4 Abril 2019 -
A visão é o principal canal de comunicação e o sentido mais importante para a criança, sendo responsável pela maior parte das informações recebidas. Auxilia na integração e compreensão das informações dos demais sentidos. Olhando o mundo, a criança observa as pessoas, os gestos e o meio em que vive, possibilitando interação com o meio ambiente que a cerca. Para cuidar de casos em que há uma diminuição dessa capacidade visual, a Prefeitura de Belo Horizonte oferece o Serviço de Habilitação e Reabilitação Visual no Centro Municipal de Oftalmologia (rua Frederico Bracher Junior, 103, bairro Padre Eustáquio). A habilitação e reabilitação visual têm como objetivo oferecer ferramentas e preparar o paciente para atividades diárias e o desenvolvimento de habilidades para a participação nos processos de inclusão escolar, social e profissional.
A terapeuta ocupacional, Marina Furtado Godinho, trabalha com reabilitação intelectual e visual de crianças e adultos com baixa visão. Ela atende casos com diferentes diagnósticos, como neurológicos, catarata congênita, glaucoma e decorrências da toxoplasmose. Como a função do terapeuta ocupacional é fazer com que a pessoa tenha autonomia em sua rotina, ela explica que orienta desde as atividades mais básicas, como alimentação e banho, até as mais complicadas, como atividades na escola. “Preciso avaliar o que a pessoa não está dando conta de fazer em função de uma patologia visual, levando em consideração a visão, as habilidades cognitivas e físicas que a pessoa apresenta e como posso ajudá-la a chegar ao resultado desejado. No caso das crianças, trabalhamos para que elas alcancem um desenvolvimento mais próximo daquelas de sua faixa etária”, esclarece.
Rafaeli Evangelista Oliveira, que está com dois anos e três meses, sofreu sequelas devido a microcefalia, causada pelo zika vírus. Sua mãe, Hilda de Jesus Oliveira, iniciou o processo de habilitação visual bem cedo no Centro Municipal de Oftalmologia, quando ela ainda tinha cerca de três meses. Para garantir o desenvolvimento da filha, Hilda segue todas as orientações passadas pelos profissionais. “Nós fazemos esse acompanhamento aqui e no Centro de Reabilitação. A evolução dela está sendo devagar, mas o trabalho está surtindo efeito. Minha expectativa é alta. Gostaria que a Rafaeli saísse daqui sem os óculos, enxergando tudo. Quero que ela fique bem, e farei o que for necessário para que isso aconteça”, assegura.
A profissional explica que além das questões do olho em si, há também a questão cerebral. O olho é um instrumento, mas quem interpreta aquilo que é visto é o cérebro. “Nesse caso específico, como há uma alteração no cérebro, essa parte também interfere na percepção, na visão”. Dependendo da gravidade da condição, com maior ou menor restrição motora, a evolução pode ser prolongada, mas os estímulos, principalmente nessa idade, são fundamentais, uma vez que é difícil que essa criança desenvolva naturalmente essa coordenação.
O caso do Gabriel Armendani é diferente. Com nove anos de idade, baixa visão e muita energia, ele iniciou o acompanhamento recentemente. Até então, a mãe Gesibel desconhecia o serviço e os dois vieram do interior apenas para esse acompanhamento. “Ele tem desenvolvido bastante depois que eu comecei a deixá-lo fazer as coisas. Porque antes eu não deixava. Pela deficiência, eu tinha medo. Então fui orientada a permitir que ele seja mais independente e isso mudou demais as nossas vidas. O aprendizado não é só dele não, também estou aprendendo muito”, avaliou a mãe.
A terapeuta ocupacional da unidade explica que, no caso do Gabriel, primeiro foi feita uma anamnese para conhecer a situação e na sequência ele recebeu tarefas para serem aplicadas em casa. Já no primeiro retorno, o Gabriel estava tomando banho e comendo sozinho, o que antes não acontecia. Essas tarefas são necessárias para que a terapeuta possa avaliar o grau de dificuldade do paciente e se há resistência por parte dos pais. Também é necessário entender a cultura daquela família, seus hábitos e rotina.
Para acesso ao serviço de habilitação e reabilitação visual, o morador de Belo Horizonte deve ser encaminhado pelo centro de saúde de sua área de abrangência, para consulta com o oftalmologista. Se for morador de outro município, a consulta é marcada pela Secretaria de Saúde do município de origem. Após a avaliação oftalmológica e considerando os critérios da visão subnormal, o usuário poderá ser encaminhado para o serviço de Reabilitação Visual onde será novamente examinado pelo médico oftalmologista especialista em visão subnormal. Este profissional analisa, junto à equipe multiprofissional da unidade, a necessidade do atendimento em habilitação ou reabilitação visual.