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Zoológico de BH recebe novas araras-de-lear para reabilitação
Foto: Suziane Brugnara/PBH

Zoo de BH recebe Araras-Azuis-de-Lear para tentativa de formação de casais

criado em - atualizado em

A Prefeitura de Belo Horizonte comemora neste mês a bem-sucedida adaptação de dois casais de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) que chegaram recentemente ao zoológico da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica. As quatro aves já cumpriram o período conhecido como “quarentena”, durante o qual ficam isolados, sob supervisão intensa da equipe técnica para avaliação do estado de saúde e adaptação ao novo local de moradia. As quatro aves, quando jovens, foram resgatadas em decorrência do tráfico e de desmatamentos/queimadas e até caça. Um delas tornou-se incapaz de voar. As aves passaram a viver sob cuidados humanos em outras instituições por alguns anos. A vinda dos animais para a capital é uma das estratégias estabelecidas pelo Plano de Manejo e Conservação da Arara-Azul-de-Lear (PAN), do qual a Fundação faz parte desde 2007.

 

As aves já estão no recinto definitivo, em uma área de acesso exclusivo de funcionários do Zoo. A reunião dos exemplares dessa espécie distribuídos em zoológicos e criadouros científicos do Brasil e do exterior faz parte do PAN. A intenção é que seja possível o pareamento, reprodução e, sendo viável, futura reintrodução na natureza. Todas as aves que estão no Zoo de BH têm bom material genético para reprodução da espécie. 

 

Vale destacar que o Zoo de BH já participou de duas iniciativas bem-sucedidas de reintrodução de aves na natureza: em 2021, sete papagaios-de-peito-roxo (espécie ameaçada de extinção) e, em 2022, mais quatro papagaios-verdadeiros puderam voltar à natureza por meio do Projeto Voar, da ONG Waitá. Ao todo, nas duas ocasiões, 43 aves que viviam em diversas instituições do país puderam voltar à natureza, das quais 11 delas (25,5% do total) viviam no Zoo de BH.

 

Plano de Manejo Integrado ajuda na ampliação do número de aves na natureza 

 

A arara-azul-de-lear é uma espécie que, na natureza, ocorre exclusivamente na caatinga baiana, na região conhecida como Raso da Catarina. Também ameaçada de extinção, ela se encontra na categoria “Em Perigo” (Endangered - EN), segundo a classificação da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

 

De acordo com a bióloga e gerente da Seção de Aves do Jardim Zoológico da Fundação, Márcia Procópio, quando o Plano de Manejo e Conservação da Arara-Azul-de-Lear (PAN) começou, havia menos de 800 indivíduos na natureza. Atualmente já são mais de 2 mil aves vivendo livres. “Os zoológicos têm papel fundamental na conservação de espécies e uma das frentes de atuação nesse sentido é a reabilitação de animais resgatados em decorrência do comércio ilegal ou de desastres causados por ações humanas, como queimadas, desmatamento etc. A conservação da arara-azul-de-lear em criatórios científicos e zoológicos como o de BH - que praticam a reabilitação - somada ao manejo voltado para facilitar a possível reprodução sob cuidados humanos e, ainda, às parcerias com instituições capacitadas para programas de soltura - seja da aves reabilitadas, seja de filhotes - vem permitindo o aumento de indivíduos na natureza”, explica a bióloga.

 

Ela ainda destaca que o Plano de Manejo e Conservação da Arara-Azul-de-Lear agrega várias instituições pelo mundo afora, como o Loro Parque da Espanha; zoológicos na Alemanha, na República Tcheca e no Brasil, além de criatórios científicos. “Agora é torcer para que possamos ter filhotes no Zoológico de Belo Horizonte, exatamente com o objetivo de encaminhá-los para a soltura”, conclui Márcia. 

 

A atuação do Zoo de BH na conservação da arara-azul-de-lear

 

Com a chegada dos novos animais, o Jardim Zoológico de BH passou a contar com quatro casais de arara-azul-de-lear e outros dois indivíduos “solteiros”. A expectativa é que ainda neste semestre outras duas aves sejam incorporadas ao plantel para formar mais dois casais da espécie, todos em idade adulta e aptos à reprodução.

 

Para acomodar com conforto todos os animais, os recintos foram preparados cuidadosamente, passando por melhorias estruturais e de paisagismo. Foram colocadas proteções de bambu para permitir mais aconchego, privacidade e conforto térmico aos animais nos dias de sol intenso; novos ninhos foram instalados para oferecer um local reservado e adequado para a possível postura dos ovos e posterior cuidado com os filhotes e troncos e galhos interligados foram instalados em todas as direções dos viveiros, formando um sistema de poleiros interligados para dar segurança e autonomia de deslocamento às aves, especialmente à uma das fêmeas que - ainda em vida livre - foi alvejada, ficando impossibilitada de voar. Além disso, todo um planejamento técnico foi desenvolvido para garantir a alimentação adequada e o bem-estar dos animais.

 

É importante ressaltar que o Plano de Manejo e Conservação da Arara-Azul-de-Lear possui um protocolo sanitário dos psitacídeos (grupo ao qual pertence a espécie) que estabelece a obrigatoriedade de vários exames laboratoriais para a checagem das condições de saúde dos animais antes da transferência entre as instituições. Neste sentido, ao chegarem ao Zoológico da Fundação, todas as aves cumprem um período de quarentena para análise de sua saúde, comportamento e adaptação, que garante que cada animal esteja em plenas condições de convivência com os demais indivíduos do plantel da instituição.

 

Características da espécie

 

A arara-azul-de-lear é uma ave da ordem dos Psittaciformes, da família Psittacidae. Também conhecida como arara e arara-azul-menor, é uma das aves mais raras do mundo, criticamente ameaçada de extinção. O nome vem do grego anodön (sem dente, desdentado); e rhunkos (bico); e de leari, learii (homenagem ao artista, escritor e explorador inglês Edward Lear (1812-1888). O resultado literal é Ave de Lear com bico desdentado.