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Após restauração, Casa da Fazendinha é reaberta com exposição
Foto: Ricardo Laf

Após restauração, Casa da Fazendinha é reaberta com exposição

criado em - atualizado em

Um dos imóveis históricos mais importantes e representativos de Belo Horizonte está de volta para o uso da população. Após três anos de uma intensa restauração, a Prefeitura de Belo Horizonte inaugura neste sábado (17) a Casa da Fazendinha, na Barragem Santa Lúcia, comemorando os 125 anos da cidade. O imóvel foi um dos primeiros casarões da cidade, construído no início do século XX na antiga colônia Agrícola Afonso Pena, em fazenda existente antes da construção da capital. Tombado pelo patrimônio municipal desde 1992, o Casarão, agora totalmente recuperado, será sede de um novo espaço cultural para a cidade, com gestão da Casa do Beco, grupo teatral com atuação reconhecida e participação da comunidade local. A restauração e o programa de ações contaram com o apoio e atuação da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, Secretaria Municipal da Fazenda, Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Secretaria Social, Segurança Alimentar e Cidadania, Sudecap, Prodabel e Coordenadoria de Atendimento Regional Centro-Sul.

 

Para marcar a inauguração, será aberta a exposição “De Fazenda a Casarão: trajetórias de preservação” que irá abordar a história do Casarão, incluindo o processo de tombamento e a recente restauração do imóvel. A mostra também irá apresentar a história e atuação da Casa do Beco na comunidade, além de uma homenagem à resistência e à resiliência da matriarca Dona Izabel e família, que preservaram o casarão por vários anos. Trata-se de um memorial, que também receberá, esporadicamente, exposições que ilustrem a construção e o crescimento da comunidade na cidade, a partir de vários outros olhares, tais como as mobilizações sociais, associações, grupos de jovens, religiões, entre outros.

 

Para Eliane Parreiras, secretária Municipal de Cultura, a restauração desse imóvel, transformado em um novo espaço cultural para comunidade da Barragem Santa Lúcia representa a valorização do patrimônio cultural da cidade e a requalificação de um novo espaço, que estão em consonância com a política cultural do município, que preza pela descentralização das ações e universalização do acesso. “Nada mais simbólico para marcar os 125 anos de Belo Horizonte do que a entrega da Casa da Fazendinha à cidade, com gestão da própria comunidade, contando a nossa história e potencializando a cultura local e a inclusão social. Uma entrega que conta com a parceria de diversas Secretarias e órgãos da Prefeitura, em ação integrada. Precisamos, cada vez mais, valorizar a cultura produzida nas comunidades e incentivar a formação de novos agentes que atuem também a partir das vivências locais. Nesse sentido, a gestão da Casa do Beco, instituição com forte presença na região, certamente cumprirá muito bem esse papel”, conclui.

 

“Esse é mais um passo que a Prefeitura de Belo Horizonte dá no sentido de valorizar o patrimônio cultural da cidade. O Casarão centenário da Barragem Santa Lúcia preserva a história de Belo Horizonte e marcou o início da ocupação daquela área. Nada mais justo que ele retorne agora à comunidade, sendo dado ao imóvel um uso cultural”, afirma Luciana Féres, presidente da Fundação Municipal de Cultura

 

A exposição “De Fazenda a Casarão: trajetórias de preservação”, permanecerá no local até fevereiro de 2023, ocupando quase todos os cômodos do imóvel. Após essa data, o novo equipamento passará a atuar tanto na formação cultural e profissional quanto na apresentação de shows musicais e espetáculos. A Prodabel, Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte, irá equipar duas salas com Telecentros, sendo uma para a inclusão digital de idosos e a outra um espaço de formação e profissionalização da juventude. Será destinado também um espaço multiuso para oficinas, palestras, cursos, seminários, formação de empreendedorismo cultural, gestão cultural, prestação de contas e produção cultural. Além disso, será mantida uma programação artística, tendo a varanda do Casarão como palco para eventos musicais e performances.

 

As tratativas para a realização de intervenções no casarão tiveram início em junho de 2019. Após a elaboração e aprovação do projeto pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte - CDPCM-BH, foram iniciadas as obras de recuperação da cobertura, alvenarias, esquadrias, pisos e revestimentos, instalações elétricas e hidrossanitárias, elementos artísticos, paisagismo e agenciamentos das áreas externas, incluindo a construção de rampas de acesso. As obras foram finalizadas em novembro de 2022.

