Pular para o conteúdo principal

Casal Flora e Luiz, quadrilheiros, posam ao lado de vestidos juninos
Foto: Tamires Martins/PBH

BH em Pauta: 40 anos do Pé Rachado

criado em - atualizado em

1200 x 143 pixels (hoje BNDES - fim da página) (1).png

 

Flora tomou gosto pelo forró de tanto ver o pai tocar sanfona em festas do município de Jequitinhonha, nas quadrilhas juninas e nos arraiais. Desde criança ela se encantava com as cores, o ritmo e a dança animada, que, literalmente, levantava a poeira da pequena cidade do Nordeste Mineiro, ali, quase no limite com a Bahia. A menina cresceu, mudou-se para Belo Horizonte, casou-se e, hoje aos 70 anos, Flora Ferreira de Castilho pode comemorar à vontade os 40 anos da quadrilha que fundou e da qual é presidente – o Grupo Folclórico Pé Rachado. “A quadrilha é minha vida. É o que me move, o que me alegra, o que me alimenta”, diz ela. 
 

O marido dela é o soteropolitano Luiz Carlos Veiga de Castilho. Ainda moço, ele não dava a mínima para as tradições juninas. “Eu gostava mesmo é do carnaval”, confessa Luiz, sem negar a baianidade. Mas, com a companheira que escolheu para dividir a vida, não teve saída. “Hoje eu tenho certeza de que ele prefere as quadrilhas”, afirma Flora, aos risos.
 

Foi com ele que ela se mudou para o bairro Boa Vista, em 1969. Alugaram uma casa que ficava em um lote, ao lado de mais outras quatro. Em menos de seis meses, o casal criou o Arraial da Comunidade, com puxador e tudo mais que a quadrilha tinha direito. O Arraial durou pelos três anos em que moraram lá. 
 

Até que se mudaram para o bairro Santa Mônica, em meados da década de 70. No lote em que foram morar não tinha água encanada. Buscavam água na cisterna, alimentada por uma mina. Foram tempos difíceis. Mas o desejo de fazer a diferença foi maior e, com ajuda do marido, Flora fundou a Associação de Moradores do Bairro Santa Mônica. 
 

“Como não tínhamos recursos para registrar a Associação, a solução foi fazer uma festa junina. Mas não existe festa junina sem quadrilha. Então criamos mais uma quadrilha”, relata ela. A fonte de água foi também de inspiração para batizar a quadrilha: Arraial da Biquinha. 
 

Quando Luiz foi inscrever a quadrilha para o então Forró de Belô, no início dos anos 80, foi informado pela Belotur que existia uma quadrilha pseudônima, ou seja, outro Arraial da Biquinha já havia sido inscrito, e que ele teria de dar outro nome para o projeto. Foi assim que, há exatamente 40 anos, nascia o Grupo Folclórico Pé Rachado. Invenção do senhor Luiz, que dizia que, àquela época, moças da roça tinham o ‘pé rachado’ e mereciam a homenagem.
 

Flora não se contentava em tomar conta de toda a produção da quadrilha Pé Rachado. E também não estava muito satisfeita com os vestidos que encomendava, gastando todas as economias. Desse modo, há dez anos, aprendeu a costurar, comprou a primeira máquina e começou a fazer os vestidos para a quadrilha do jeito que “vinham no pensamento”. O neto dela foi, e ainda é, o maior ajudante. Victor Júnior da Silva Castilho é coreógrafo e estilista. Ajuda a vó a desenhar e produzir o figurino dos 44 dançarinos da Pé Rachado. Além de todo o figurino do próprio grupo folclórico, eles também costuram para outras quadrilhas. 
 

A família de Flora e Luiz continua crescendo. Todos os quatro filhos e seis netos também são envolvidos com a festa de São João. Mas, neste ano, quem merece os parabéns é outro filho, o primogênito de 40 anos, chamado Grupo Folclórico Pé Rachado, parte da história da festa belo-horizontina. 


    Viva o Pé Rachado, viva o Arraial!

 

 

23/06/2017. Grupo Folclórico Pé Rachado. Fotos: Tamires Martins/PBH