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Cinco exemplares da revistinha "Histórias do Confisco", criada pelos estudantes da Escola Municipal Anne Frank.
Foto: Andrea Moreira/PBH

BH em Pauta: Escola recebe prêmio em Direitos Humanos

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Maria Celeste, Graça do Confisco, Maura, Luna Mattos, Isabel, Dona Cuta, Vilma, Dona Fátima, Rita e Dona Zezé. Estas são mulheres que, por causa da perseverança e luta na conquista de direitos para a construção de um bairro, transformaram-se em personagens de uma história em quadrinhos contada pelos estudantes da Escola Municipal Anne Frank.

Reconhecida como Escola Transformadora, título concedido em 2016 pela Fundação Ashoka, a Anne Frank, localizada no bairro Confisco, na região da Pampulha, é a vencedora da 5ª edição do Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos na Categoria A (Educação Formal), promovido pelo Ministério da Educação (MEC). A conquista veio com o projeto “Entre o Diário de Anne Frank e a História em Quadrinhos: Estudantes Construindo a História de um Bairro.”

Localizado em uma área de vulnerabilidade social, o bairro Confisco tem uma história de lutas, dificuldades e várias conquistas. Ao longo dos anos, o bairro passou por muitas transformações e possui pontos positivos que merecem ser destacados. Professor de História na Anne Frank, Moacir Fagundes de Freitas sempre percebeu como os conflitos influenciavam o dia a dia dos estudantes em sala de aula. “Trabalho nessa escola há mais de 10 anos. Ao longo dos anos, vi que era necessário trabalhar com os estudantes as questões do pertencimento e da identidade.”

A ideia, então, era desenvolver um trabalho que mostrasse o valor daquele lugar e das pessoas que moram ali. O pontapé inicial foi dado pela moradora Maria das Graças, conhecida como Graça do Confisco, que sempre quis contar a história da construção do bairro no formato de história em quadrinhos. Para Graça, era importante contar como o bairro foi se transformando por meio do esforço e da união dos antigos moradores: “Eu acredito que pode haver mudanças quando as pessoas conhecem e se envolvem.”

O projeto, então, ganhou o nome de “Entre o Diário de Anne Frank e a História em Quadrinhos: Estudantes Construindo a História de um Bairro”. Entre muitas atividades, ações, oficinas, mas, principalmente com o envolvimento de toda a comunidade escolar, o projeto foi se concretizando. Primeiramente, os estudantes fizeram pesquisas e entrevistas com antigos moradores do bairro para conhecerem como foi o início da ocupação do espaço. Os estudantes encontraram muitos pontos em comum nas várias versões que ouviram. Surpreenderam-se, principalmente, ao encontrar muitas mulheres como protagonistas da história do bairro. Essas mulheres ganharam o nome de “Pessoas-livro” por guardarem na memória momentos importantes que marcaram a história do Confisco. Maria Celeste, Graça do Confisco, Maura, Luna Mattos, Isabel, Dona Cuta, Vilma, Dona Fátima, Rita e Dona Zezé são as Pessoas-livro que tiveram muito orgulho em contribuir, contando as histórias delas como moradoras do bairro.

A etapa seguinte do trabalho foi conduzida pelos professores Moacir e Paulo e pela professora Luciana, que condensaram todo o conteúdo, transcreveram os vídeos e áudios das entrevistas e elencaram os temas para transformar – com a participação e decisão dos estudantes - todo este acervo em um roteiro de história em quadrinhos. Com um extenso material, a escola realizou oficinas de quadrinhos para os estudantes com a parceria dos quadrinistas profissionais Luiz Felipe Garrocho e Rebeca Prado. Foi produzido um rico acervo de desenhos, tendo alguns estudantes assumido a produção final dos quadrinhos. “Importante deixar registrado que todos os desenhos que compõem a história em quadrinhos do bairro foram feitos pelos próprios alunos”, reforça o professor Moacir.


Exposição fotográfica

O trabalho final foi uma revistinha em quadrinhos com 20 páginas, em que personagens reais, tendo a participação especial da menina Anne Frank que dá o nome à escola, contam a história da ocupação do bairro Confisco, as lutas e conquistas. O buracão, o morro, o porquê do nome “Confisco”, o problema de morar na divisa de duas cidades, a luta no Orçamento Participativo e a grande descoberta de que a história do bairro é uma história de mulheres são temas que estão presentes na história contada pelas Pessoas-livro para a visitante Anne Frank.

Diretora da Anne Frank, Sandra Mara Vicente explica como o projeto se enquadrou no concurso do MEC. “A história do Confisco está muito ligada à questão da moradia e da saúde. Por isso, inscrevemos nosso trabalho na vertente de Direitos Humanos.” Para a Graça do Confisco, não importa em qual categoria o trabalho está inscrito; vê-lo concluído foi uma grande alegria: “Fico feliz porque outras pessoas resolveram sonhar o nosso sonho. O mundo precisa conhecer nossa história.”

Além da revistinha em quadrinhos, o projeto teve um outro produto: a exposição fotográfica “Confisco pelo Confisco”, com oficinas ministradas por Luiza Parreira e Gislaine Gonçalves do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Imagem NINFA/UFMG. A exposição surgiu da indignação dos estudantes diante das manchetes negativas sobre o bairro veiculadas na mídia. A proposta era mostrar, por meio das fotografias dos próprios estudantes, que o Confisco também tem beleza.

A Anne Frank é autora de vários projetos de cunho social, cultural e educativo, que fazem toda a diferença no entorno dela. Atende, atualmente, 797 estudantes do ensino fundamental e da EJA – Educação de Jovens e Adultos. Em 2017, a escola completa 26 anos de efetivo trabalho prestado à comunidade do bairro Confisco, procurando sempre manter uma parceria contínua com a comunidade nas conquistas no campo social e constante diálogo para pensar a educação.


Concurso

Voltado para a reflexão sobre os resultados obtidos com os projetos de Educação em Direitos Humanos, o prêmio visa a promover projetos que ajudem a construir uma nova percepção de mundo, com respeito à diversidade, à convivência pacífica e ao exercício da liberdade. É coordenado pela Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) junto ao Ministério da Educação e ao Ministério dos Direitos Humanos. Além disso, é patrocinado pela Fundação SM e conta com apoio do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). São três categorias: Educação Formal; Organizações da Sociedade Civil e de Educação não Formal; e Secretarias de Educação e Secretarias de Direitos Humanos ou homólogas.

A Escola Municipal Anne Frank receberá a premiação no dia 30 de agosto, às 11 horas, na Universidade de Brasília, em Brasília (DF).