14 November 2025 -
Abrindo caminhos do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte (FAN BH) 30 anos, o Rotas, que vai desta segunda (17) à sexta-feira (21), será uma ocupação reflexiva da Funarte MG como território de encontro entre artistas, mestres, pensadores e coletivos. A cerimônia inicial será às 19h de segunda no Teatro Francisco Nunes, conduzida por lideranças religiosas de diferentes matrizes, seguido por um encontro com a escritora, pesquisadora e dramaturga Leda Maria Martins para reflexões sobre arte, oralitura, performance e tempo espiralar, conceito que inspira a edição de 30 anos.
Na sequência terá o show da banda mineira Congadar e a cantora Teresa Cristina em um encontro de tambores, vozes e teatralidade para afirmar a potência das tradições negras e sua presença nos palcos contemporâneos. Todas as atividades do FAN BH são gratuitas e os ingressos podem ser retirados neste link.
O FAN BH é realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, em parceria com o Instituto Periférico. A programação na Funarte, a partir de terça-feira (18), terá várias atrações, como lançamento de livros, sessão de filmes sob curadoria da Semana de Cinema Negro, Slam Clube da Luta, espetáculos, contação de histórias, performance do Bloco Magia Negra, além de Gingas temáticas — ciclos de conversa — sobre memória, patrimônio, protagonismo, economia, sustentabilidade, juventudes e infâncias.
- 13ª edição
De mãos dadas com a cidade desde 1995, o FAN BH celebra 30 anos em sua 13ª edição com o pensamento “Tempo Espiralar e a Cidade em Movimento”. A proposta conceitual do Festival, que se estende até 2026, conjuga três conceitos/pilares estruturantes — Rotas, Raízes e Espiralar — como chaves de leitura para a cidade de Belo Horizonte e para a própria trajetória do festival. “Espiralar” indica o movimento de retorno e projeção, a constante dobra entre o que já foi e o que ainda pode ser, conectando novamente e sempre as nossas raízes simbólicas e territoriais. “Rotas”, por sua vez, designa os caminhos de deslocamento, encontro e reterritorialização dos saberes e corpos negros na cidade.
A programação se consolida de forma a refletir o impacto do Festival na agenda cultural e das artes negras, que após reunião pública realizada em outubro, segue os atos comemorativos que articulam performances, mostras, encontros formativos, debates, celebrações e ocupações artísticas pela cidade: Rotas, em novembro; e em 2026, acontece os atos Raízes, em março; e Espiralar, em maio.
Em 1995, Belo Horizonte foi sacudida com a presença artística e cultural negra, vibrante, em praticamente todas as regiões, ano em que foi demarcado o tricentenário de morte de Zumbi dos Palmares, herói nacional da resistência afro-brasileira. Inúmeras atividades foram realizadas e dentre elas, a criação e realização do FAN. Passados trinta anos desse movimento, que impactou positivamente a agenda da cultura e da arte negra na cidade, a proposta do FAN 2025-2026, intenta reafirmar que o tempo, na cosmogonia africana, é espiralar. Esse formato propõe um FAN que se constrói em diálogo permanente com a cidade em movimento e suas forças criativas, reafirmando a arte e a cultura negras como potência, ferramenta de transformação e reinvenção do espaço urbano.- Consolidação
Para a secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, ao completar 30 anos o FAN se apresenta como algo consolidado. "É importante afirmar que não se estabelece uma política pública do dia para a noite. É preciso muito trabalho, dedicação, empenho e compromisso para que essa política faça parte da vida da cidade. Com o Festival de Arte Negra foi assim. Um caminho trilhado, capaz de estabelecer raízes fortes com a história de BH. O FAN é hoje da cidade e é assim que deve ser, uma construção conjunta e perene", ressalta.
Ao completar três décadas, o FAN BH propõe não apenas celebrar sua história, mas revisitar criticamente seus modos de fazer, instaurando uma metodologia de construção curatorial e organizacional fundamentada na escuta ativa e na coautoria social.
Bárbara Bof, presidenta da Fundação Municipal de Cultura, destaca a importância do FAN para a cidade. "O FAN é um festival onde a população de Belo Horizonte se vê e se sente representada. É também o grande encontro das presenças artísticas e culturais que movimentam a cidade ao longo de todo o ano. O festival celebra a força da cultura e da arte negra, iluminando Belo Horizonte. É um momento em que o encontro se coloca como ferramenta fundamental de transformação e de preservação da história. Pensar em um festival que tenha como conceito o espiralar nos faz buscar o novo com os pés fincados na ancestralidade, em respeito à história de cada um e, ao mesmo tempo, de todos".
Para Gabriela Santoro, presidente do Instituto Periférico, a edição do FAN BH propõe um processo contínuo de encontros, formações e criações que teve início em outubro e seguirá até maio do próximo ano. “O formato ampliado fortalece as conexões entre artistas, comunidades e o movimento negro da cidade, promovendo espaços de escuta, diálogo e expressão. O festival reafirma seu compromisso com a valorização e a visibilidade dos artistas negros, criando oportunidades concretas de intercâmbio e protagonismo nos diversos territórios culturais de Belo Horizonte".
