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Moradores estudam em mesa
Foto: Leo Faria/PBH

Centro Cultural promove educação de jovens e adultos

criado em - atualizado em

Localizado na região do bairro da Serra, o Centro Cultural Vila Marçola abriga diversas formas de manifestações artísticas e demandas dos moradores locais, como eventos, festas e oficinas de percussão, dança urbana e zumba, além do projeto de Educação para Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal Integrada Senador Levindo Coelho.
 

Criado em 18 de agosto de 2007 pela Fundação Municipal de Cultura, por meio do orçamento participativo da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o Vila Marçola recebe os eventos dos equipamentos públicos e acolhe também qualquer evento dos cidadãos, desde que pertinentes à temática cultural e benéficos à coletividade.
 

A gestora do CCVM, Marcia Lopes, ressalta que o espaço está de portas abertas a todos que desejam fazer uso das instalações que oferecem acesso à internet, auditório com tratamento acústico, camarim, praça de dança, uma biblioteca muito organizada e com um número considerável de obras, gibis, enciclopédias e demais publicações.
 

De acordo com Márcia, a apropriação do espaço pela comunidade, como tem acontecido no caso do CCVM, é de fundamental importância para o sucesso dos centros culturais. Quanto mais as pessoas se apropriam, mais vida o local ganha e mais legítimo se torna como equipamento público. 
 

Uma turma especial do programa de Educação de Jovens e Adultos ocupa um dos espaços do centro cultural todas as tardes. O programa atende ao estudante com idade acima de 15 anos que não concluiu o ensino fundamental ou todo cidadão e cidadã que não concluiu esse nível de ensino por algum motivo. A EJA pode ser encontrada em várias escolas municipais nas nove regionais de BH.
 

A turma que ocupa as tardes no CCVM é especial porque atende a todos os cidadãos que não têm condição de cumprir com o horário noturno ou têm alguma dificuldade de frequentar as salas de aula. As aulas são realizadas em um ambiente informal e com o apoio de mais de um professor. A faixa etária da classe vai dos 15 anos até dona Raimunda, aposentada de 73 anos de idade.
 

A senhora Maria Raimunda conta que trabalhou desde jovem na Escola Estadual Laura das Chagas Ferreira, também na região da Serra, e que em determinado momento foi necessário que todos os funcionários fizessem uma prova para se efetivarem no cargo. Ainda nova e com ajuda de uma das professoras da antiga escola, ela se esforçou e passou na prova, o que a garantiu no serviço público estadual. Porém, com o tempo, o excesso de trabalho e a falta de contato com os estudos e a leitura, ela diz que “perdeu” todo o conhecimento e nem mais conseguia ler um simples texto. Já aposentada, resolveu procurar alguma maneira de “resgatar” o conhecimento perdido. Foi quando surgiu a oportunidade de se inscrever no EJA do Centro Cultural.
 

Maria Raimunda já está matriculada há dois anos e consegue ler novamente. Junto a ela, a classe conta com mais de 30 alunos. Alex Nunes, 25, segurança noturno, frequente há cinco meses na turma especial do EJA, parou de estudar muito cedo para ajudar os pais em casa. Pela necessidade de emprego, ele resolveu procurar aprender a ler e escrever. Alex relata que só foi possível voltar a estudar em função do horário especial da turma do EJA Vila Marçola (durante as tardes) e que desenvolveu muito a escrita e a leitura desde que passou a frequentar a classe.
 

Outra aluna, Laura Ramos, empregada doméstica, entrou há cinco anos na EJA. Afirma que não sabia nada. “Saí do zero”, diz, completando que hoje já lê e escreve com naturalidade, que a vida mudou e que não pergunta mais os nomes de ruas nem números a ninguém, situação que a incomodava muito.
 

A professora titular da classe, Marriene Freitas, explica a peculiaridade da turma que frequenta as aulas no CCVM. “O que motiva esses alunos é o ato de aprender a ler. Aqui temos jovens que chegaram a ingressar na escola e a abandonaram e temos as pessoas mais velhas que nunca tiveram nenhum acesso à escola.” Marriene exalta o fato de ser uma experiência muito prazerosa lidar com os alunos da EJA, pois são estudantes muito compromissados com o aprendizado e que respeitam muito o professor.
 

A professora Silvia Mendes Santiago explica que é uma situação única de educar, pois se trata de educar pessoas que não se encaixaram em nenhum modelo convencional de educação e que, apesar disso, não desistiram de buscar o aprendizado escolar. Diz ainda que, só em Belo Horizonte, o número de pessoas que não alcançaram nenhum tipo de acesso à educação ou foram excluídas do processo passa de 500 mil pessoas. A professora, especialista no processo de educar pessoas nessas condições, observa que é um desafio enorme, pois se trata de uma situação pouco presente nas academias, o que torna o ofício bem pioneiro nesse aspecto.
 

Silvia diz que a atual secretária de Educação, Ângela Dalben, tem dado uma atenção especial ao programa de EJA, com uma nova perspectiva no sentido de qualificar os profissionais que atuam na área, com formações específicas e qualificações fornecidas pela PBH.
 

No dia a dia, o CCVM recebe, em média, 200 pessoas por dia, que  utilizam o espaço comunitário com as mais diversas demandas, sejam elas do lúdico, da necessidade ou da integração comunitária, o que faz dele, de fato, o que um centro cultural busca realizar como serviço público: um ponto de apoio e referência à comunidade.

 

Centro Cultural Vila Marçola

Localização: Rua Mangabeira da Serra, 320, Serra

Telefone: 3277-5250

Internet: de terça a sexta-feira, das 13h às 17h, uma hora por pessoa.

Funcionamento: das 8h às 17h, de segunda a sexta.

Turma do EJA: todas as tardes das 13h às 17h.