1 December 2023 -
Nas ruas e edifícios de Belo Horizonte, encontramos diversos nomes indígenas que se integram ao cotidiano dos residentes, enriquecendo a identidade cultural da cidade. A partir deste domingo (3), o Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado - CRPC inaugura a mostra inédita “Pakaçara: BH é Terra Indígena”, que evoca o despertar das etnias, e vem, com a força dos ancestrais, convidar a presença dessa multidão encantada a reabitar a cidade que os pertence. A exposição, que possui realização da Prefeitura de Belo Horizonte por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura em parceria com a Associação Cultural e Artística Ouro Negro, poderá ser visitada até outubro de 2024, e segue o horário de funcionamento do CRCP, de terça-feira à sábado, das 9h às 17h. A abertura da mostra, no domingo (3), acontece das 10h às 13h.
“Pakaçara: BH é Terra Indígena” foi criada a partir de um movimento que une a arte, a criatividade, os saberes tradicionais e a cosmologia dos povos indígenas, em busca de reforçar sua resistência e conceber um aporte didático para o conhecimento do público. A mostra nasceu sob a curadoria da professora e socióloga Avelin Kambiwá e da socióloga Maria Flor Guerreira (Txahá Txohã), com co-curadoria e cenotecnia de Yaku Runa Simi, artivista híbrido multilinguistico. A pesquisa, concepção e produção executiva da exposição contou ainda com o apoio do Comitê Indígena Mineiro, e a mostra conta com a participação de artistas indígenas convidados na produção de mural e grafismos.
A secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, ressalta a importância dessa mostra de longa duração que estreita os laços afetivos e históricos de Belo Horizonte com a população indígena e os saberes. “Com ‘Pakaçara: BH é Terra Indígena’ abrimos espaço para a intersecção entre as tradições indígenas e a contemporaneidade, dialogando com os nomes das ruas de Belo Horizonte. Parte do projeto “Em Exposição: Cultura Popular”, essa é mais uma mostra que busca difundir e promover as várias formas de manifestações da cultura popular na cidade, realizando exposições anuais no Casarão do CRCP Lagoa do Nado, por meio de parcerias que levam o público a refletir sobre a importância cultural, histórica e religiosa que formam suas identidades”, reflete.
Para Luciana Féres, presidente da Fundação Municipal de Cultura, é de extrema importância que a mostra ocupe o CRCP, em alinhamento com as atividades desenvolvidas no local dentro da política pública cultural do município. “O Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado se estrutura como um ponto de encontro permanente para a discussão sobre a cultura popular e tradicional na capital, configurando-se como um centro de excelência e importante espaço de formação. A mostra inédita sobre a cultura indígena na Capital reafirma, mais uma vez, nosso compromisso em preservar e valorizar a memória e o pertencimento das etnias na construção de nossa história”, ressalta.
Universo em três tempos
A expografia de “Pakaçara: BH é Terra Indígena” foi pensada de modo a inserir o visitante em três diferentes espaços, todos identificados na língua nheengatu. Dessa forma, o público participa do processo de Pakaçara, que significa “Despertar”, transitando pelas diversas artes apresentadas e honrando a ancestralidade dos povos indígenas.
No primeiro espaço, chamado de Sala Wãkãkã (Fantasma), o visitante encontrará os mapas das ruas de Belo Horizonte sendo reanimados através de grafismos indígenas. Esse ritual de despertar é realizado pelos participantes por meio dos maracás, um dos instrumentos musicais indígenas mais conhecidos, sendo seu nome muitas vezes utilizado como uma designação genérica para chocalhos. Consiste numa cabaça seca e oca com pequenas pedras, caroços ou sementes em seu interior, colocada na extremidade de um bastão, normalmente feito de madeira.
Os visitantes passam então à Sala Waruá, espaço audiovisual que leva o nome de Espelho, com registros contemporâneos em busca de uma reflexão acerca de um futuro ancestral. Por fim, a Sala Úkapura, a Casa Habitada, que trata da cosmologia dos povos-espíritos e seus guardiões, com esculturas de vários povos e murais que evocam a profecia "Seremos Milhões". A mostra busca celebrar uma festa com muitos povos, onde vários mundos coexistem.
Projeto “Em exposição: Cultura Popular”
A ação busca valorizar, difundir e promover as várias formas de manifestações da cultura popular na cidade de Belo Horizonte, realizando exposições anuais, no Casarão do CRCP Lagoa do Nado, proporcionando maior reconhecimento e visibilidade à cultura popular, que muitas vezes é discriminada e está à margem de um suposto saber elitizado. Destaca-se ainda a sua grande importância para a educação patrimonial, visto que na elaboração da exposição, o setor educativo procura desenvolver, juntamente aos curadores, ações de mediação junto ao público espontâneo e agendado.
Em dezembro de 2018, foi inaugurada a Exposição “Quilombos Urbanos e a Resistência Negra em BH”, que teve como objetivo valorizar e divulgar a cultura dos três quilombos urbanos de Belo Horizonte (Manzo Ngunzo Kaiango, Luízes, e Mangueiras), reconhecidos como Patrimônio Cultural do Município em dezembro de 2017. Por meio do acervo oriundo dos quilombos, foi contada a história de luta e resistência desses territórios pela ótica cultural, histórica e religiosa que constituem suas identidades.
No ano de 2019, foi realizada a Exposição “Maracatu Chico Rei”, buscando refletir acerca do bailado afro-brasileiro, composto por Francisco Mignone em 1933, repensando os limites entre o popular e o erudito. Essa música, assim como parte significativa do repertório brasileiro do século XX, esgarça esses conceitos e mostra que elementos culturais identificados a determinados grupos sociais transitam dentro da sociedade. Em decorrência dos efeitos da pandemia, a exposição ficou em exibição até setembro de 2023.
Serviço | Exposição “Pakaçara | BH é Terra Indígena”
Local: Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado | Espaço Expositivo/Casarão (R. Min. Hermenegildo de Barros, 904 - Itapoã, Belo Horizonte)
Abertura: domingo (3), das 10h às 13h
Período expositivo: 3 de dezembro a outubro de 2024
Horário de visitação: de terça-feira à sábado, das 9h às 17h
Entrada gratuita sem inscrições prévias.