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CRAS atuam para promover direitos e autonomia de mulheres em BH
Divulgação/PBH

CRAS atuam para promover direitos e autonomia de mulheres em BH

criado em - atualizado em

A Prefeitura de Belo Horizonte oferece nos 36 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) diversas ações de proteção à mulher. Uma das iniciativas disponíveis nesses locais é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), que contribui para o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e promove acesso a direitos. Apenas em janeiro deste ano, mais de 4 mil famílias, que têm a mulher como referência familiar, participaram das atividades promovidas pelo PAIF, com destaque para aquelas realizadas em grupo, proporcionando conexões, identificação de questões em comum, com ênfase nas potencialidades das participantes e incentivando a construção de soluções para superar as fragilidades.

No CRAS Graça Sabóia / Morro das Pedras, no Bairro Grajaú, foi constituído um Grupo de Mulheres, em que as integrantes a partir de 18 anos participam de atividades que propõem o autocuidado e abordam temas como o combate à violência e os papéis da mulher na sociedade. Regina Helena Marques Pessoa, psicóloga do CRAS, explica que o grupo cumpre uma função importante no território. “O Grupo tem como objetivo trocar experiências sobre violências variadas contra a mulher e tratar de temas como sobrecarga, adoecimento, depressão e ansiedade. A partir dele, as mulheres refletem sobre seu contexto e são incentivadas a serem protagonistas de suas próprias histórias”, relata.

Força feminina

Entre as diversas atividades propostas e a troca de experiências, surgem histórias que ressaltam a força feminina diante de violências cometidas no ambiente familiar, do aprendizado de romper ciclos a essas violências e da busca de uma vida melhor.

Raimunda de Fátima Frois, entrou para o grupo há cerca de 6 meses. Moradora da região há 47 anos, servente aposentada e dona de casa, Raimunda, já foi cuidadora da cunhada e da sobrinha, além de cuidar da alimentação de parte da família.  “Nunca recebi um feliz aniversário, uma flor, um presente. Meus quatro filhos têm me suprido”, contou. Raimunda afirma que o grupo foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida, pois deu a ela coragem para vencer. “Fiquei 3 anos lutando sozinha, porque tinha muito medo de dizer não. Aqui aprendi a colocar limites e a falar não e sim na hora certa, e deixei para trás o medo que eu tinha”, explicou.

O aprendizado de dizer não às sobrecargas familiares também faz parte da vida de Rosimeire Rodrigues da Silva, que passou a fazer parte do grupo em 2021. “Uma mão lava a outra e quando chega a minha vez a água acaba”, ponderou Rosimeire ao lembrar de sua história, marcada por episódios violentos na infância e no casamento, pela perda do emprego e o abandono do marido. Ela acrescentou que, desde a pandemia, já passou por momentos em que não tinha o que comer nem o que vestir. “O Cras me abraçou, literalmente. Estou muito melhor do que cheguei. Fui incluída no Cadastro Único e avaliaram minha situação, entendendo que eu estava nos critérios para receber o Bolsa Família, que hoje me ajuda muito”, assegurou.

O poder do afeto

“Abordamos temas como afeto, dor, deserto da alma”, explicou Maria Eugênia Porto Ribeiro da Silva, assistente social do CRAS. Como exemplo de dinâmica realizada, Ribeiro apontou a atividade com o tema  “Que rainha sou eu?”, que incluiu representações de afazeres domésticos como cozinhar e arrumar a casa, e das inovações da atualidade, como a utilização de carro ou computador, atividade que convidava a refletir sobre quais papéis cada uma vem exercendo no dia-a-dia. Ao final do exercício, todas ganharam uma coroa. Maria Eugênia se emocionou ao contar que, em outra reunião, as participantes receberam uma caixa de presente cujo fundo era um espelho, o que provocou reações diversas. “Foi surpreendente colocar cada mulher como a pessoa mais importante da própria vida”, comentou.

“Esse Grupo de Mulheres veio numa hora muito boa, foi uma porta que se abriu aqui e dentro da gente”, elogiou a integrante Valdenice Nogueira Braga, moradora da comunidade Morro das Pedras. “O CRAS é minha segunda casa. Aqui tenho liberdade para falar, não há julgamento. Consegui, pela primeira vez, compartilhar um episódio de violência doméstica nas reuniões. O grupo deu voz para nós, mulheres, podermos desabafar e receber um abraço, um conselho. A gente se acolhe, fala o que sente e fica leve, sai com mais sabedoria”, disse. Vencidas as dificuldades familiares, Valdenice, beneficiária do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada - BPC, hoje troca palavras de carinho com a filha, que é mãe solo, e o neto. “Falo ‘eu te amo’ todo dia, e rimos muito. Já disse a ela que prefiro ser avó do que mãe, e que cabe a mim ‘estragar’ meu neto”, se diverte.