13 November 2019 -
Projeto pioneiro da Prefeitura de Belo Horizonte já levou para o mercado de trabalho 200 cidadãos em sofrimento mental. Eles foram encaminhados pelos nove centros de convivência, a partir de uma iniciativa da Coordenação de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Ministério da Economia – Superintendência regional do Trabalho em Minas Gerais, Senac e Rede Cidadã.
“As pessoas encaminhadas pelos Centros de Convivência para as vagas de pessoas com deficiência, por meio deste projeto, devem estar dentro de alguns critérios, como ser cidadão em sofrimento mental com diagnóstico de psicose, frequente em um dos Centros de Convivência, estar em tratamento, estar estável e manifestar o desejo de inserção no mercado de trabalho. Mesmo após eles terem conquistado a vaga, nós fazemos esse acompanhamento frequente dos nossos usuários”, explicou a gerente do Centro de Convivência Oeste, Giselle Campos Freitas Amorim.
Ainda segundo a gerente, inicialmente os usuários são contratados como aprendizes pelo período de um ano, com uma jornada de 4 horas diárias. Depois desse período eles são encaminhados para cargos diversos com trabalho médio de 6 horas diárias. A bolsa de aprendizagem/salário e os benefícios variam de acordo com a empresa e são proporcionais à jornada.
O repositor de mercadorias Alan Felipe Pacheco, 32 anos, tem diagnóstico de transtorno bipolar e faz tratamento há sete anos na rede de Saúde Mental da Prefeitura de Belo Horizonte. Foi durante o acompanhamento no Centro de Convivência Carlos Prates, na região Noroeste, que ele conseguiu o seu primeiro emprego em 2016, no supermercado Verdemar.
Hoje, com independência financeira e completamente familiarizado com os processos de trabalho, ele se sente realizado com suas conquistas. “Eu tenho aprendido muito com o meu trabalho. Antes eu era muito desorganizado, hoje mantenho tudo na disciplina, limpo e organizado, levei isso para minha vida. Trabalhando aqui me sinto muito feliz e gratificado”, conta emocionado.
Além do ganho financeiro, o cidadão em sofrimento mental consegue melhorar as relações pessoais e cuidar melhor de si. O auxiliar administrativo do supermercado Verdemar, Felipe do Carmo, credita grande parte do sucesso do seu tratamento após estar trabalhando.
“Eu tenho transtorno bipolar e fazia o tratamento no Centro de Convivência Oeste. Como estava desempregado, ficava no meu quarto só pensando na doença. Fiquei sabendo do projeto de inclusão através da gerente que me indicou o trabalho. Eu me sinto muito melhor, reduzi medicamentos, consigo exercer várias atividades e até saio com os amigos”, revela.
Retornos positivos também são apresentados por Ragner Almeida de Oliveira, promovido recentemente a auxiliar de padeiro do Supermercado Verdemar. Diagnosticado com transtorno bipolar, segundo ele o trabalho tem sido fundamental para a sua superação e crescimento pessoal. “Eu tive progresso pessoal muito grande, familiar e profissional, além da questão de estar em sociedade. Eu não me vejo mais excluído, eu me vejo dentro da sociedade de novo”, relata.
O supermercado Verdemar foi a primeira empresa a aderir ao projeto de inclusão da pessoa com sofrimento mental. Já passaram pela empresa 75 pessoas encaminhadas pelos Centros de Convivência. O superintendente de recursos humanos do supermercado, Leandro Souza de Pinho, explica o compromisso da empresa.
“Entre as várias ações que realizamos, por exemplo, anualmente ocorre a semana da inclusão social que visa demonstrar as boas práticas internas, resultados e produtividade dos incluídos, além de trazer outras atividades que valorizam e ampliam a consciência dos líderes e funcionários. Na verdade não desejamos incluir por incluir. Acreditamos na inclusão como um valor, que gera resultados para o negócio e emancipa as pessoas! E felizmente foi o que aconteceu, temos vários relatos de sucesso”.
Atualmente, fazem parte do projeto 11 empresas parceiras, dentre elas supermercados, laboratórios e farmácias. São elas: supermercados Verdemar, SuperNosso, DMA (Epa e Mineirão), Supermercados BH, Mart Minas, Tambasa, SESC, Telemont, Drogaria Araújo e Hermes Pardini. Em relação à aprendizagem, as instituições formadoras são Senac e Rede Cidadã.