15 Abril 2024 -
O Zoológico de BH passou a ser morada temporária de uma jovem onça parda (Puma concolor) no último mês. O animal, nativo do Brasil e das Américas e ameaçado de extinção, foi encontrado atropelado próximo a uma rodovia em Campos Altos, no Alto Paranaíba, no final de fevereiro.
Resgatado pelo Corpo de Bombeiros das cidades de Araxá e Uberaba, com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e do Waita – Instituto de Pesquisa e Conservação, além da equipe do Hospital Veterinário da Universidade de Uberaba (Uniube), o felino passou por uma cirurgia ortopédica de alta complexidade no hospital veterinário da Universidade, ainda em fevereiro, para correção e fixação de uma fratura no osso da coxa da pata traseira esquerda.
Com o sucesso da cirurgia e a necessidade de reabilitação para que possa retornar à natureza em breve, o Centro de Triagem Animal de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama/IEF procurou o Zoo de BH para abrigar o felino até a plena recuperação, um dos vários serviços que a instituição presta dentro dos esforços pela conservação da biodiversidade e, especialmente, dos animais nativos.
Ao chegar a BH, a onça passou por uma avaliação médico-veterinária e comportamental da equipe do Jardim Zoológico da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica e foi colocada em sistema de quarentena, período em que a adaptação e a saúde serão analisados de perto, dia e noite. Por isso, o animal está abrigado em um recinto especial, fora da área de exposição do Zoo de BH, próximo ao Hospital Veterinário.
Desde então, a onça tem sido cuidada e monitorada pelas equipes técnicas (veterinários, biólogos e zootecnista) para que a reabilitação ocorra o mais breve e satisfatoriamente possível. Equipes especializadas do Zoo de BH vêm trabalhando nesse período para que o animal consiga preservar os instintos de forma que a readaptação ao ambiente natural possa ocorrer brevemente e de maneira bem-sucedida, com plenas condições de sobrevivência na natureza.
Esse trabalho – de manutenção e/ou retomada de comportamentos naturais dos animais silvestres sob cuidados humanos - é conduzido com todos os animais do Zoo de BH dentro do Programa de Bem-estar e enriquecimento ambiental, com técnicas específicas que ajudam a estimular e promover comportamentos da espécie na natureza.
Esse trabalho tem grande relevância para o objetivo principal do zoo – a conservação – pois permite a reinserção de animais ao habitat natural e, nos casos em que isso não é possível, eles terão ao menos condições de capacitar seus futuros filhotes a desenvolverem os comportamentos naturais da espécie, aumentando as chances de participação destes nos programas de introdução de espécies nascidas sob cuidados de volta à natureza.
De volta à natureza
Mas o destino do felino recém-operado e em quarentena no Zoo de BH já é certo: o retorno à natureza. Como a cirurgia foi bem-sucedida, isso acontecerá assim que ele alcançar as condições adequadas de mobilidade e segurança. Carlyle Mendes, veterinário chefe do Zoo de BH, explica que a onça vem apresentando boa evolução médica e mantém-se bastante arredia ao contato humano, o que é bastante positivo para o retorno à natureza.
“Ela mantém-se ativa à noite, o que é o normal para a espécie, e “entocada” durante a maior parte do dia, reagindo defensivamente à presença da equipe no entorno do seu recinto. Estamos em constante contato com a equipe do IEF, repassando toda a evolução do caso, para que tenhamos, conjuntamente, a certeza de qual será o melhor momento para a devolução do animal ao seu habitat. Ela ainda apresenta as marcas físicas do complexo procedimento pelo qual passou – como a ausência de pelos na região das intervenções cirúrgicas e uma menor mobilidade temporária, mas seu estado geral de saúde e de comportamento são considerados muito bons”, completa.
A reintrodução da onça na natureza será feita pela equipe do IEF, em local próximo da área onde foi encontrada ferida.
Outros resgates
Embora não seja a atuação principal, o Zoo de BH tem um importante papel no trabalho cooperativo na reabilitação da fauna ameaçada em Minas Gerais e até no Brasil. Além dos atropelamentos em rodovias, o tráfico e a perda de habitat natural (por queimadas, desmatamentos, inundações) são grandes riscos à sobrevivência dos animais e, consequentemente, a causa da busca pelo Zoo de BH para abrigar temporariamente animais vítimas das ações humanas.
Pelo Zoo de BH já passaram centenas de aves resgatadas, ainda filhotes, pelas autoridades competentes, provenientes de comércio ilegal em condições críticas de sobrevivência, além de animais alvejados pela caça e feridos por acidentes em rodovias. O último animal acolhido pelo Zoo de BH, um lobo-guará, espécie também nativa e ameaçada de extinção, foi operado e reabilitado no Zoo de BH em meados de 2023 e já devolvido à natureza. Também passaram pelo Zoo em 2023 duas outras onças pardas.