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 Território do Largo do Rosário recebe registro provisório como patrimônio cultural imaterial de Belo Horizonte
Foto: Projeto Paisagens Pitorescas (PIBIC)/Negricidade

Largo do Rosário recebe registro provisório de patrimônio cultural imaterial

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O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH) aprovou, na tarde desta quarta-feira, dia 30, o registro provisório do Território do Largo do Rosário como Patrimônio Cultural Imaterial da cidade, durante a sua 319ª Sessão Ordinária. O Largo do Rosário é o nome utilizado para designar a Igreja do Rosário e seu adro com um cemitério com 60 sepulturas. 

Construído pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, o Cemitério entrou em funcionamento em 1811, enquanto a Capela foi inaugurada em 1819, no Curral Del Rey.  No entanto, o Largo do Rosário foi destruído durante a construção da nova capital. De acordo com os estudos que subsidiaram o dossiê, o Largo ficava no trecho situado onde atualmente estão as ruas da Bahia, Aimorés, Espírito Santo e avenida Álvares Cabral.

“O registro do Largo do Rosário como Patrimônio Cultural Imaterial atende a uma reivindicação histórica dos movimentos afro-brasileiros na busca pelo resgate de sua memória. Esse resgate simbólico fortalece uma referência identitária da população negra da cidade, criando referências materiais para anunciar a existência do Largo do Rosário como um espaço de acolhimento de celebrações, eventos e ações educativas, entre outras, relacionadas à comunidade afro-brasileira belo-horizontina”, destaca a secretária municipal de Cultura e presidenta interina da Fundação Municipal de Cultura, Fabíola Moulin. 

Processo de tombamento 

Em agosto de 2021, o CDPCM-BH analisou e aprovou o pedido de abertura do processo de Registro do Território do Largo do Rosário como Patrimônio Cultural Imaterial. Dessa forma, a Diretoria de Patrimônio Cultural e Arquivo Público da Fundação Municipal de Cultura iniciou os estudos para avaliar a viabilidade técnica de conferir o título  ao bem. A partir deles, foi feito um dossiê com uma síntese dos estudos e levantamentos necessários. A partir da avaliação do dossiê, os conselheiros fizeram a votação com o parecer favorável ao reconhecimento. Dessa forma, o Largo receberá o Registro Provisório, e decorrido o prazo regimental de 15 dias após a publicação da decisão dos Conselheiros no DOM, e não havendo recursos contrários à decisão, o bem receberá o título permanente. 

Sobre o Largo do Rosário 

O Largo do Rosário é o nome dado ao espaço em que situava a Igreja do Rosário (inaugurada em 1819) e seu cemitério (inaugurado em 1811), construídos pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, no Curral Del Rey. As Irmandades eram associações religiosas de Leigos marcadas pelo laço de solidariedade entre os membros para atender às necessidades no campo terreno e espiritual. As irmandades de homens pretos eram alternativas encontradas pelos negros, excluídos das irmandades de brancos, que construíam suas próprias associações dedicadas aos santos de sua devoção (São Benedito, Santa Efigênia, Nossa Senhora do Rosário) com a edificação de Igrejas, cemitérios, festas e celebrações.  

Entretanto, durante a construção da nova capital de Minas Gerais, inaugurada em 1897, todos os imóveis que ficavam dentro dos limites da Avenida 17 de dezembro (atual Avenida Contorno) foram demolidos para construção de novas edificações. À época, a elite dirigente do Estado pretendia construir uma capital moderna, semelhante a Paris e Washington, e apagar a memória dos períodos Colonial e Imperial brasileiro. A planta da cidade, assinada pelo engenheiro Aarão Reis, representava este ideal e não previa local para assentamento da massa de trabalhadores, composta em sua maioria por negros ou imigrantes europeus. 

Excluindo a população negra, principalmente, a área urbana da nova capital foi planejada com o objetivo de receber o aparato burocrático-administrativo do governo e os funcionários públicos, vindos de Ouro Preto. Com a proibição dos sepultamentos no entorno das Igrejas, acrescida da demolição da capela e do Cemitério do Rosário, os corpos sepultados no cemitério da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos não foram exumados e trasladados para o novo cemitério municipal (atual Cemitério do Bonfim). 

Para substituir a Igreja do Rosário, uma nova capela foi erguida na esquina formada pelo entroncamento da Avenida Amazonas com as ruas São Paulo e Tamoios. Inaugurada em 1897, passou ao controle e propriedade da Arquidiocese de Belo Horizonte, desaparecendo, doravante, referências à Irmandade do Rosário enquanto proprietária. 

A demolição do templo e a destruição do cemitério são fatos históricos denunciados por lideranças afro-brasileiras, que buscam, há anos, reconstituir e resgatar as memórias da população negra belo-horizontina.  Assim, a titulação do bem representa uma importante contribuição para o direito à memória da comunidade afro-brasileira de Belo Horizonte e dos munícipes em geral, uma vez que todos têm o direito de conhecer a história da cidade com toda a sua diversidade.