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Passista de escola de samba é porta-bandeira, com vestido vermelho e faixa escrita "Madrinha do Leão". Ao lado, homem, representa o mestre-sala, e usa faixa com escrita "Padrinho do Leão". Os dois sambam na Avenida Afonso Pena à noite
Foto: Arquivo Belotur/PBH

Leão da Lagoinha, o primeiro bloco de BH, completa 70 anos

criado em - atualizado em

"No carnaval de 1948, alguns meninos resolveram sair às ruas vestidos de mulher. As irmãs de um deles se entusiasmaram e capricharam na maquiagem e nas roupas. Ao se verem em frente ao espelho, chegaram à conclusão que estavam tão perfeitos que correriam o risco de receber algumas cantadas”. Esse trecho do livro “A turma e outros casos”, de Tarcísio Ildefonso Costa, ilustra o início de uma brincadeira de carnaval que se tornou tradição. No caso, os garotos estavam brincando ao som da bateria do Leão da Lagoinha, fundado em 1947, primeiro bloco de rua do Carnaval de Belo Horizonte.
 

A concentração acontecia sempre no mesmo local: no encontro das ruas Itapecerica e Machado de Assis, na boêmia região da Lagoinha. De lá, o bloco seguia em cortejo até a avenida Afonso Pena, para abrir os desfiles das escolas de samba. “Vinha gente da cidade inteira, era uma coisa de louco!”, comenta Jairo Nascimento Moreira, atual presidente do Bloco Leão da Lagoinha e também da Associação Cultural Recreativa Santo André.
 

De acordo com ele, a origem do Leão da Lagoinha tem muito a ver com o lendário Terrestre Esporte Clube, conhecido como a agremiação de várzea mais querida da cidade, não só pela popularidade, mas também por proporcionar fervorosos bailes dançantes em sua sede social, na rua Itapecerica. “Juscelino Kubitschek era frequentador assíduo desses bailes, onde músicos, jogadores e outras personalidades da época se misturavam ao povão”, conta Jairo Nascimento. Hoje, além das saudosas memórias boêmias, o sobrado verde da rua Itapecerica abriga bares, uma borracharia e uma relojoaria.
 

Jairo conta que o Leão sempre teve um “quê” de teatral. Uma das inspirações era o mito da Loira do Bonfim – diz a lenda urbana que ela seduzia homens e os levava para casa, que na verdade era o Cemitério do Bonfim, onde desapareciam. “Em homenagem a ela, foliões colocavam perucas loiras, exageravam no batom vermelho e, em um misto de teatro e samba, desfilavam pelas ruas do bairro”, relembra.
 

Porém, nem só de festas viveu o bloco mais antigo da cidade. Em uma dissidência ocorrida em 1975, parte dos músicos e foliões fundou a Banda Mole. Cerca de cem foliões fantasiados de mulher saíram da Lagoinha em direção ao Centro da cidade. Em 1995, a Banda Mole alcançou seu recorde de público, arrastando cerca de 400 mil pessoas em seu tradicional pré-carnaval de rua.
 

De 1975 a 1985, o Leão da Lagoinha foi “sobrevivendo” com sérios problemas financeiros. “Assim, o Leão adormeceu. Somente em 2010 começamos a discutir novamente a volta do bloco, que aconteceu de fato no Carnaval de 2017”, aponta Jairo. O Leão da Lagoinha se juntou à bateria Manhas e Manias e fizeram ensaios abertos na comunidade. Com tudo afinado, voltou para a avenida Afonso Pena e, “acordado como nunca”, como afirma Jairo, o Leão abriu novamente os desfiles de Escolas de Samba do Carnaval de Belo Horizonte.
 

“Até arrepio, dá vontade de chorar”, diz Jairo, emocionado, sobre a emoção ao ver novamente o bloco mais antigo da cidade na ativa. Em 2017, o Leão da Lagoinha completou 70 anos. Em setembro deste ano, recebeu homenagem na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
 

O Leão da Lagoinha já está cadastrado pela Belotur para desfilar no Carnaval de Belo Horizonte 2018. Uma das novidades é uma parceria com o artista-plástico e carnavalesco Léo Piló, para confecção de uma escultura com o leão símbolo do bloco. “Além disso, vamos produzir uma camisa comemorativa dos 70 anos, um DVD e uma grande festa”, antecipa Jairo. 
 

Como o próprio hino do bloco diz: “Salve, salve o Leão da Lagoinha. Salve, salve BH!”.

 

Carnaval de Belo Horizonte 2018

O Carnaval de Belo Horizonte está consolidado como um dos maiores do país. Mais do que isso: com uma gestão compartilhada entre Prefeitura de Belo Horizonte e a sociedade civil, o Carnaval da capital mineira também se destaca pela organização: segurança, limpeza, mobilidade e serviços se aliam à pluralidade, diversidade e democracia.

Em 2017, a folia em Belo Horizonte contou com três milhões de pessoas nas ruas. O número demonstra que a cidade superou as estimativas de público e viveu a maior festa de todos os tempos. A folia atraiu mais de 500 mil turistas. Os 368 blocos de ruas cadastrados pela Belotur, com seus 416 cortejos, animaram todos os cantos da capital. Para 2018, a Prefeitura de Belo Horizonte estima um aumento de 20% no número de foliões, passando dos três milhões para 3,6 milhões.

De acordo com Aluizer Malab, presidente da Belotur, Belo Horizonte vive um momento histórico. “O que presenciamos esse ano não passa apenas pela recuperação do nosso Carnaval, mas também pela mudança de paradigma como cidade. Estamos nos entendendo como uma cidade cosmopolita, turística, de grandes fluxos, eventos e pessoas, tudo isso aliado à nossa cultura genuína, que proporciona experiências únicas. BH se acendeu para o Brasil e para o mundo e o Carnaval foi o marco desse novo capítulo de nossa história", analisa Malab.

Além dos desfiles de blocos de rua, o Carnaval de Belo Horizonte também conta com palcos oficiais para shows de artistas locais contratados pela Prefeitura de Belo Horizonte. Em 2017, três palcos agitaram a cidade. Para 2018, mais palcos estão previstos, incluindo as regionais, descentralizando e democratizando ainda mais a festa momesca. Além disso, a cidade também conta com os tradicionais desfiles de Escolas de Samba e Blocos Caricatos.

 

22/11/2017. Leão da Lagoinha. Fotos: Arquivo Belotur