 

Gestão da Casa do Beco

 

A Associação Cultural Casa do Beco surgiu em 2003, a partir do trabalho artístico do Grupo do Beco (criado em 1995). Localizada aos pés do Aglomerado Santa Lúcia/Morro do Papagaio, na região Centro Sul de Belo Horizonte, a instituição é um Ponto de Cultura desde 2010 e seu principal objetivo é promover o desenvolvimento humano e a transformação social por meio do fomento à produção e difusão cultural e artística, especialmente do teatro, na comunidade, além disponibilizar as atividades a outros públicos da cidade. Foi em virtude dessa forte presença e atuação junto à comunidade que a instituição foi convidada pelo Município para ser a gestora do novo espaço cultural. Nesse sentido, foi assinado um termo de permissão de uso entre a Prefeitura de Belo Horizonte e a Associação Cultural Casa do Beco, por um período inicial de 10 anos.

 

Para Josemeire Alves Pereira, historiadora e Gestora Institucional da Casa do Beco, a restauração do Casarão representa a concretização de um desejo da comunidade e o reconhecimento da importância da história da Barragem. “Todos esperavam que o espaço tombado fosse restaurado e transformado em um espaço cultural para atendimento da comunidade e a gestão da Casa do Beco será pensada a partir da perspectiva de potencializar a arte e a cultura produzidas na região. Para a cidade, este momento constitui uma oportunidade especial para romper preconceitos e reconhecer efetivamente que a história das favelas também faz parte da história da cidade. Isto se considerarmos que a história da Fazendinha, inclusive o seu tombamento, está intrinsecamente relacionada à formação da própria Barragem Santa Lúcia e comunidades adjacentes, ao longo do século XX”, afirma.

 

Nil César, diretor de Articulações Estratégicas da Casa do Beco, destaca que o novo espaço cultural terá uma atuação diversificada. “Queremos atuar tanto na formação cultural quanto profissional. Uma das ideias é a de se criar uma incubadora cultural com o propósito de ensinar a comunidade a escrever projetos, concorrer em editais e orientar sobre como implantar esses projetos. Reservamos um espaço para a realização de ações gastronômicas e iremos apoiar os empreendedores na gestão do seu espaço gastronômico. Temos a ideia também da implantação de uma loja de artesanato que dê apoio aos artesãos locais e teremos também um espaço com foco na saúde física e psicológica das lideranças da comunidade. Nossa ideia é que a “Fazendinha Dona Izabel”, nome que daremos ao novo espaço, seja aberto para a comunidade em todos os sentidos. Eles podem fazer um currículo, acessar a internet, fazer um curso, assistir a uma apresentação artística ou, até mesmo, se a pessoa quiser apenas sentar-se à sombra para ler um livro”, destaca

 

O Casarão

 

A história do Casarão da Barragem Santa Lúcia tem início antes mesmo da construção da cidade de Belo Horizonte. O imóvel foi construído em um terreno que, inicialmente, fazia parte da Fazenda do Capão, localizada na região que corresponde atualmente ao bairro Santa Lúcia e adjacências. Sabe-se que em 1894, a fazenda pertencia a Ilídio Ferreira da Luz e foi desapropriada por estar na área onde seria construída Belo Horizonte. Posteriormente, a fazenda passou a integrar a Colônia Agrícola Afonso Pena. Pesquisas recentes afirmam que a edificação foi possivelmente construída no lote 71, desta Colônia Agrícola, entre 1900 e 1919. Há indícios de que a Cerâmica Santa Maria, localizada em frente ao Casarão até a década de 1950, pertenceu aos proprietários da antiga residência. Em 1972, o Casarão foi adquirido por Maria Izabel Rocha Magalhães, Dona Izabel, e o marido. Em 1992, o imóvel passou a integrar o Patrimônio Cultural do município, em função de seu valor histórico e afetivo para a comunidade e para toda a sociedade.

 

Serviço

Casa da Fazendinha

Avenida Artur Bernardes, 3.120 - Barragem Santa Lúcia