27 November 2017 -
Biblioteca como espaço de formação para os professores. Essa é a proposta do Projeto Bibliogar - neologismo formado pelas palavras biblioteca e dialogar-, desenvolvido na biblioteca da Escola Municipal Milton Campos, localizada no bairro Mantiqueira, em Venda Nova.
A idealizadora do projeto é a bibliotecária Adriana Pedrosa Martimiano, há 10 anos na Rede Municipal de Educação, especialista em Educação e Relações Étnico Raciais pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além de atuar na EM Milton Campos, é responsável pela coordenação técnica de bibliotecas escolares de mais quatro escolas da Regional Venda Nova.
Os encontros do Bibliogar acontecem mensalmente, na noite da última quarta-feira do mês, com a presença de um convidado para debater assuntos atuais e polêmicos como política, religiosidade, política de gênero, etnia, entre outros, e já contou com estudiosos da Universidade Federal de Ouro Preto, da UFMG e da própria Rede Municipal de Educação de BH. Os debates são abertos para todos os professores dessa Rede.
Neste mês, em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, o projeto traz a ativista política Rosália Diogo, gerente do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado e coordenadora do Festival de Arte Negra (FAN). Na próxima quarta-feira, dia 29 de novembro, Rosália Diogo vai falar sobre Feminismo Negro.
Espaço de formação
A bibliotecária Adriana Pedrosa conta que o projeto surgiu da necessidade de tornar a biblioteca, além de espaço de leitura, local para debater ideias e compartilhar conhecimento. “Pensei num projeto voltado para o professor porque acredito que a formação do professor reflete na sua prática na sala de aula. Ao investir no professor, consigo chegar indiretamente ao aluno. E também porque considero importante que o professor se aproprie do espaço e dos materiais que a biblioteca oferece”, disse.
Nos dias de debates, a biblioteca disponibiliza obras do seu acervo relativas ao assunto em questão para aprofundamento. “Biblioteca não é lugar de silêncio. É lugar de diálogo e de escuta, onde se adquire informações que devem ser transformadas em conhecimento. Biblioteca é lugar de leitura e se o leitor quiser desenvolver a capacidade de formar opiniões críticas, precisa ler e, acima de tudo, compartilhar o aprendizado”, completou a bibliotecária.
Sérgio Souza, coordenador pedagógico da Milton Campos, considera a importância do projeto. “O diferencial do Bibliogar são os temas debatidos sobre questões sociais da atualidade que, nem sempre, aparecem em outros momentos de formação ou nos currículos escolares. Já discutimos, por exemplo, as questões de gênero, diversidade sexual, laicidade e a questão religiosa, etnia, entre outros. Vejo esse espaço como um momento de formação livre”, completou.
Dinâmica
A cada encontro, as inscrições são abertas e a bibliotecária envia para o e-mail dos participantes inscritos os textos sugeridos pelo convidado. Dessa forma, os participantes podem fazer uma leitura prévia e ter subsídios para acompanhar o debate. No dia do encontro, também ficam expostos na biblioteca livros que tratam do assunto debatido como forma de ampliar o conhecimento do tema.
“Participar do Bibliogar me trouxe novo alento para a discussão dos processos pedagógicos, políticos e étnicos que perpassam o ambiente escolar e social. Ver tanta gente reunida em uma quarta à noite para reflexão é algo animador e motivador. O projeto tem o mérito de trazer para o chão da escola temas que muitas vezes ficam restritos à academia ou a grupos militantes, possibilitando formação continuada aos participantes. É uma atividade frutífera, que deve permanecer”, avaliou Márcio Ramos, professor de História da Escola Municipal Deputado Renato Azeredo.
A opinião de Marcio Ramos é corroborada por Sônia Regina, professora de Língua Portuguesa e Literatura da EM Milton Campos. “Participo do projeto que oportuniza a leitura, o diálogo, a atualização de dados, entre outros aspectos positivos. Estes encontros contam com profissionais responsáveis, com mediadores que promovem debates pautados pela ética, atendendo às expectativas de todos nós, educadores, através de abordagens no âmbito educacional, assim como o contato sociocultural e político em que estamos inseridos.”
Adriana Pedrosa fica satisfeita com o alcance do seu trabalho. “Este projeto trouxe como retorno a proximidade com o professor. Ao ouvir as experiências, ganhos, perdas, sucessos e até mesmo as angústias, revejo minhas práticas e isso ajuda a redefinir meu trabalho na biblioteca, fazendo com que ela esteja cada vez mais integrada à sala de aula. Além é claro, da divulgação do acervo da biblioteca”, completou.