23 March 2023 -
A Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB) e a Vale assinaram nesta quinta-feira (23) um Acordo de Cooperação Técnica para ações de conservação da flora, ao longo dos próximos três anos, somando um investimento de mais de R$ 1 milhão. O Acordo de Cooperação prevê a guarda e reprodução de espécies, sementes e recursos genéticos, além do investimento na ampliação e melhoria da estrutura do Jardim Botânico.
O Brasil possui uma das floras mais ricas do mundo, abrigando um terço da biodiversidade vegetal existente. Isso significa que 11 mil espécies - de um total de 33 mil – são encontradas no nosso território, e boa parte delas em um tipo específico de formação vegetal, ainda bastante desconhecida pelos brasileiros, chamada de campos rupestres.
Os campos rupestres são ecossistemas complexos, localizados acima de 900m de altitude e com uma megadiversidade para a qual o conhecimento ainda é incipiente. Ao longo de toda Serra do Espinhaço formam ricos mosaicos de comunidades, com alto grau de endemismo, ao mesmo tempo são extremamente frágeis e com baixa resiliência. Para possibilitar a conservação desses ambientes com espécies raras, ameaçadas e endêmicas, foram criados os parques, as estações ecológicas, as reservas biológicas, reservas particulares reservas da biosfera, entre outros.
Umas das estratégias que serão adotadas na execução do Acordo de Cooperação é a conservação chamada ex situ, que é a guarda e reprodução de espécies, sementes e recursos genéticos fora do habitat natural de ocorrência, papel inerente aos jardins botânicos. A Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD) destaca a importância da utilização desta estratégia como defesa da diversidade biológica, uso sustentável dos seus componentes e a repartição dos benefícios do uso dos recursos genéticos. Zoológicos, aquários e jardins botânicos são exemplos de locais de conservação ex situ.
Entre as ações previstas estão a adequação da estrutura do herbário do Jardim Botânico da FPMZB, com aumento de capacidade de armazenamento do acervo em 50%; adequação da infraestrutura para armazenamento e beneficiamento de sementes e a ampliação do espaço para acondicionamento da coleção viva de campos rupestres, visando acondicionar e estudar, principalmente, germoplasma de espécies ameaçadas de extinção.
Os jardins botânicos possuem papel fundamental na conservação de espécies da flora nativa, principalmente as ameaçadas de extinção, raras e endêmicas. Estas instituições visam o desenvolvimento de pesquisas e programas de educação ambiental. “A parceria com a Vale é muito bem-vinda, pois as coleções de referência são verdadeiros museus vivos e irão permitir que a sociedade conheça a biodiversidade e a importância das plantas para a vida no planeta. Além disso, o Jardim Botânico é fundamental na elaboração de planos, no sentido de promover a conservação de espécies ameaçadas, a restauração de ecossistemas naturais, atrair a atenção do público, por intermédio de programas educacionais que privilegiem a manutenção da diversidade genética e o desenvolvimento sustentável”, destaca Sérgio Augusto Domingues, presidente da FPMZB.
“O Acordo de Cooperação com o Jardim Botânico visa ampliar o plano de conservação de espécies rupestres do Quadrilátero Ferrífero, que vem sendo executado pela Vale desde 2014, com a busca de novas plantas, coleta de sementes e propágulos para estudos, reprodução e reintrodução. A FPMZB irá nos apoiar no conhecimento técnico, armazenamento e testes germinativos, uma alternativa importante para conservação da variabilidade genética presente nos campos rupestres”, destaca Ana Amoroso, engenheira florestal da Vale.
O acordo ainda conta com a reforma de estufas, laboratórios e a ampliação do armazenamento de exsicatas do herbário municipal BHZB, registrado no Index Herbariorum, estando disponível para consultas de pesquisadores do mundo inteiro. Além disso a intenção é reforçar o Jardim Botânico de BH como um importante espaço de referência para a pesquisa, formação, capacitação (bolsistas) e produção técnica científica sobre os campos rupestres.
