22 July 2025 -
Em um espaço para memória, resistência e aprendizado, educadores da Rede Municipal de Belo Horizonte se reúnem no Encontro Centralizado Presencial do Núcleo de Estudos das Relações Étnico-Raciais (Nerer) para propor uma imersão em histórias, culturas, saberes e tradições afro-brasileiras que habitam e moldam a capital mineira. Com a proposta de consolidar a efetivação da Lei nº 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas, o evento se apresenta como uma celebração da ancestralidade viva e uma provocação pedagógica.
Realizado em parceria com a Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura, o encontro reúne profissionais da Educação, mestres e mestras de saberes tradicionais, como o samba, o reinado e a capoeira, além de pesquisadores da temática étnico-racial. A formação é promovida pela Secretaria Municipal de Educação que, por intermédio da Subsecretaria de Educação Inclusiva e da Diretoria de Políticas Afirmativas, em parceria com a Diretoria de Patrimônio Cultural, da Secretaria Municipal de Cultura, busca ampliar a inserção de outras racionalidades e dos saberes afrodiaspóricos no currículo das escolas da rede.
O conteúdo programático mergulha em temas como patrimônio cultural e imaterial, estratégias de aprendizagem antirracistas e valorização dos saberes populares como ferramentas de construção identitária e potenciadores das aprendizagens escolares. A iniciativa também marca os 20 anos do Nerer, reforçando seu papel fundamental na formação de uma educação mais inclusiva, plural e consciente.
A interlocução ocorreu entre representantes do educativo do Museu de Artes e Ofícios, onde ocorreram trocas de experiência sobre o Circuito da Capoeira e apresentações das mestras do Reinado e dos representantes do samba na cidade. O evento evidencia o potencial epistemológico dos saberes tradicionais para a educação escolar como elementos curriculares e pedagógicos.
Para Alan Pires, coordenador do Patrimônio Material da Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura, o ciclo formativo representa uma parceria estratégica entre as secretarias de Cultura e Educação.
“Divulgar o patrimônio cultural de Belo Horizonte, especialmente aquele vinculado à cultura afro-brasileira, é uma tarefa essencial. Esses bens refletem nossa história, mas ainda enfrentamos dificuldades em reconhecê-los como constitutivos da nossa identidade. A parceria com a Secretaria de Educação é fundamental, pois ela tem a capilaridade e a expertise para levar esse conteúdo denso, resultado de pesquisas e inventários, até as comunidades escolares, de forma crítica, acessível e com informações confiáveis. Estamos falando do fortalecimento da memória coletiva da nossa cidade, que é plural, diversa e negra. Falar dos reinados, da capoeira, do samba é falar da identidade de Belo Horizonte.”
Dividido em turmas nos turnos da manhã e da tarde, o encontro reafirma que a escola é também um espaço de memória coletiva, corporeidade ancestral e resistência, um lugar onde o batuque ensina, o gingado transforma e os saberes tradicionais apontam caminhos para o futuro. “Trata-se de uma educação que valoriza diferentes perspectivas de conhecimento, reconhecendo-as como fundamentais para potencializar as aprendizagens escolares. São saberes que ecoam e que reafirmam a importância das memórias ancestrais, dos conhecimentos tradicionais e da valorização de mestres e mestras da nossa cultura na construção curricular”, finaliza Andréia Martins, referência da Educação nas Políticas Afirmativas.