13 June 2017 -
O Brasil é um dos países que mais descartam o lixo eletrônico em todo o mundo. Entre os chamados emergentes, fica atrás apenas da China. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a média anual brasileira é de meio quilo por habitante, ou seja, supera a casa dos 100 milhões de quilos.
Um dos motivos que levam a este cenário é a constante atualização dos equipamentos. É comum ver as pessoas comprando novas unidades, mas sem saber o que fazer com o produto que se tornou obsoleto. Com isso, vários deles acabam descartados de maneira incorreta, o que é prejudicial para o meio ambiente e a própria saúde da população.
“Estes materiais têm elementos contaminantes - metais pesados e substâncias venenosas - que, não sendo convenientemente geridos, podem se espalhar e, assim, afetar o ambiente. Com isso, aumenta o nível de contaminação no planeta”, afirma Raphael Tobias de Vasconcelos Barros, professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
É importante saber que esses equipamentos podem ser úteis à outras pessoas, inclusive as que se enquadram na situação de vulnerabilidade social. Uma simples doação pode transformar milhares de vidas.
Em Belo Horizonte, um local em especial trabalha com o recondicionamento e distribuição de computadores, notebooks, impressoras, monitores LCD/LED e periféricos. A unidade do bairro Ipiranga da Prodabel (Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte), na região Nordeste da cidade, por meio do Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC), recebe, recupera e dá um novo destino aos equipamentos usados e descartados por órgãos públicos, empresas privadas e cidadãos.
Em média, a cada três computadores é possível fazer um novo. Depois de prontos, eles são instalados nos mais de 300 telecentros (espaços públicos e gratuitos de inclusão digital) ou doados para instituições filantrópicas, onde são oferecidos cursos de capacitação e acesso gratuito à internet para moradores de comunidades carentes. Desde 2015, mais de 1200 máquinas foram repassadas, sendo 178 neste ano.
“O CRC presta um papel importante porque faz o elo entre dois problemas: o descarte dos equipamentos e a inclusão digital e até mesmo social. O recondicionamento é um trabalho muito nobre e a Prodabel tem atuado com destaque neste cenário, fornecendo novos equipamentos não só para Belo Horizonte, mas para cidades do interior de Minas e até de outros estados”, afirmou Leandro Garcia, presidente da Prodabel.
Leilão
Outro importante trabalho desenvolvido pelo CRC é o leilão do que sobrou na montagem dos novos equipamentos. Por conterem ouro, algumas peças têm valor no mercado. Assim como os novos computadores, o dinheiro arrecadado é destinado aos telecentros para a compra de produtos diversos e melhoria da infraestrutura.
Para participar do leilão, as empresas interessadas devem apresentar uma documentação específica, demonstrando que o descarte do que não for utilizado será feito de maneira correta, sem prejudicar o meio ambiente.
“É louvável que a Prefeitura faça isto. Além de ajudar na gestão dos resíduos sólidos da cidade, dá bom exemplo aos cidadãos. No caso do leilão, imaginar que quem arrematar as peças irá aproveitá-las é muito melhor que jogá-las em algum aterro, ou pior, num lixão”, observa o professor Raphael.
Investimento de R$1,2 milhão para ampliação do serviço
O trabalho realizado no Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC) da Prodabel promete ser ainda maior nos próximos anos. Isto porque um projeto de ampliação, que prevê a construção de uma linha de montagem e a contratação de novos profissionais, está próximo de sair do papel. A expectativa é a de que até o fim de 2018 o serviço esteja disponível.
Por meio de um convênio com o Governo Federal, serão investidos cerca de R$ 1,2 milhão nesta nova etapa, para a montagem de mais de duas mil máquinas que serão doadas. Além disso, serão ministrados cursos de capacitação para mais de 600 pessoas na área de tecnologia.