto socioambiental e de conscientização a respeito do assunto. O gari, que também é estudante de Enfermagem, pretende produzir cartilhas educativas sobre o correto descarte do lixo e conversar com moradores e síndicos sobre o assunto. Palestras para estudantes de cinco a 10 anos de idade também estão nos planos. “É essencial ensinar às crianças a forma correta de descartar, para que daqui a uns 15 anos a gente tenha uma situação diferente”, acredita.
De acordo com ele, o projeto será colocado em prática quando a pandemia passar. “A população gosta do gari e vai entender melhor o nosso lado se nós mesmos explicarmos”, diz. Para a chefe do Departamento de Políticas Sociais e de Mobilização da SLU, Ana Paula Assunção, a iniciativa de Rafael é bem-vinda. “O gari, além de ser um agente da limpeza urbana, tem muito a nos ensinar sobre educação ambiental. Toda atitude que visa a conscientização da população nas questões dos resíduos sólidos deve ser incentivada”, diz.
No momento, enquanto o distanciamento é a regra, Rafael atua conscientizando nas redes sociais, produzindo vídeos e lives no Instagram sobre o dia a dia do gari. O descarte correto dos resíduos e sua relação com os acidentes de trabalho é um dos temas frequentemente abordados para seus mais de 8 mil seguidores. A mensagem que procura transmitir é: tenha empatia, pense no outro. “É o que precisamos nestes tempos de pandemia: amor ao próximo, reciprocidade e humildade”, garante.