9 Maio 2019 -
O programa Arte da Saúde - Ateliê da Cidadania é desenvolvido pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Coordenação de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com a Caritas Regional Minas Gerais. É uma prática de promoção de saúde voltada para crianças e adolescentes que buscam o enfrentamento de situações de vulnerabilidade, risco social e/ou pessoal, usando a arte e suas diversas expressões como principais ferramentas para a produção de cidadania e protagonismo infanto-juvenil.
Ofertado pela Prefeitura nas nove regionais de Belo Horizonte, o Arte da Saúde conta atualmente com 52 oficinas e mais de mil vagas para as aulas de artesanato, teatro, percussão, entre outras, que acontecem nos equipamentos públicos e comunitários da cidade. Cada oficina conta com pequenos grupos de crianças e/ou adolescentes, que se reúnem duas vezes por semana, em horário alternado com a escola.
Os encaminhamentos para o programa são realizados pelos centros de saúde por meio das Equipes de Saúde da Família, Equipe de Saúde Mental e Núcleo de Apoio à Saúde da Família. O responsável pela criança ou adolescente comparece ao local da oficina com o encaminhamento, onde recebe as orientações do monitor da oficina.
Na região da Pampulha, são oferecidas oficinas nas modalidades de artesanato, circo, música e teatro/contação de histórias, além de atividades socioculturais, capazes de potencializar talentos e aptidões, desenvolvendo e fortalecendo autoestima e as habilidades das crianças e adolescentes. Atividades que promovem a circulação urbana dos participantes também estão incluídas, como idas ao cinema, museus, parques, espetáculos teatrais e apresentações musicais.
A adolescente Ana Luiza Ferreira da Silva, 15 anos, está há um ano e meio no programa e já aprendeu a fazer diversos tipos de artesanato, como relógio de parede com disco de vinil, bonecas africanas de garrafa, entre outros. Ela conta que a participação ajudou a criar muitas amizades. “O convívio nos leva a refletir sobre as situações de conflito. É bom porque todo mundo é amigo e ninguém ri da dificuldade do outro”, relata.
Espaço de incentivo
Monitora de arte e artesanato na Oficina Trevo, Cláudia Patrocínio explica que o Arte da Saúde não é apenas uma oficina de fazer coisas, mas um espaço de incentivo para que a criança e o adolescente se reconheçam enquanto indivíduos. “Minha oficina é um espaço de aprendizagem, mas principalmente de fala e de escuta. A gente vê o quanto aquela criança que, às vezes, é oprimida na escola e tem dificuldade de aprendizagem escolar, se sente à vontade pra falar dela mesma, dos seus problemas e dos seus medos. Com isso, a gente percebe seu desenvolvimento e vamos trabalhando seu o potencial e ajudando no seu crescimento pessoal”, define.
O programa objetiva o fortalecimento e resgate da capacidade expressiva e criativa por meio de atividades que promovem a inclusão social, a sociabilidade, o convívio familiar, comunitário e escolar. Todo o tempo na oficina é utilizado para o aprendizado. Na hora do lanche, por exemplo, é possível trabalhar temas como higiene pessoal e respeito ao colega, entre outros.
“A gente mesmo prepara o lanche e limpa o local depois. Além das oficinas, tem as rodas de conversa sobre temas relacionados à saúde, relacionamento interpessoal e familiar. A gente acaba levando a amizade do curso para a vida”, afirma a adolescente Lorrany Evelyn Ferreira Diniz da Cunha, 15 anos, que participa do programa desde os 12.
Coordenadora do Arte da Saúde na Pampulha, Alessandra Vaneska Cotta Leles, explica que o objetivo é promover a saúde com arte e cidadania. “O programa cuida de adolescentes em rota de exclusão. Eles passam a entender que a diferença deles pode contribuir. É um espaço para mostrar as habilidades que eles têm”, diz.
Crescimento pessoal
Para Lorrany, a participação agregou muito à sua vida. “Já fiz tanta coisa legal! Os melhores passeios foram a um clube e a visita a Inhotim. Recentemente fomos ao abrigo ensinar as crianças de lá a fazerem ovos de Páscoa. Acho que tanto aprender quanto ensinar é muito bom”, considera. Agora, aos 15 anos, ela avalia o quanto essa oportunidade favoreceu seu crescimento pessoal. “O que mais me ajudou foi o convívio social com outros adolescentes. Com isso, aprendi a ter mais paciência, ser mais humanitária e ouvir mais as pessoas. Ajudou também na comunicação pra gente vencer a timidez”, afirma.
Para o monitor de percussão no Centro Comunitário Dandara, Felipe Silva dos Santos, o programa amplia a visão dos participantes. “Os adolescentes pensam que moram em uma caixinha de fósforo e a partir daqui, a mente se abre para novas experiências”, considera. Agente Comunitário de Saúde do Centro de Saúde Trevo, Rosário Arruda ressalta a importância que esses pequenos passeios proporcionam também para as famílias das crianças e adolescentes. “Normalmente os pais não têm condições de sair, levar os filhos para passear, mas os filhos, conhecendo outros locais, têm condições de trazer as informações para os pais”, salienta.