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Imagem de uma lápide no Cemitério do Bonfim durante o dia. Céu azul
Foto: Vander Brás/PBH

BH em Pauta: Necroturismo é cultura

criado em - atualizado em

Padre Eustáquio, Olegário Maciel, Silviano Brandão, Benedito Valadares e Roberto Drummond são algumas das personalidades sepultadas no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte. Visitar o local é uma maneira não apenas de conhecer mais a fundo a história da capital mineira, mas também de estar em contato com obras de arte de estilos diversos. Não por acaso, há o projeto “Visitas Guiadas ao Cemitério do Bonfim”, que ocorre no último domingo de cada mês, a partir das 9h.
 

Guiada pela historiadora e professora Marcelina Almeida, a visita aborda a história do cemitério, relacionando-a com a de Belo Horizonte a partir da apresentação dos túmulos de personalidades, das obras de arte de alguns deles e por meio de casos curiosos. Oferecido pela Prefeitura, por meio da Fundação de Parques Municipais (FPM) e em parceria com a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA), o projeto teve início em 2012 e é uma das opções de turismo e cultura para os visitantes e moradores da capital.
 

“A promoção das visitas vem contribuindo para mostrar o cemitério além da utilização comum. Ele pode ser também um lugar de cultura e muita história. Quem for à visita guiada vai encontrar um espaço singular, com um acervo riquíssimo que não pode ser visto em outro lugar”, destaca Marcelina Almeida.
 

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Chamadas de necroturismo, as visitas turísticas a cemitérios são muito comuns em todo o mundo. Um exemplo famoso é o Cemitério de Père Lachaise, em Paris, que atrai turistas pela arte nos túmulos e jazigos, como também pelos nomes dos sepultados: Jim Morrison, Édith Piaf, Allan Kardec, Balzac, Proust, Chopin, Modigliani, Oscar Wilde, entre outros. O Cemitério de La Recoleta, em Buenos Aires, também é um ponto turístico célebre.
 

Para o professor Artur Iannini, especialista em patrimônio histórico, arte e arquitetura, os cemitérios são locais muito especiais e merecem, de fato, atenção. “A arte cemiterial é um dos assuntos que mais me chamam atenção. Há um grande preconceito com os cemitérios, mas aqui há obras de artes maravilhosas, dignas de museus”, conta ele, que já fez diversas visitas a cemitérios, como o da Consolação, em São Paulo, e o São João Batista, no Rio, e até no Chile.
 

Estudante de jornalismo e licenciada em História, Ana Paula Mourão valoriza a arte cemiterial e aprovou a visita ao Bonfim: “Sempre incluo os cemitérios locais nos meus roteiros pelas cidades que visito. Não imaginava que aqui no Brasil poderia haver uma proposta como esta, uma forma institucionalizada e organizada de se conhecer o mais importante cemitério da cidade, do ponto de vista de se entender a história dessa cidade e da sociedade da época.”

 

Premiação

O projeto nasceu de uma prática pedagógica de Marcelina Almeida, que sempre levava os alunos da UEMG para conhecerem o cemitério e a rica história presente nele. A iniciativa foi apresentada para a FPM como proposta de projeto, em 2012, com o propósito de ampliar também à sociedade. “Muitos não conhecem o porquê deste cemitério ser assim, nem sabem a que época ele se refere. Os cemitérios contemporâneos não são mais dessa forma, a demanda agora é por cemitérios parques. Cada necrópole faz parte de um contexto histórico específico, da resposta que a sociedade dá à maneira como lida com seus mortos. Acho que isso é um dos pontos de maior curiosidade das pessoas dentro do projeto”, explica Marcelina.
 

O projeto Visitas Guiadas ao Cemitério do Bonfim recebeu o “Prêmio Mestres e Conselheiros”, durante o VI Fórum Mestres e Conselheiros Agentes Multiplicadores do Patrimônio, realizado de 4 a 6 de junho de 2014, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 


Os próximos encontros acontecem conforme o calendário abaixo e as visitas são suspensas no período de férias de janeiro e dezembro. A atividade é  gratuita e as inscrições podem ser feitas pelo email agenda.visitasbonfim@pbh.gov.br ou pelo telefone: (31) 3246-5147. As turmas são de até 40 participantes.

 

 

O Cemitério do Bonfim

 

Planejado pela Comissão Construtora da Nova Capital com o intuito de romper com a tradição católica de sepultar os mortos nas igrejas, e com isso afirmar Belo Horizonte como uma capital moderna, o Cemitério do Bonfim abriga túmulos que são verdadeiras obras de arte e que carregam parte da história da cidade.
 

Inaugurado em 8 de fevereiro de 1897, o Cemitério do Bonfim, como é conhecido, é a necrópole mais antiga da cidade. O local é fonte de pesquisa de vários profissionais, devido ao acervo histórico, caracterizado por esculturas decorativas de túmulos e mausoléus. Muitas dessas são de autoria de escultores italianos que vieram para o Brasil em fins do século XIX. Em todo o cemitério podem ser observadas obras de arte de estilos diversos, desde a Belle Èpoque, o Art Deco, ao modernismo brasileiro.

 

Túmulos mais visitados

• Padre Eustáquio (Quadra 43, Carneiro 312)
• Irmã Benigna – Consagração de Milagres (Quadra 9, Carneiro 145)
• Menina Marlene – Consagração de Milagres (Quadra 36, Carneiro 26)

 

Personalidades sepultadas

Olegário Maciel – Presidente da República (Quadra 18, Carneiro Especial)
Raul Soares – Ministro da Marinha (Quadra18, Carneiro Especial)
Bernardo Pinto Monteiro – Senador (Quadra 10, Carneiro Especial)
Francisco Silviano de Almeida Brandão – Vice-presidente (Quadra 7, Carneiro Especial)
Benedito Valadares – Governador (Quadra 18, Carneiro Especial)
Julia Kubitschek – mãe de Juscelino Kubitschek (Quadra 18, Carneiro 51A)
Carlos Flávio – filho de Carlos Drummond de Andrade (Quadra 28, Sepultura 41)
Roberto Drumond – Jornalista e Escritor (Quadra 35, Carneiro 317)