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A aposentada Ieda Carvalho, de 64 anos, moradora do bairro São Tomaz, sentada em uma mesa de xadrez
Foto: Ricardo Laf/PBH

BH em Pauta: Café com Lorota

criado em - atualizado em

Atividade de memória, identidade e patrimônio cultural, o Café com Lorota é uma atração mensal do Centro Cultural São Bernardo (CCSB), o primeiro centro cultural inaugurado da rede de 17 mantidos em todas as regionais da capital pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura. Narrativas protagonizadas pelos próprios moradores do bairro e do entorno são uma forma de resgatar a história e os ‘causos’ locais.
 

O Café com Lorota é um café comunitário, no qual temas concernentes à memória dos territórios do entorno do CCSB são debatidos e compartilhados entre os presentes, em meio a iniciativas artísticas que deixam o ambiente ainda mais rico e atrativo.
 

Segundo Léo Dias, gerente do CCSB, o Café com Lorota começou como uma atividade de memória e patrimônio voltada para o público idoso, contudo, tornou-se um verdadeiro encontro entre gerações. Dias ressalta o vulto surpreendente que atração tomou. 
 

“A atividade já é um dos principais eventos da agenda de programação. A comunidade está participando ativamente, trazendo cada vez mais agentes que compartilham suas memórias relacionadas à região”, celebra.
 

Para cada edição, um tema é sorteado para a próxima. Dessa forma, assuntos e acontecimentos cruciais para os moradores entram em pauta, como o Torneirão, local em que os moradores buscavam água antes de ter o serviço encanado; o córrego que corta o bairro, onde às margens viviam inúmeras famílias que tiveram que ser removidas; as olarias que empregavam muitos trabalhadores, e que usavam os pedaços de tijolos que quebravam e eram descartados para a construção de suas casas; além de histórias de famílias, resgate de cantigas e de brincadeiras.
 

A aposentada Ieda Carvalho, de 64 anos, moradora do bairro São Tomaz, integrante do grupo Rosas do São Bernardo, relembra o início do projeto. “Minha tia Conceição acabou de fazer 100 anos no dia 10 de maio, é uma mulher muito lúcida, canta, conta histórias dos moradores antigos, relembra fatos. Como não queria que essa memória de um século se perdesse, junto ao Centro Cultural São Bernardo, que frequento desde 2008 participando de várias atividades, tivemos a ideia de nos reunirmos em uma mesa de café para ouvir essas histórias”. 
 

Dona Conceição Pereira Bruno esteve então no primeiro encontro, que despertou muito interesse, e, a partir daí, juntaram-se a ela outros moradores antigos, que foram contando também suas histórias. Nas primeiras edições, convidados especiais se juntaram ao projeto para também compartilhar as memórias, como o referencial Mestre Conga.
 

Para Ieda, o mais impressionante é a forma como o projeto foi bem recebido. “A primeira coisa que me surpreendeu foi a forma como o projeto foi abraçado pelos moradores, pela comunidade. Acho de extrema importância resgatar essas histórias, memórias e vivências desses moradores, do bairro e do seu entorno”, ressalta.
 

De acordo com Leo Dias, ações como o Café com Lorota sempre são bem aceitas na comunidade do São Bernardo. "Através de ações desenvolvidas desde 2010, como o projeto Memórias da Vila, nossos frequentadores perceberam que não são meros objetos da história, mas sim agentes transformadores, protagonistas da formação social e cultural de seu bairro e de sua cidade. Causos e histórias despretensiosas, vistas como ingênuas por ouvidos distraídos, acabam por revelar a formação da cidade de Belo Horizonte por um viés muito interessante, o não oficial, privilégio que só a oralidade pode proporcionar", comenta.

 

Mesa compartilhada

O Café com Lorota foi crescendo a cada edição e hoje já conta com a participação de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos em turmas de cerca de 50 pessoas a cada reunião. O Rosas do São Bernardo abre o evento com músicas e causos, incentivando os participantes à fala, sempre conduzida e contextualizada pela equipe, a partir dos temas escolhidos.
 

Uma mesa compartilhada dá todo o charme e o aconchego ao evento, já que são os próprios moradores junto com a equipe do centro cultural que levam de casa os petiscos que serão degustados, em um cardápio formado pela chamada “comida da roça”: fubá suado, torresmo, biscoito frito, biscoito de polvilho, broa, caldo de feijão, caldo de mandioca, canjica, canjiquinha, entre outras guloseimas.
 

O Centro Cultural São Bernardo fica na Rua Edna Quintel, 320, no bairro São Bernardo. A entrada é gratuita. Mais informações sobre o Café com Lorota e a programação do local pelo telefone 3277-7416.