A Vale mantém 13 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) próprias, que ocupam uma área de mais de 6 mil hectares na região do Quadrilátero Ferrífero. Além das RPPNs, a Vale mantém mais de 54 mil hectares de áreas preservadas, seja com reservas legais ou áreas de preservação permanente. Já a FPMZB é responsável por 76 parques, entre eles estão duas zonas núcleo da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço: o Parque das Mangabeiras e o Parque Serra do Curral.
O Jardim Botânico de Belo Horizonte, espaço também administrado pela FPMZB, é referência nas áreas de pesquisa e cultivo de espécies da flora brasileira, especialmente as ameaçadas, raras e endêmicas com ocorrência no estado de Minas Gerais. No Jardim Botânico de BH, existe um banco de sementes, além de coleções preservadas como o Herbário BHZB, coleção etnobotânica (que estudo e mostra relação entre os seres humanos e seu ambiente vegetal, com elementos de referência dos valores e aplicações das plantas), carpoteca (coleção científica de frutos pertencente a um herbário) e ervanário (agrega fragmentos das espécies medicinais utilizadas na farmacopeia e cuja atividade química e/ou biológica já foi comprovada cientificamente), coleção científica de plantas vivas e, também, um espaço dedicado à exposição ao público e a atividades de educação ambiental.
- Coleção de Plantas Vivas do Jardim Botânico
A Coleção de Plantas Vivas do Jardim Botânico da FPMZB abriga 4,7 mil espécimes de 1,3 mil espécies nativas brasileiras, incluindo 145 espécies ameaçadas de extinção da flora brasileira, constituindo-se numa importante ferramenta aos pesquisadores de diversas áreas da Botânica e da conservação. As plantas estão organizadas por biomas (Mata Atlântica e florestas tropicais, Cerrado e Campos Rupestres, Caatinga e ambientes áridos) e são cultivadas em estrutura provisória de telas de sombreamento.
- Reservas próprias em Minas Gerais
A Vale mantém 13 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) próprias, que ocupam uma área de mais de 6 mil hectares na região do Quadrilátero Ferrífero. Além das RPPN, a Vale mantém mais de 54 mil hectares de áreas preservadas. Essas áreas desempenham importante papel para a conservação de remanescentes da Mata Atlântica e do Cerrado e contribuem para a formação de corredores ecológicos e manutenção de serviços ecossistêmicos essenciais, como a manutenção do fornecimento de água, a regulação climática e a polinização. Também contribuem para a preservação das belezas cênicas e ambientes históricos.
Um exemplo é a RPPN Mata do Jambreiro, que ocupa uma área de 912 hectares na Mina de Águas Claras, em Nova Lima (MG). A reserva se configura em um bolsão de preservação da Mata Atlântica de alto valor para a conservação na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
- Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço
A necessidade de elevar a Serra do Espinhaço à categoria de Reserva da Biosfera foi referenciada por trabalhos científicos que a indicavam como área prioritária para conservação no Brasil. Em 2005 a Comissão Mundial do Programa MaB-Unesco examinou a proposta que foi aprovada por seu mérito técnico, demonstrando a competência e cooperação das diversas instituições envolvidas.
O Espinhaço apresenta uma paisagem heterogênea, pois abriga ecossistemas de três importantes biomas, o Cerrado, a Mata Atlântica e a Caatinga. Essa diversidade propicia a formação áreas de transição, com espécies raras e endêmicas. O campo rupestre é o ecossistema que distingue a Serra do Espinhaço de outras regiões do mundo. Ambiente extremamente frágil e de baixa resiliência possui uma megadiversidade formada por um complexo mosaico de comunidades.
É nesse contexto que programas de cooperação como esse se justificam, pois, o conhecimento sobre a biodiversidade e a delicada trama de espécies envolvidas nos campos rupestres, ainda é incipiente e exige esforços profundos de todos os setores da sociedade.