- Movimento
O FAN, ao adotar o espiral como princípio operativo, propõe um festival que “não chega pronto”, mas se constrói em movimento, em diálogo constante com os territórios que o compõem, com isso, se consolida como plataforma de experimentação afro-diaspórica, na qual o gesto artístico é indissociável da dimensão política e espiritual da criação.
A metodologia espiralar do FAN proposta rompe com o modelo linear e centralizado dos grandes festivais para instaurar um processo contínuo e colaborativo de elaboração, que se desenvolve em etapas de escuta, formação e ativação territorial. “Ao ativar rotas de resistência e memória, o festival desloca o eixo hegemônico da produção cultural e propõe novas territorialidades simbólicas que afirmam o protagonismo negro como princípio civilizatório e transformador”, afirma Fredda Amorim, artista, pesquisadora e diretora de produção do FAN.
O FAN 30 anos é baseado na escuta, na ancestralidade e na devolutiva em forma de presença. As rotas traçadas pelo festival ultrapassam os circuitos físicos e se afirmam como percursos simbólicos e espirituais que atravessam territórios de memória e resistência em Belo Horizonte, como o Largo do Rosário, o Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango, o Muquifu, o Terreiro Casa Pai Jacob do Oriente e o Morro em Cena. Esses espaços compõem uma cartografia afetiva da negritude, onde a cidade é entendida como corpo vivo, atravessado por camadas de tempo, luta e criação.
- Cinco atos
A estrutura do festival se organiza em cinco atos, que refletem as etapas de construção coletiva desta edição histórica. O primeiro ato, a Reunião Pública, que aconteceu em outubro, inaugurou o processo com uma escuta aberta à cidade. Em seguida, o FAN Criando Rotas, novembro, consolida um espaço de reflexão, formação e proposição de caminhos, instaurando um novo modo de fazer o festival: participativo, horizontal e enraizado no território - um Cangerê.
O Chamamento Artístico previsto para janeiro de 2026 traduz as escutas em oportunidades concretas de participação, abrindo o processo criativo à pluralidade de vozes negras. O quarto ato, FAN Raízes, em março, finca os pés na ancestralidade, promovendo encontros, oficinas e celebrações dentro dos territórios, terreiros, quilombos e espaços culturais afro-brasileiros, reafirmando a força comunitária e espiritual do fazer artístico.
Por fim, o FAN Espiralar, previsto para maio, representa a culminância do processo: uma grande celebração da arte negra e do afroempreendedorismo com shows, exposições, mercado Ojá, atividades formativas e o Fanzinho, dedicado às infâncias e juventudes.
Assim, o FAN 30 anos se firma como um Festival/Processo, que parte da escuta se nutre das raízes e retorna ao território em forma de celebração coletiva — um gesto de continuidade, resistência e invenção de futuros negros possíveis.
- História do FAN BH
Desde a primeira edição do Festival, em 1995, o conceito de temporalidade rompeu com a linearidade ocidental e apresentou para a cidade um espiral que interligou passado, presente e futuro. A marcante presença de artistas africanos na cidade foi impactante, informativa e formativa para a população da cidade. Vários lastros de pertencimento foram criados entre fazedores de cultura do continente mãe com os que se encontram na diáspora brasileira.
A presença de uma das maiores sambistas do Brasil, a saudosa Dona Ivone Lara, na primeira edição do FAN, anunciava que ele teria longevidade, força ancestral e o vigor que se mantém até os dias de hoje.
Ocorreu um hiato desde a primeira edição, na medida que o Festival só foi retomado em 2003, passando a ser realizado bienalmente. Com o tema "Rotas do Futuro no Atlântico Negro", a edição reforçou sua valiosa contribuição como difusor da arte negra no Brasil ao destacar a importância fundamental de compreender a origem e inserção das diversas vertentes das culturas de matrizes africanas.
A capoeira, o samba, o sagrado de matriz africana, as ações dos morros e favelas, as mãos dadas com os povos originários e os blocos afros, sempre estiveram presentes no FAN. Essas são algumas das dimensões do rico legado cultural deixado pelos africanos em nosso país e que enriquecem o capital cultural que nos conecta com outras culturas.
Na edição de 2015 do Festival houve um encontro ímpar entre a Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte, o pesquisador e experiente sambista, Nei Lopes, e a cantora contemporânea, Mariene de Castro. Momento emblemático que reforçou o viés de uma temporalidade não linear do Festival. A cidade pôde ver um encontro em que as corporeidades de gerações passadas se uniram à uma nova geração, produzindo uma performance em que os conhecimentos do passado e do presente, demonstrando a força da ancestralidade de matriz africana.
O envolvimento da educação, por meio de ações voltadas para a participação de alunos, tem sido uma prioridade. Assim, em todas as edições do FAN, busca-se esse envolvimento educativo, com vistas a que o Festival também tenha esse caráter de colaborar com a pauta antirracista. E como dizia Paulo Freire, a educação tem uma contribuição basilar nessas ações.
