27 September 2019 -
Um dos equipamentos culturais de maior importância para a memória da capital mineira é o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH). Criado em 1991, o Arquivo Público é o órgão da Prefeitura que cuida dos documentos de valor permanente produzidos ou recebidos pela administração municipal, sendo responsável pela gestão, guarda, preservação e acesso destes documentos. Também cuida de parte do acervo da Câmara Municipal de Belo Horizonte e de documentos privados que são do interesse da população belo-horizontina.
E, para que as imagens do acervo fotográfico do Arquivo Público sejam descritas com o máximo de informações possível, foi criado, em 2003, o projeto “Cestas da Memória”.
Além das fotografias, o importante acervo municipal possui textos, revistas, mapas, plantas, projetos arquitetônicos, cartazes, filmes, registros sonoros e outros itens.
Segundo a Diretora de Patrimônio Cultural e Arquivo Público da Fundação Municipal de Cultura, Françoise Jean de Oliveira Souza, o “Cestas da Memória” surgiu como uma solução para o impasse técnico que existia até 2003: muitas imagens do acervo fotográfico tinham poucas informações ou dados insuficientes.
Françoise Souza explica que muitas fotografias do “Cestas da Memória” são contemporâneas aos idosos belo-horizontinos, que, de forma voluntária, auxiliam na identificação e descrição das imagens. “O projeto contribui para a descrição do acervo fotográfico do arquivo, mas vai muito além disso. Ele estimula a participação da comunidade nesse processo e proporciona a formação e a capacitação de técnicos da instituição”, afirma.
O início
A diretora do Arquivo Público lembra que os primeiros trabalhos do “Cestas da Memória” consistiam em identificar apenas um grande acervo produzido entre os anos 1950 e 1970 em Belo Horizonte; mas, nos últimos 16 anos, novos conjuntos de fotografias foram recebidos e as imagens continuam a ser identificadas pelos idosos voluntários.
O fotógrafo Luiz de Souza é um dos participantes do “Cestas da Memória” e fala com entusiasmo sobre a atividade. “A minha participação no projeto é importante, inclusive, como redescoberta de meus próprios trabalhos passados. Há muitas fotografias que eu fiz no acervo. Mas é difícil identificar tudo. São mais de 50 anos de profissão. Mas, na medida do possível, vou colaborando. E descobri que algumas das minhas próprias fotos existiam no projeto. Foi uma surpresa quando me mostraram”, relembra.
Preservação da memória
Os voluntários do “Cestas da Memória” têm entre 50 e 96 anos e são acompanhados nas sessões de identificação das fotos por técnicos e estagiários, que anotam as descrições feitas pelos idosos.
As imagens são selecionadas de acordo com o perfil dos voluntários cadastrados, cujas trajetórias pessoal e profissional se aproximem do acervo a ser trabalhado. A cada edição, quatro voluntários e quatro técnicos são os responsáveis pela transcrição das informações, além da equipe envolvida na organização das sessões.
A lista de voluntários possui cerca de 80 pessoas cadastradas. Desde o início do projeto, que já realizou 164 sessões, 54 voluntários já participaram.
Para a diretora Françoise Souza, os voluntários oferecem ajuda primorosa na preservação da história de Belo Horizonte. “São fontes riquíssimas para sabermos como a administração pública funcionava nos seus bastidores e as nuances do dia a dia político. Tudo aquilo que a Prefeitura quer mostrar – e escrever também – é contado por essas pessoas”, relata.
O engenheiro Newton dos Santos Vianna também é voluntário e chama a atenção para a valorização das vivências dos participantes. “Estamos servindo a esse bem comum que é a preservação da memória da cidade. Vi que realmente podia ajudar porque há muitos retratos que mostram as obras antigas e as reuniões que a gente participou na Prefeitura. Eu ainda me lembro bem. E agora falo para impulsionar o projeto, porque a memória já está indo embora”.
Para o médico e voluntário Marcos Horta, a participação no projeto traz satisfação pelo fato de ajudar outras pessoas e a cidade como um todo. “É uma coisa que faço com maior prazer e sei que é importante. Conhecemos, temos o interesse e podemos colaborar para a identificação das fotos. Acho isso uma coisa bacana. O trabalho voluntário pode ser para ajudar uma pessoa que está precisando e pode ser também para um bem coletivo. Me encaixei nessa proposta”, comemora.
Diante dos resultados do “Cestas da Memória”, a diretora Françoise Souza considera que o Arquivo Público tem conseguido muito mais do que seu objetivo inicial de descrever o acervo fotográfico. “Entre as conversas, os casos de bastidores, as piadas, os boatos, os escândalos, os relatos das mudanças que a cidade sofreu, foi possível entender a estrutura da Prefeitura a partir dos relatos daqueles que dedicaram anos de suas vidas trabalhando, morando e convivendo na capital mineira, que se tornou metrópole e foi marcada por uma série de informações nesse processo”, destaca.
Reuniões
Os encontros do “Cestas da Memória” acontecem quinzenalmente, às sextas-feiras, no período da tarde, na sede do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, no bairro Floresta.
Os próximos encontros agendados serão nos dias 4 e 18 de outubro, 8 e 22 de novembro e 6 de dezembro, das 14h às 16h. O cadastro de voluntários está sempre aberto à população e pode ser feito pelo telefone (31) 3277-4665, das 9h às 17h, ou solicitado pelo e-mail cestasdamemoria@pbh.gov.br.
Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte
Endereço: Rua Itambé, 227, Bairro Floresta.
Telefones: (31) 3277-4603 e 3277-4665.
Funcionamento: segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 12h30 e das 13h30 às 17h.
Transporte: Ônibus 9103 (Santa Tereza/Santo Antônio).