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Fachada do Edifício Cláudio Manoel, situado na esquina da rua da Bahia com avenida Augusto de Lima, tombado pelo patrimônio municipal, sedia um colégio e uma drogaria.
Foto: Adão de Souza/PBH

Prédios tombados guardam a história de Belo Horizonte

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Pela rua da Bahia transitam, diariamente, cerca de 25 mil veículos por dia, o fluxo de pedestres chega a ser dezenas de vezes maior. A fama de rua movimentada vem desde a época em que o número de pessoas que circulava pela cidade era menor. Naquela época, nos idos de 1920, a via ligava a Praça da Estação, um ponto de chegada e partida das pessoas, ao Palácio da Liberdade, sede do Governo Estadual. 

O caminho, narrado por escritores como Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava, por onde circulavam personalidades culturais e políticas, como os poetas Alberto de Oliveira, em 1908, Rui Barbosa, em 1910, e Olavo Bilac, em 1916, hoje guarda história de Belo Horizonte em prédios tombados pelo Patrimônio Histórico Municipal.



Livraria Francisco Alves

O prédio da Livraria Francisco Alves é tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG). Pintado nas cores cinza e branco, de varandas com grades de metal atualmente abriga também um restaurante, uma loja de sapatos e uma ótica. 

Dos estabelecimentos situados na antiga livraria, o que concentra o maior número de referências ao passado é a Óptica Metrópole. O local se relaciona intimamente com o passado, contando a história de Belo Horizonte em fotos distribuídas pelas paredes. Um quadro com o Mineirinho, a Serra do Curral e do Viaduto Santa Tereza ilustra o espaço. “Nos 100 anos de Belo Horizonte, ganhei o prêmio Gentileza Urbana, concedido pela Prefeitura de Belo Horizonte, por restaurar o local”, conta José Antônio Maia, atual dono do espaço. 

 

 

Edifício Cláudio Manoel - foto Arquivo Público Municipal



Edifício Cláudio Manuel

Também tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal e pelo Iepha-MG, o Hotel Metrópole, situado no edifício Cláudio Manoel, na improvável esquina entre as ruas da Bahia e Goiás, divide espaço com outros prédios comerciais. Instalado na rua da Bahia desde a década de 1930 e concebido por Romeo de Paoli, o prédio teve hóspedes ilustres como o compositor mineiro Rômulo Paes, dono da frase famosa: “Minha vida é esta, subir Bahia e descer Floresta”.

Atualmente com fachada em tons pastéis, o prédio exibe, em seus corredores, um acervo de fotos históricas de BH da década de 1950, originárias do Arquivo Público Mineiro. Internamente, alguns detalhes originais da época, como as pastilhas coloridas no chão, o piso em peroba rosa, o revestimento em mármore preto e rosa e o corrimão em latão, são admirados pelos visitantes. Além da fachada, também foi tombada pelo Iepha-MG a pérgula, uma parte superior aberta, com vista para as frondosas árvores da rua Goiás. 

O edifício traz referências em art decó, estilo presente também no prédio da Prefeitura de Belo Horizonte, o Colégio Santo Agostinho, o Edifício Chagas Dória e o Edifício Acaiaca.



Armazém Central

Na esquina com avenida Augusto de Lima, percebe-se um prédio histórico, também tombado, em cinza e laranja, com detalhes em mármore. É o prédio do Colégio Minas Gerais, que fica em cima da Drogaria Araújo, espaço que já abrigou a Academia Mineira de Letras. O prédio exibe a foto histórica de seu antigo funcionamento, o Armazém Central. A viga interna do interior guarda surpresas como alguns comerciais antigos da drogaria e até uma receita do escritor e médico Guimarães Rosa. 


 
Identificação

A cultura da região, famosa pela boemia de ontem e de hoje, leva nosso olhar a admirar a rua da Bahia depois de cruzar com a avenida Augusto de Lima. Tombados, temos o atual prédio da Polícia Militar, antigo Cine Guarani, e o Museu Inimá de Paula, antigo Clube Belo Horizonte. 

O historiador e técnico da Diretoria de Patrimônio Cultural, Arquivo Público (DPAM) Ismael Krishna de Andrade Neiva defende a importância de se conhecer o passado de Belo Horizonte. “É importante que as pessoas conheçam a cidade, sua história, seu traçado, seus símbolos. Conhecer essas particularidades nos faz sentir mais acolhidos, pertencentes a um grupo social, à uma comunidade. Temos sentimentos de afeto, lembranças de cheiros, lugares, atividades, amores, todos tendo a cidade como elemento principal ou pano de fundo. Conhecer a cidade e preservar algumas de suas características nos faz sentir bem, confortáveis e importantes, no meio a um mundo cada dia mais impessoal e dinâmico” reflete. 


 
Conselho Deliberativo

As decisões sobre o tombamento e conservação dos prédios da região são de responsabilidade do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH), órgão gestor do patrimônio cultural municipal que define sobre todas as políticas de proteção ao patrimônio material e imaterial. 

O CDPCM-BH faz reuniões abertas mensais, sempre na terceira quarta-feira de cada mês, na sede da Diretoria de Patrimônio Cultural (rua Professor Estevão Pinto, 601, Serra). As reuniões permitem que o público compreenda e acompanhe como a política de proteção ao patrimônio cultural é gerida. “O Conselho entende que o patrimônio cultural edificado é um capital simbólico e participa da construção da identidade cultural dos belo-horizontinos. Por isso a necessidade de se preservar alguns conjuntos urbanos e edificações icônicas ou referenciais”, explica Ismael Krishna.

 

01/02/2018. Rua da Bahia. Fotos: Adão de Souza/PBH