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Fachada do abrigo Anita, durante o dia.
Foto: Amira Hissa/PBH

Unidade de acolhimento institucional completa um ano de atendimento

criado em - atualizado em

Os abrigos Anita Gomes dos Santos 1 e 2, unidades de acolhimento institucional da Prefeitura de Belo Horizonte, completam, em junho, um ano de funcionamento. Nesse período, os dois espaços, que somam 120 vagas, já receberam 212 moradores. São mais de 90 pessoas que passaram pelo abrigo e se desligaram por terem se tornado autossuficientes, possibilitando que a vaga fosse ocupada por outro morador. Atualmente, 90% deles têm emprego formal ou informal.

 

Localizados no centro de Belo Horizonte e geridos pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania, os espaços oferecem, além do acolhimento, toda a estrutura necessária, como quartos identificados com o nome dos moradores, cozinha, refeitório e lavanderia equipados, sala de televisão e salas para execução de oficinas. Os usuários contam com alimentação integral composta por café da manhã, almoço e jantar, preparada pelos funcionários da casa. A organização dos quartos e lavagem das roupas são de responsabilidade dos moradores, com o acompanhamento das equipes.

 

Há, ainda, uma equipe técnica, composta por assistentes sociais e psicólogos, com o objetivo de desenvolver o trabalho social de forma sistemática e continuada. Com foco na reconstrução de projetos de vida, histórias positivas se destacam no dia a dia da casa. “Os dois abrigos Anita Gomes dos Santos são mais uma conquista civilizatória para quem vivencia a extrema vulnerabilidade social e pessoal em nossa cidade, que é a população em situação de rua. Desde sua inauguração, essas unidades têm se destacado na gestão e no trabalho social executados em parceria com o Instituto de Promoção Social e Humana Darcy Ribeiro, que oferece acompanhamento e apoio técnico à Secretaria”, destaca o secretário adjunto de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania e subsecretário de Assistência Social, José Crus.

 

 

Projetos para a vida 

Raimundo Joanes, 64 anos, aprendeu um novo ofício no projeto Mãos da Rua, que oferece oficinas de marcenaria na unidade de acolhimento. Um dos moradores, Antônio Rodrigues dos Santos, ensina o ofício aos interessados, o que permite a geração de renda para o professor e os alunos. As confecções têm pallets doados como matéria-prima e são comercializadas na feira de economia solidária do programa Espaço Cidadania, que acontece na avenida Bernardo Monteiro, sempre às sextas-feiras. Produtos como jardins verticais, bandejas de café da manhã, porta-joias, móveis para jardim, aparadores e mesas são vendidos na barraca.

 

Além da oportunidade de compartilharem conhecimentos sobre o ofício da marcenaria, Raimundo e Antônio foram indicados pela equipe do abrigo para participarem de um curso de capacitação em empreendedorismo, organizado pela Prefeitura de Belo Horizonte no último mês, para aprimorar suas habilidades nos negócios e potencializar suas vendas. “Não vendemos somente o que está exposto. A gente vende na feira e ainda recebemos encomendas. A pessoa desenha, nos passa as medidas e explica o que quer. A gente faz e entrega na semana seguinte. Já fizemos até jogo de sofá”, conta o marceneiro. Os aprendizados adquiridos no curso já estão sendo postos em prática. “De tudo que a gente vende, 25% é reinvestido no nosso negócio, em compra de pallets”, informa.

 

Ao lado deles, Anísio Silva, 53 anos, também comercializa seus produtos na feira. Ele passou a integrar a equipe quando o aprendiz anterior conseguiu um emprego em tempo integral. Anísio produz abajures, caixas e outros objetos feitos de palitos de picolé. “Aprendi essa arte em 1990, dentro de um hospital, quando tive um princípio de AVC. Me ensinaram a fazer uma fruteira, dela eu desenvolvi um abajur. As ideias vão vindo e eu vou colando as peças”, explica.

 

 

Independência e autonomia

O objetivo principal das unidades de acolhimento da Prefeitura de Belo Horizonte é a garantia da proteção social integral e da autossustentabilidade das pessoas em abrigo. A equipe apresenta e encaminha usuários para oportunidades de profissionalização e inclusão socioprodutiva, considerando que o desemprego é um dos principais motivos que levam as pessoas para a situação de rua, como explica o secretário adjunto, José Crus. 

 

“Todo o trabalho social é movido em direção à independência e autonomia do usuário. Nós encaminhamos para vagas de emprego, cursos profissionalizantes, vagas na Educação de Jovens e Adultos, entre outros. O objetivo é que eles recuperem seus projetos de vida, possam trabalhar e posteriormente ampliar sua cidadania e, até mesmo, recuperar seus vínculos familiares”, conta.

 

 

Acolhimento

As Unidades de Acolhimento Institucional Anita Gomes dos Santos funcionam no prédio do antigo Hotel Bragança (avenida Paraná, Centro). As obras nas unidades foram finalizadas em dezembro de 2017 e o primeiro morador chegou em junho de 2018. O serviço é voltado para o público masculino adulto e tem como prioridade o atendimento técnico e o acolhimento de pessoas em processo de saída das ruas. No primeiro ano, foram investidos R$ 2 milhões no funcionamento das casas.

 

Os moradores dos abrigos são encaminhados pelos serviços socioassistenciais do município. Pessoas atendidas nos Centros de Referência da População de Rua ou que pernoitam nos albergues, por exemplo, e estejam em processo de saída das ruas, são indicadas para vagas disponíveis. “Morar aqui é uma etapa, mas não é o final. Por enquanto a gente tem que ficar aqui, até ter um alicerce, até ter um chão firme para a gente poder partir pra outra coisa. Essa é a nossa meta. Partir, expandir e inspirar outras pessoas a fazer como a gente, dar o grito de liberdade e arrastar o pessoal junto, a ideia é essa”, define Raimundo.

 

 

19/06/2019. Abrigo Anita completa um ano de atendimento e acolhimento a pessoas com trajetória de vida nas ruas. Fotos: StenioLima/PBH