A 11ª edição, em 2021, trouxe o tema Muvuca de Pretuntu, que explorou a preciosa relação entre o tronco linguístico africano que é o Bantu, com as raízes brasileiras e, em especial, com as mineiras.
A edição de 2023 recolocou a tríade, passado, presente e futuro, com a simbologia Sankofa, que diz sobre a importância de aprender com o passado para construir o futuro e deu o tom conceitual do Festival.
E neste ano, em que a organização das Nações Unidas – ONU, renova a Década Internacional de Afrodescendentes, o que se pretende com o FAN 2025 – 2026, é reafirmar a importância da corporeidade, do legado e da herança da arte e da cultura negra na constituição do país e de Belo Horizonte. Busca-se reconhecer o passado, revisitar memórias, viver o presente e abrir caminhos para o futuro. Portanto, trata-se de uma proposta que reitera a cosmovisão africana, que entende a espiralidade do tempo e enxerga os movimentos dinâmicos, crescentes e qualificados das fazedoras e dos fazedores de cultura negra na cidade.
A história de todas as edições do FAN está disponível no Portal Belo Horizonte.
- Programação
13ª edição do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte – FAN BH
Data: segunda (17) à sexta-feira (21)
Gratuito
Abertura: segunda (17)
Local: Teatro Francisco Nunes (Avenida Afonso Pena, 1.321 - Centro)
18h30: acolhimento e abertura de trabalhos
19h - Ritual de abertura: o Abre Caminhos marca o início simbólico do FAN, reunindo mestras e mestres de tradição em um gesto de bênção, proteção e celebração às ancestralidades que sustentam o festival. Conduzido por representantes de diferentes expressões religiosas e culturais. Estarão presentes Pai Ricardo, Rainha Belinha, Padre Mauro, Mam’etu Muiandê e Sidney D’Oxóssi. A cerimônia reafirma o compromisso do FAN com a diversidade do sagrado que abre os caminhos para o encontro, a arte e a continuidade das tradições negras.
20h - “Tempo espiralar” - Encontro com Leda Maria Martins: neste encontro, a escritora, pesquisadora e dramaturga Leda Maria Martins compartilha reflexões sobre arte, oralitura, performance e tempo espiralar, conceito que inspira esta edição de 30 anos. A atividade propõe uma escuta atenta sobre os modos de transmissão de saberes e o legado das epistemologias afro-brasileiras.
21h15 - Congadar convida Tereza Cristina: a banda mineira Congadar e a cantora Teresa Cristina se encontram em uma intervenção cênica que une música, ancestralidade e celebração. A proposta articula tambores, vozes e teatralidade para afirmar a potência das tradições negras e sua presença nos palcos contemporâneos.
Programação de 18 a 21 de novembro
Local: Funarte BH (Rua Januária, 68 - Centro)
Terça-feira (18)
18h: acolhimento e abertura de trabalhos
18h30: Ginga: Memória, Patrimônio e Encantarias, com Tata Kasulembê / Terreiro Lodê Apara, Débora Raissa / Historiadora, Makota Kidoiale / Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango
20h: Mostra de Cinema Negro - curadoria de Layla Caroline Braz
20h - Gira Literária: roda de conversa e lançamento de livrosautoras e autores negros, com Coletivo Negras Autoras - “Poesia armada”; Pai Ricardo - “Da Macega á Makaia”; Júnia Bertolino - “Herdeiros de Zumbi”; Maíra Baldaia - “ A mulher e as águas do tempo”; Mediação: Renato Negrão - “escrevame”.
21h: Slam Clube da Luta
Quarta-feira (19)
18h: Acolhimento e abertura de trabalhos
18h30: Ginga: Economia, Sustentabilidade e Trabalho na Cultura Negra, com Kelma Zenaide, Hérlen Romão / Morro En.cena, e Nell Araújo
20h: Mostra de Cinema Negro, com curadoria de Layla Caroline Braz
20h30: Espetáculo Abre Caminhos, com o Grupo Identidade (retirada de ingressos uma hora antes do espetáculo. Classificação 12 anos).
Quinta-feira (20)
10h: Fanzinho - Griot: Histórias e Cantorias, com o grupo Teatro Negro e Atitude, uma vivência voltada à contação de histórias
11h: Ter-Ato - Oficina de Sensibilização Artística e Teatral, conduzida pelo grupo Teatro Negro e Atitude
14h: acolhimento e abertura de trabalhos
14h30: Ginga: Arte, Linguagens, Representatividade e Protagonismo, com Evandro Nunes, Denilson Tourinho e Nívea Sabino
14h30: Ginga: Juventudes e Infâncias, com Marcus Carvalho, Fabiana Brasil e Negona Dance.
17h: Espetáculo Xirê, com grupo MorroEnCena
17h: Uai Sound System
Sexta-feira (21)
14h30: acolhimento e abertura de trabalhos
15h: Ginga: FAN – 30 Anos e Rotas, com Marcos Cardoso, Rui Moreira e Rosália Diogo
17h: Bloco Magia Negra
Terça (18) a sexta-feira (21) - Ações contínuas
Instalação FAN 30 anos, com curadoria de Rosália Diogo
Biblioteca de autorias negras (Parceria FLI BH)
