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Mais de trinta pessoas assistem à apresentação do grupo de Hip Hop Ressurge, no Centro Cultural Lagoa do Nado, durante o dia.
Foto: Andréa Moreira/PBH

Pré-Conferência de Promoção da Igualdade Racial

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O som dos tambores soou e o cortejo da Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário / Rainha Nery Martins anunciou a abertura da Pré-Conferência de Promoção da Igualdade Racial das Regionais Norte, Pampulha e Venda Nova, realizada no dia 15 de julho, no Centro Cultural Parque Lagoa do Nado (Rua Ministro Hermenegildo de Barros, 904, bairro Itapoã) com o tema “Brasil na década dos afrodescendentes: Belo Horizonte promovendo a igualdade racial. Por nenhum direito a menos”.

 

Especialmente ornamentada para a ocasião, a Tenda do Bosquinho reuniu, aproximadamente, 100 pessoas representantes das religiões de matriz africana, de povos ciganos e indígenas, bem como autoridades municipais e estaduais. A mesa de abertura foi composta pelo coordenador da Secretaria Regional Norte, Humberto Guimarães; a coordenadora da Secretaria Regional Pampulha, Neusa Fonseca; a coordenadora da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial, Makota Kisandembu; pelo chefe de divisão operacional e de manejo da Fundação de Parques Municipais, Fábio Silveira da Cruz; pelo representante da Comunidade Quilombo de Mangueiras, Maurício Moreira e pela palestrante Vanessa Beco.

 

“As políticas de promoção da igualdade racial devem contemplar tanto a população negra quanto outros segmentos raciais e étnicos da população brasileira. Precisamos enfrentar o racismo institucional que há em nosso país de maneira que, em um futuro próximo, não seja mais necessário fazer conferências ou fóruns de discussão sobre este tema, porque viveremos em uma sociedade igualitária, que respeite o direito de todos”, ressaltou a coordenadora da Regional Pampulha, Neusa Fonseca.

 

Educadora social, especialista em moderação de processos grupais e ativista social com atuação na garantia de direitos das juventudes, combate ao racismo, cultura Hip Hop e feminismo negro, Vanessa Beco fez considerações sobre o tema que norteia as pré-conferências regionais e a conferência municipal de promoção da igualdade racial.  Ressaltou que a igualdade racial está estabelecida, mas ainda não é uma realidade. “As escolas cumprem a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura africana na cultura brasileira, mas precisa ir além, valorizar o negro e promover uma convivência saudável.”

 

Para a palestrante, a valorização do negro como pessoa e o fortalecimento da auto estima em se reconhecer afrodescendente é uma das formas de eliminar a discriminação racial. “Há uma esquizofrenia social no Brasil: somos um país racista onde as pessoas não reconhecem como racistas. É preciso que as pessoas não-negras entendam seu lugar de privilégio e deem a devida importância à política de reparação.”

 

Após a palestra, o vice prefeito Paulo Lamac, acompanhado da Secretária Municipal de Políticas Sociais, Maíra Colares, prestigiaram os últimos trabalhos da mesa e assistiram a despedida da Guarda de Congo e uma eletrizante apresentação do Grupo de Hip Hop Ressurge do bairro Mantiqueira, formado por oito jovens do Programa Escola Aberta (PEA) da Escola Municipal Moyses Kalil. A coordenadora de Promoção da Igualdade Racial, Makota Kisandembu, ressaltou a diversidade cultural na cidade. “Esta é uma região com muitas potencialidades caras que precisam de nossa atenção enquanto poder público. É muito importante fazermos uma conferência e garantir nenhum direito a menos.” Em seguida, os participantes foram divididos em seis grupos para discussão dos eixos de trabalho e formulação de propostas. Finalizadas as discussões, foram eleitos os delegados que irão representar as regionais Norte, Pampulha e Venda Nova na IV Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial, marcada para os dias 28 e 29 de julho.

 

 

Igualdade nas diferenças

A participação de todos os setores da sociedade é importante instrumento na mobilização pela defesa dos direitos conquistados e das propostas de ações efetivas em prol da Igualdade Racial. Estudante da Escola Municipal  Maria de Magalhães Pinto, Alexsander Ítalo Valente de Oliveira Costa (14 anos) participou pela primeira vez de uma pré-conferência. “Ah, eu acho que é besteira esse ‘trem’ de racismo, por isso, quis saber a esse respeito. Nunca presenciei cena de racismo, mas acho importante o papel da Prefeitura e da sociedade na Conferência porque é uma forma de ajudar as pessoas negras que sofrem racismo.”

 

Conhecida como Cida Morena, Aparecida Nascente é moradora do bairro São Bernardo, sendo muito atuante na luta contra a violência contra a mulher. Ela participou das discussões do Eixo 5. “Meu trabalho é a favor das mulheres negras dentro da comunidade, a politização para essas mulheres e também apoio às mulheres vítimas de violência doméstica, de agressão física no ambiente de trabalho, essa é a minha luta. Eu achei a Pré-Conferência muito boa, muito show, trouxe bastante informação pra gente, que é o que a gente tá buscando. Eu acho que deveria ter mais, principalmente dentro das comunidades, próximo do povo, para que todos possam participar. Tenho boas expectativas quanto às propostas. Não posso dizer que todas vão ser aprovadas, mas eu creio que a maioria vai ser de grande êxito para a comunidade e para população negra.”

 

Ana Maria Martins Queiroz é professora da Rede Municipal na Regional Norte e mora no bairro Céu Azul. “Eu achei interessante a Pré-Conferência. Saíram boas propostas do grupo em que eu estava, que era o eixo de Educação, Trabalho e Cultura. Agora vamos ver como vão ser os encaminhamentos para a Conferência Municipal. O que mais me chamou a atenção foi essa reunião de diferentes segmentos da sociedade civil, do poder público, os grupos de manifestações culturais como o congado e o hip-hop.”

 

Débora Ribeiro é funcionária da MGS e mora no bairro São Bernardo. Ela veio participar da conferência e dar apoio voluntário na realização da Pré-Conferência. Participou das discussões do Eixo 1. “Achei as discussões muito enriquecedoras, o tema foi muito bom, bem atual. Eu gostei demais porque aprendi muita coisa, até mesmo para eu lutar para que eu não tenha nenhum direito a menos.”

 

Marisa NZinga é socióloga e vice-presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial(COMPIR). Ela participou das discussões do Eixo 1. “É através destes espaços que a gente levanta propostas e mecanismos para promover a igualdade social, racial e outras. Este é o lugar de falar, então não se cale. Não posso ser julgada por minha cor de pele. Não quero ser tolerada, mas respeitada como ser humano que sou.”