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Casarão branco com portas e grade azul, durante o dia.
Foto: Gercom VN

BH em Cantos: Casarão centenário

criado em - atualizado em

Construído em 1894, um casarão azul e branco de estilo arquitetônico colonial é um autêntico cartão postal de Venda Nova, tombado em 2003 pelo Conselho do Patrimônio Histórico do município. Trata-se do Centro de Referência da Memória de Venda Nova (CRMVN),  um equipamento da Fundação Municipal de Cultura (FMC). 

Danificado pela ação do tempo e por um incêndio, o Casarão foi reconstruído pela Prefeitura e entregue à comunidade em agosto de 2013, com objetivo de abrigar exposições e o acervo histórico sobre a região, reunido pelos moradores.

Conjugado à UMEI (Unidade Municipal de Educação Infantil) Venda Nova, que ocupa parte de suas instalações com o setor administrativo, o Casarão fica à rua Boa Vista (nº 11), esquina com a rua Padre Pedro Pinto, no centro de Venda Nova.

O equipamento agradou a uma das figuras mais atuantes para que o projeto de reconstrução se consolidasse: dona Lúcia César, de 82 anos, integrante do extinto Culturarte, movimento local que lutou durante décadas pela valorização e preservação da memória de Venda Nova: 

“Está mais bonita do que era. E, com a Umei, só fortalece o pensamento de que cultura e educação devem caminhar juntas”, elogiou ela. 

 Visitas orientadas

Desde a inauguração, o Casarão tem recebido vários grupos de estudantes de ensino fundamental, médio e superior, grupos de terceira idade e saúde mental. O espaço fica aos cuidados do técnico de nível superior do Patrimônio Cultural, Henrique Willer de Castro, que tem desenvolvido um trabalho de educação patrimonial, com visitas orientadas, utilizando diversos recursos lúdicos e didáticos, como caça-palavras, jogo da memória, todos especificamente criados e desenvolvidos com informações da região. 

Os visitantes são recebidos, na maioria das vezes, pela professora Silvana Cheib, que está cedida para a FMC. Ela conta que é muito bom ver a emoção das pessoas em relembrar e outras em conhecer a história de Venda Nova. Ela espera que haja mais visitação ao espaço. 

Em 2016, o espaço recebeu cerca de vinte grupos de visita orientada, totalizando cerca de 350 visitantes. Somados ao público espontâneo, foram quase nove mil visitas. A exposição “Caminhos de Venda Nova: Memória, Sensibilidade e Identidade”, que atualmente está instalada no local, têm propiciado experiências emocionantes. 

“Numa delas, fomos procurados por um senhor, indagando sobre uma foto que está exposta na área externa do local, plotada num dos vidros. É a foto de alguns homens num armazém, que ficava à Rua Padre Pedro Pinto. Emocionado, reconhecera ali seu pai, de quem não possuía nenhum registro fotográfico. Com lágrimas, agradeceu pela oportunidade de receber uma cópia digital da imagem do pai”, contou Henrique Willer.

O técnico do Patrimônio Cultural vê com bons olhos a iniciativa da Prefeitura em manter um espaço de memória para uma região com uma história tão rica. “Venda Nova tem vivido um verdadeiro boom do crescimento habitacional e comercial, que traz diversos impactos. Num contraponto, a iniciativa do poder público municipal em criar e manter um espaço de natureza museológica e memorial se mostra importante, uma vez que a região possui uma história rica, que precisa ser transmitida e preservada. Um esforço de lidar com a tradição e a modernidade, com o desenvolvimento urbano e econômico”, disse.

Memória e história
    

A historiadora Ana Maria Silva, professora da Rede Municipal de Ensino e autora do livro “Lembranças... Venda Nova.” conta que sempre acompanhou a trajetória do casarão, desde quando era criança, curiosa pela imponência da construção, até a participação no processo de luta pelo tombamento como militante do Culturarte. 

“Testemunhei o incêndio que praticamente destruiu todo o casarão e o vi ressurgir através do processo de reconstrução e a implantação, ainda em processo, do Centro de Referência da Memória. A história recente do casarão se encontra com a minha, e esse encontro se manifesta no meu ofício enquanto pesquisadora e professora de história”, disse. 

Ana Maria Silva faz parte de um grupo de pesquisa da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) sobre lugares de memória, intitulado “As Trilhas de Memórias de Venda Nova”, e o casarão está entre esses lugares. Conheça o resultado da pesquisa no link: http://trilhasdememorias_vendanova.uemg.br.