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Ailton Krenak
Foto: Neto Gonçalves

Mostra de Culturas Indígenas traz debate com Ailton Krenak

criado em - atualizado em

“Não tem para onde a gente ir. Somos todos habitantes desta biosfera, deste organismo vivo chamado Gaia, que é a Mãe-Terra. Vamos ter que resolver nossos problemas aqui”. A reflexão de Ailton Krenak, um dos maiores líderes indígenas brasileiros, exemplifica a importância de buscar a sabedoria dos povos originários, principalmente em tempos de crise. Um meio potente de acesso a esses saberes é a arte - e foi pensando nisso que o Circuito Municipal de Cultura criou a Mostra de Culturas Indígenas. Totalmente gratuito e on-line, o evento acontece entre 19 e 24 de abril, com exibições de filmes, exposições, um sarau e um bate-papo com a participação de Krenak. O Circuito Municipal de Cultura é realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e pela Fundação Municipal de Cultura (FMC), em parceria com o Centro de Intercâmbio e Referência Cultural (CIRC). 

 

Não é por acaso que a mostra acontece em abril. No Brasil, o mês é marcado por diversos eventos que destacam a diversidade, a resistência e a luta dos povos originários do país. A programação da mostra começa no dia 19, com uma exposição virtual de artistas indígenas contemporâneos. Projeto da artista visual e pesquisadora mineira Aline Xavier, a "Coletiva - Intervenção digital com Arte Indígena Contemporânea" é resultado do curso "Caminhos da Arte Indígena Contemporânea, realizado em 2020 no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. 

 

O artista indígena Jaider Esbell (da etnia Makuxi, de Roraima) e a antropóloga mineira Paula Berbert, que ministraram o curso, assinam a curadoria junto a Aline Xavier. A artista também é responsável pela exposição digital “Jequi”, que fecha a programação no dia 24, às 11h.  A série é composta por fotografias de esculturas feitas por Xavier e destinadas a espaços públicos dos bairros Acaiaca, Tupi, Guarani e Vila do Índio, em Belo Horizonte. Iniciados em 2017, os trabalhos trazem armas e armadilhas de caça indígenas conservadas em museus e coleções particulares. 

 

Também no dia 21, às 19h, será exibido, no YouTube da Fundação Municipal de Cultura, o filme “Nũhũ Yãgmũ Yõg Hãm: Essa Terra é Nossa!” (2020). Dirigido pelos cineastas indígenas Isael Maxakali e Sueli Maxakali, em parceria com os pesquisadores Carolina Canguçu e Roberto Romero, o filme apresenta a tradição dos Maxakali, que antes da chegada do homem branco saíam para caçar com os espíritos yãmĩyxop. 

 

A programação continua com o Sarau Árvore Nômade, do poeta mineiro Rafael Fares, que será exibido no dia 22, às 20h, no YouTube da FMC, no Facebook e no Instagram do Circuito. Transformação do livro “Árvore Nômade” para o cinema, o vídeo é um roteiro tecido com sons, poemas e imagens poéticas da vida das árvores em suas relações com os humanos, assim como nos ensina o pensamento indígena. 

 

Para Ailton Krenak, a relação dos indígenas com a natureza traz uma reflexão sobre o conceito de ancestralidade. “As pessoas costumam vincular ancestralidade a uma cultura, a um povo. Mas a ancestralidade é uma condição. Tudo que já existiu tem ancestral. Uma pedra tem ancestral, uma árvore tem ancestral”, afirma o ambientalista, filósofo e escritor mineiro. “A experiência que temos vivido nos últimos tempos traz uma suspensão de sentidos que nos enrijece. As pessoas se esquecem que têm história, no sentido biológico. Afinal, existe um DNA comum que criou a vida na Terra e que continuou com a gente”, explica. 

 

Completando a programação da Mostra de Culturas Indígenas, Krenak participa de um bate-papo com a artista, curadora e diretora teatral mineira Andreia Duarte. Com mediação da artista mineira Izabel Stewart, a conversa aborda os desdobramentos do espetáculo “O Silêncio do Mundo”, apresentado em 2019, que propõe uma reflexão justamente sobre a forma como o humano se relaciona com o planeta. Projeto de Krenak e Duarte, a peça também foi elaborada por outras duas lideranças indígenas, Davi Kopenawa e Levi Yanomami. O bate-papo será exibido no dia 23, às 20h, no YouTube da FMC, no Facebook e no Instagram do Circuito. 

 

Para Aline Vila Real, diretora de Promoção das Artes da Fundação Municipal de Cultura, o evento reflete a potência da arte indígena contemporânea. “A programação dessa Semana de Cultura Indígena é um chamado para expandirmos nosso olhar e entendermos as possibilidades de reconstrução do que hoje chamamos de humanidade, considerando a arte como uma ferramenta potente para essa ação”, conclui.

 

 

Sobre o Circuito Municipal de Cultura 

 

Projeto estratégico da Prefeitura de Belo Horizonte, foi lançado em dezembro de 2019, com grande show de Jorge Ben Jor na Praça da Estação. Em maio de 2020, foi lançado o Circuito em Casa, como parte do Circuito Municipal de Cultura, criado para ampliar as opções culturais para a população que está em casa durante a pandemia da Covid-19. Suas ações integram a Política de Promoção das Artes do município. 

 

Até o momento, foram cerca de 300 apresentações realizadas, alcançando um público de mais de 450 mil pessoas. Desde o início do projeto, o Circuito Municipal de Cultura já contou com a participação de mais de 1 mil trabalhadores da cultura, entre artistas, mestres da cultura popular, produtores e técnicos, reforçando seu importante papel de fomento ao setor em Belo Horizonte. Toda a programação do Circuito Municipal de Cultura é gratuita, contemplando as diversas linguagens artísticas e faixas etárias.