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Bibliotecária cadeirante dá lições de meio ambiente a mais de dez alunos.
Foto: Janete Ribeiro/PBH

BH em Pauta: Bibliotecária promove educação ambiental

criado em - atualizado em
“Ser cadeirante não é fácil. Mas tudo compensa quando vejo o resultado do meu trabalho, o brilho no olhar dos alunos.” Esse depoimento é da bibliotecária Claudia Barros, coordenadora do Espaço Ambiental da Regional Venda Nova, local que recebe diariamente estudantes da Rede Municipal de Educação para um trabalho de conscientização quanto à necessidade de preservação das áreas verdes e o respeito ao meio ambiente.

Claudia Barros é cadeirante há mais de 30 anos, quando sofreu um acidente automobilístico e ficou paraplégica. “Morei um ano em um hospital para fazer reabilitação. Naquela época não era fácil ser cadeirante, existia um grande preconceito que relacionava a limitação física com a mental. Fiz faculdade de biblioteconomia na UFMG e os professores se assustaram ao me receber, temendo que eu não conseguisse cumprir com as funções de estudante”, relata ela.

Desde 2014, Cláudia desenvolve o projeto Agente Ambiental Mirim e Juvenil com os monitores do Programa Escola Integrada de diversas escolas da região. A iniciativa tem como objetivo conscientizar os alunos sobre as práticas ambientais e torná-los multiplicadores dentro da escola, em casa e nos espaços de convívio.

Por meio do projeto Agente Ambiental Mirim e Juvenil, é possível realizar um trabalho interdisciplinar, unindo as práticas ambientais executadas por várias secretarias municipais. Neste semestre será realizado o Circuito dos Resíduos Sólidos, que prevê visita a Unidade de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV), Cooperativas de Catadores, Ponto Limpo e Bota Fora clandestino, para sensibilizar os alunos quanto à importância do descarte correto dos resíduos e o impacto no meio ambiente.

O circuito é feito em um ônibus da Secretaria Municipal de Educação (SMED), que permite que a Claudia e outros alunos com limitação possam participar do roteiro. Na quinta-feira, 10 de agosto, Claudia e Denise Zóglio, coordenadora do Programa Escola Integrada da Escola Municipal Padre Marzano Matias, levaram estudantes de duas turmas para conhecer a URPV Rio Branco; a Coopersol, no bairro Céu Azul; e o ponto limpo implantado na rua 623, bairro Lagoa, durante a semana do Meio Ambiente, com objetivo de proteger duas nascentes do córrego do Capão.



Toneladas e toneladas

Na URPV Rio Branco, os jovens tiveram uma aula sobre resíduos com Rejane Silva, mobilizadora social da gerência de Limpeza Urbana Venda Nova, e conheceram a importância do trabalho dos carroceiros, que são o principal público desses equipamentos. “O projeto carroceiros é fruto de uma parceria entre a SLU, BHTrans e UFMG, e a Prefeitura facilita o acesso da comunidade para o trabalho dos carroceiros através do 156”, explica Rejane.

Os estudantes ficaram sabendo que Belo Horizonte tem 32 URPV’s e que Venda Nova tem quatro. Esses espaços fazem parte de uma rede que processa todo o lixo e resíduos da cidade. “Em média, são recolhidas 2,8 mil toneladas de lixo por dia. É muito importante cada pessoa separar o lixo reciclado do orgânico para que o catador de material reciclado não tenha que rasgar os sacos de lixo. Se não fosse o catador, teríamos muito mais lixo na rua”, pontua Rejane, parafraseando uma famosa frase do livro Pequeno Príncipe: “Tu te tornas eternamente responsável pelo lixo que produz.”

Na Cooperativa de Reciclados do bairro Céu Azul, os estudantes conheceram o trabalho de Ernesto Xavier de Souza e de nove famílias que tiram o sustento dos materiais reciclados entregues pela SLU e comunidade. A Coopersol existe desde 2003.



Dedicação reconhecida

Após 20 anos de trabalho na Prefeitura em diversos projetos na área da educação, Claudia Andrade de Barros alcançou reconhecimentos que a enchem de orgulho. Em 2007, recebeu a Medalha Etelvina Lima do Conselho Regional de Biblioteconomia, na categoria destaque, pelo trabalho de incentivo a leitura em bibliotecas escolares de Belo Horizonte. Em 2016, recebeu a Medalha de Honra da UFMG como expressão do reconhecimento da comunidade universitária pela trajetória profissional e expressiva contribuição para a sociedade brasileira.

“Os maiores desafios sempre foram, e pelo que tenho visto ainda serão, a acessibilidade. Hoje atuo no Espaço Ambiental de Venda Nova, local maravilhoso que me permite realizar o meu trabalho com condições acessíveis. Hoje tenho um banheiro adaptado de forma correta”, comemora.
 
 

22/08/2017. Uma cadeirante a serviço do meio ambiente. Fotos: Claudia Barros/PBH