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Acampamento cigano
Foto: João Borges

Circuito Municipal de Cultura traz mostra on-line dedicada à cultura cigana

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O Brasil conta com uma enorme população cigana, dividida em diferentes etnias e rica em cultura e saberes. Ainda assim, pouca gente no país conhece a história desses povos, presentes também no estado de Minas Gerais. Com o objetivo de resgatar memórias e jogar luz sobre a potência da cultura cigana, o Circuito Municipal de Cultura realiza, entre os dias 7 e 10 de abril, a Mostra Cigana. Totalmente gratuita e on-line, a programação contará com exibições inéditas de um bate-papo e de duas pílulas audiovisuais sobre o tema. O Circuito Municipal de Cultura é realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e pela Fundação Municipal de Cultura (FMC), em parceria com o Centro de Intercâmbio e Referência Cultural (CIRC). 

 

A Mostra Cigana terá início com o bate-papo “Conversa de Barraca: História e Cultura dos Povos Ciganos no Brasil e Minas Gerais”, que será exibido nesta quarta-feira, dia 7, às 19h, no YouTube da Fundação Municipal de Cultura, no Facebook e no site do Circuito. Trata-se de uma conversa entre a liderança cigana Valdinalva Caldas (Nalva Cigana) e a historiadora Alenice Baeta, mediado pela antropóloga Juliana Campos, que irá abordar a história da chegada dos povos ciganos no Brasil e as singularidades que constituem o modo de vida. 

 

A Região Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, possui inúmeros acampamentos ciganos permanentes, sendo três deles regularizados como territórios tradicionais de comunidades Calon - etnia de Nalva Cigana, que é vice-presidente da Associação Estadual Cultural de Direitos e Defesa dos Povos Ciganos. 

 

Mestre e doutora em antropologia pela UFMG, Juliana Campos trabalha há oito anos com povos ciganos da etnia Calon em Minas Gerais, pesquisando temas como territorialidade, parentesco e ativismo feminino. A pesquisadora ressalta o quão intensa é a presença da comunidade cigana em BH e na Região Metropolitana. 

 

“É muito importante que as pessoas tenham mais conhecimento sobre os ciganos. Muita gente nem sabe sobre a presença desses povos na cidade, que ainda sofrem muito preconceito por conta de estereótipos”, afirma Campos, ressaltando que a cultura cigana também tem acompanhado as transformações da sociedade. "Hoje, por exemplo, a cena musical Calon é sobretudo movimentada pelos meios virtuais, principalmente pelo Whatsapp. Músicos de outros estados fazem canções e ‘parentes’ de vários acampamentos as distribuem pela rede". 

 

A programação da Mostra segue com duas pílulas audiovisuais assinadas pelo diretor de cinema e roteirista mineiro João Borges, que serão exibidas nos dias 8 e 10, sempre às 18h, no YouTube da Fundação Municipal de Cultura, no Facebook e no site do Circuito. Os vídeos abordam diferentes aspectos da cultura cigana: o primeiro, “Tradições”, enfoca a memória, o futuro e a relação com a morte, e o segundo, “Festa de Casamento”, trata o ritual sagrado da cultura cigana. 

 

“Venho pesquisando as comunidades ciganas da etnia Calon há mais de cinco anos. Nesse período, fiz várias imersões nos acampamentos, registrando o cotidiano, as festas, as lutas e fazendo entrevistas”, afirma o cineasta. As imagens foram gravadas no período anterior à pandemia, entre 2017 e fevereiro de 2020. 

 

Para João Borges, os ciganos vêm passando por uma grande transformação cultural nos últimos 20 anos, deixando a itinerância e tornando-se sedentários. “Os ciganos são parte fundamental do caldeirão cultural que compõe a sociedade brasileira. Temos uma visão romântica desta cultura, além de uma série de preconceitos e mitos que habitam o imaginário coletivo da sociedade brasileira. Portanto, a iniciativa do Circuito Municipal de Cultura é fundamental para dar visibilidade aos povos ciganos e na luta contra a ciganofobia”.  

 

“O Circuito Municipal de Cultura é um projeto que valoriza e promove a programação cultural na cidade de Belo Horizonte, pautado na política de acesso, democratização e diversidade cultural do município. Sendo assim, apresentar aspectos da cultura cigana é fundamental para o reconhecimento do direito e da dimensão simbólica da cultura, garantindo o acesso a todos”, ressalta Aline Vila Real, diretora de promoção das artes da Fundação Municipal de Cultura.