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Cerca de vinte pessoas reunidas sob estrutura com telhado ao ar livre
Foto: Rosália Diogo/PBH

Comunidade troca experiências no Centro de Referência Lagoa do Nado

criado em - atualizado em
O Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado tem profunda relação com a comunidade por ter surgido a partir de uma demanda dos próprios moradores da região. O espaço integra a rede de equipamentos culturais da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Fundação Municipal de Cultura (FMC), e oferece à população uma programação diversificada em várias áreas artísticas além de ações de difusão cultural, memória e valorização das identidades culturais, como é o caso do Conversa ao Pé do Fogão.
 
O Conversa ao Pé do Fogão reconhece a importância da comunidade presente na trajetória do Centro de Referência Lagoa do Nado e valoriza seus modos de vida cotidianos. Nele, são promovidos bate-papos ao redor do fogão a lenha, onde participantes revivem o passado, trocam experiências, contam “causos” e apreciam um café coado na hora.
 

Memória e cultura

A iniciativa encontra-se na perspectiva do programa de Promoção e Valorização do Patrimônio e Identidades Culturais, e, segundo a coordenadora do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional, Rosália Diogo, seu objetivo é possibilitar que a memória coletiva, expressa tanto no patrimônio material como no imaterial, mantenha-se viva no cotidiano e que possa ser transmitida de geração a geração. “A memória assenta-se na afetividade dos acontecimentos grandes ou pequenos, na experiência vivida com sua plasticidade e perceptibilidade, nas ambiguidades e contradições desses momentos”, afirma. Rosália também ressalta como as sensações são essenciais na construção das lembranças e significados. “A memória é aguçada por todos os sentidos: um cheiro, um toque, um sabor, um lugar, um som, todos trazem à tona experiências vividas porque é o corpo que vivencia a história e, portanto, todos os sentidos que o constitui. Daí a importância de parar, conversar, ouvir os outros, contar nossa própria narrativa, enfim, tecer os fios da história” conclui.
 
Essa reflexão é percebida na prática, como conta Geraldo de Jesus, 77 anos, músico autodidata, morador do Nova Esperança, que demonstra grande satisfação em participar dos encontros. “Estou gostando muito deste projeto por reviver, assim, nosso passado infantil, e compartilhar as experiências também com as novas gerações.”, ele diz.
 
A valorização da simplicidade sempre esteve presente na concepção do Conversas ao Pé do Fogão. Segundo Maria Aparecida Caldeira Xavier, 55 anos, moradora do bairro Candelária Venda Nova, bibliotecária e ex-funcionária do Lagoa do Nado, uma das idealizadoras da atração, a ideia surgiu por causa de um forno antigo no parque que não era usado. “Daí associamos à compreensão de que a cozinha é um local importante para a cultura mineira e juntamos as duas coisas para a escrita de um projeto simples”.
 
A coordenadora Rosália Diogo também comenta sobre essa dimensão simbólica da cozinha e como isso se relaciona ao sucesso da atividade. “Quem, ao ser perguntado sobre qual é o melhor lugar da casa, não responderá sem titubear: a cozinha? Nela construímos relações, vivenciamos sensações e emoções. Assim são nossas Conversas ao Pé do Fogão, momento para pensarmos sobre alegrias e agruras de nossa história”, reflete. Segundo Rosália, a cada nova edição do encontro - que acontece sempre na terceira quarta-feira do mês - cerca de 60 pessoas se reúnem em torno do fogão a lenha para prosear. “Esse projeto é bastante significativo no que se refere ao acolhimento da comunidade de maneira simples, ao modo dos costumes do belo-horizontino, e com impacto cultural inestimável”, afirma.
 

Lugar de encontros

Scherazade Lacerda, 59 anos, artesã, moradora do Vila Clóris, relata como se deu sua aproximação com o Conversa ao Pé do Fogão. “Embora nascida e criada na cidade grande, por influência da minha mãe, gosto muito de ‘coisas’ que lembram a vida do interior. Quando fiquei sabendo da atração, passei a acompanhar desde o primeiro”. Ela destaca a importância desse tipo de atividade numa realidade de tempo escasso como a que vivemos hoje. “Na correria dos nossos dias, em meio à nossa selva de concreto, é um privilégio pessoas se encontrarem e baterem um papo descontraído, junto do calor de um fogão a lenha e do calor humano, num lugar mágico, como é o Centro de Cultura Popular.”
 
Shirly Ferreira, analista de políticas públicas e socióloga, que participa dos encontros desde o começo, afirma que os encontros proporcionam muito bem-estar entre os participantes “A cozinha é local de acolhida, de convivência, de troca de experiências e memórias. Aqui, isso acontece durante saborosas conversas. A proposta foi aprovada pelos frequentadores que ajudam a manter a atração até hoje. É uma alegria imensa saber que ele insiste e resiste por mais de 10 anos”, completa.

Conversa ao Pé do Fogão comemora 16 anos de atividade em 2018 e o a unidade celebra esse aniversário realizando quatro edições especiais, no intuito de reafirmar e ressignificar a cultura mineira e sua diversidade de práticas. No dia 22 de agosto, por exemplo, o encontro terá a presença da indígena Pataxó, Maria Flor Guerreira, para discutir sobre os desafios de uma mulher indígena. Com a presença de uma representante dos povos originários, a iniciativa promove a partilha de experiências para além dos limites regionais comuns, ampliando, assim, o diálogo sobre memória e identidade e valorizando a pluralidade de modos de vida e manifestações culturais.


Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado
Rua Ministro Hermenegildo de Barros, 90, Itapoã
Telefone: 3277-7420 / 3277-6746 || e-mail:crcp.fmc@pbh.gov.br
Funcionamento: de terça a sexta, das 9 às 18 horas; sábados e domingos, das 10 às 17 horas (Biblioteca)