26 November 2018 -
Segunda maior cidade da Colômbia, Medellín tem 2,3 milhões habitantes e, com nove outros municípios, forma uma área metropolitana de 3,5 milhões habitantes. No ano de 1991, era a cidade mais violenta do mundo, com uma taxa de 381 mortes violentas por 100 mil habitantes, que se traduziam na cruel estimativa de cerca de 20 mortes diárias, todos os dias do ano. A maioria das mortes por arma de fogo, principalmente jovens. Medellín era marcada pelo narcotráfico, violência, falta de segurança e corrupção. Hoje, a cidade é um símbolo de mudança, modernização, internacionalização, transformação, educação, cultura, programas sociais e urbanos de alto impacto.
É essa experiência de transformação que Jorge Melguizo, ex-secretário de Desenvolvimento Social e Cultura Cidadã de Medellín, na Colômbia, compartilha com Belo Horizonte na abertura da 5ª Conferência Municipal de Cultura, que será realizada nos dias 26 a 28 de novembro, nos teatros municipais Francisco Nunes e Marília.
Melguizo participa, nesta segunda-feira, dia 26, da mesa “Cultura, Território e Democracia”, que conta ainda com a presença do secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira, da presidente da Fundação Municipal de Cultura, Fabíola Moulin, da vereadora de Belo Horizonte e presidente da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, Cida Falabella, e do professor de Arquitetura e Urbanismo da UFMG Flávio Lemos Carsalade.
“A presença de Jorge Melguizo na 5ª Conferência Municipal de Cultura é muito importante, pois sua experiência de gestão pública na cidade de Medellín/Colômbia é uma referência mundial. O profundo conhecimento da cidade e de seus territórios foi o ponto de partida para que os gestores, de forma coletiva, buscassem soluções para os problemas da cidade. E os problemas não eram pequenos. Medellín era, na época, considerada a cidade mais violenta do mundo”, afirma o secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira.
A cultura como chave de transformação para as cidades
Medellín se transformou em um modelo para outras cidades colombianas e se tornou referência de práticas públicas e privadas para outras cidades do mundo. A educação (40% do orçamento municipal) e a cultura (5% do orçamento municipal) são as principais ferramentas de transformação. Os esforços públicos e privados se concentraram em proporcionar às pessoas mais pobres o acesso a uma educação melhor, tornando o ensino público igual ou até melhor que o privado e fazendo da cultura um direito do cidadão.
A chave para a transformação de Medellín foi a compreensão do papel da Cultura no planejamento de uma cidade. “Hoje, em Medellín, cultura é igual a inclusão, a oportunidade. O direito à Cultura nos permite ser uma sociedade melhor. A cultura havia se tornado impossível para a maioria das pessoas em Medellín, embora também tenha sido por muitos anos, nos bairros, uma das formas de resistência pacífica contra a violência. Por exemplo, o Rap de Medellín reflete muitas das vidas ceifadas pela violência de todos os tipos, mas também conta os sonhos de uma cidade melhor, e o importante é que, nos últimos anos, esse tipo de manifestação cultural encontrou respaldo no público”, relata Melguizo.
Ele conta que, no projeto cultural de Medellín, têm grande força os novos equipamentos culturais e o redimensionamento dos equipamentos culturais anteriores: parques biblioteca, centros culturais, casas de cultura, escolas de música, teatros, museus e espaços públicos. “São espaços onde a cultura é a ferramenta fundamental no exercício de nos encontrarmos para nos entendermos, de nos encontrarmos para nos descobrirmos como coletivo. Estudos são realizados para reunir opiniões sobre o que deverá ser e significar o edifício cultural. Esse mesmo grupo, uma vez inaugurado o novo equipamento, torna-se parte essencial da gestão, dos comitês de direção e programação, e membros dos grupos comunitários que ocupam e dão vida a estes novos espaços”, explica.
Dessa forma, assinala, o resultado é não só um novo edifício ou um novo espaço para a cultura. “O principal resultado que almejamos é uma nova cidadania, são novos cidadãos e cidadãs, conscientes dos seus direitos e deveres, participativos, comprometidos com o presente e o futuro do seu ambiente mais imediato, o bairro, mas com a responsabilidade e a convicção de que seu bairro é construído a partir da transformação da cidade”, afirma o ex-secretário.
“Para combater a violência, a proposta foi a convivência. Convivência nos espaços públicos da cidade de forma conectada e inteligente. Projetos sociais, educacionais e culturais integrados ao urbanismo social e aos edifícios públicos culturais de alto impacto nas comunidades criaram em Medellín um sentido de coletividade e união. A participação aumentou, a confiança na administração pública cresceu. Medellín passou por uma grande mudança cultural que resultou na diminuição dos índices negativos, a pobreza diminuiu 11 pontos, por exemplo, até ganhar o prêmio de cidade mais inovadora do mundo”, salienta a diretora de Políticas Culturais e Participação Social da Secretaria Municipal de Cultura, Fernanda Vidigal.
Conheça Jorge Melguizo
Consultor e conferencista em gestão pública, cultural, cultura cidadã, fortalecimento de organizações da sociedade civil, convivência e segurança. Participou no Processo de Gerência que consolidou e articulou as ações institucionais no Território Centro da cidade de Medellín, promovendo a construção social de lugares com oportunidades para o desenvolvimento humano. Cooperador de informações para vários países da América do Sul, referentes aos processos mais recentes de transformação urbana, social, educativa e cultural implantados na cidade de Medellín. Nessa cidade, atuou também como gerente do Território Centro da cidade de Medellín (2004/2005), secretário de Cultura Cidadã (2005 – 2009) e secretário de Desenvolvimento Social (2009-2010). Atua como consultor em vários países da América Latina sobre políticas públicas, cultura e convivência. Consultor do Governo da Cidade de Buenos Aires – Secretaria de Habitação e Inclusão Social. Consultor do Ministério do Interior do Uruguai para projetos urbanos, culturais e voltadas para cidadania. Professor de universidades em Barcelona, Argentina e Colômbia. Assessor do Programa Nacional de Cultura Viva Comunitária na Colômbia.