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A escritora e servidora da Prefeitura, Soraia Evangelista, caminha pelo parque municipal segurando seu livro "Um câncer, uma felicidade..."
Foto: Rodrigo Clemente/PBH

BH em Pauta: Servidora narra experiência com câncer em livro

criado em - atualizado em

“O meu sorriso era um sorriso de esperança”. Frase marcante de Soraia Evangelista, servidora da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) desde 1988 e escritora desde 2015. Em meio aos serviços prestados ao município, entre uma mamografia e outra, descobriu um câncer há pouco mais de dois anos. Autêntica, alto-astral e extrovertida, Soraia não se deixou abater com o tratamento, encontrando na escrita do livro “Um câncer, uma felicidade…” a força por uma luta diária por algo que ela tanto ama: viver.
 

Aprovada em concurso público da PBH há quase 30 anos, Soraia dedicou grande parte do tempo às pessoas. Com passagem pela Secretaria de Recursos Humanos, foi uma das responsáveis pela folha de pagamento da Prefeitura por cerca de dez anos e continuou o trabalho com servidores na Regional Norte de Belo Horizonte, passando depois a atuar na Gerência de Atendimento ao Cidadão.
 

No início de 2015, após uma mamografia e a identificação de um nódulo, ela foi surpreendida por um câncer de mama e precisou se afastar do ambiente de trabalho para encarar o tratamento. Deixou de lado as folhas de pagamento e tomou à mão os exames. Primeiramente, veio a cirurgia, depois as quimioterapias vermelha e branca e, por fim, a radioterapia. Em 2017, com o fim das intervenções, tem feito acompanhamentos rotineiros, em função de uma predisposição genética e aos efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia.
 

Em meio às vivências de um paciente de câncer, ela optou por encarar a doença com uma leveza atípica. “Durante as quatro primeiras quimioterapias, que foram as vermelhas, os sintomas normais não foram muito fortes pra mim. Quando a primeira mecha de cabelo caiu, eu fiquei muito feliz. Era sinal de que o tratamento estava fazendo efeito. Não vi como algo negativo. Vi a possibilidade de vida nova,” revelou.

 

O medo, a ideia

A decisão de escrever um livro sobre o que estava vivenciando partiu de um sentimento surgido logo no início. “O momento em que o medo ficou enorme. Na hora que o medo estava maior do que eu podia suportar e eu não queria passar esse medo para as pessoas. Foi aí que eu decidi escrever. E isso aconteceu uns três ou quatro dias depois do diagnóstico. Na hora que você olha para o espelho, chora sem parar, você fica perdida… Eram nesses momentos que eu corria para escrever”, conta Soraia.
 

Algumas pessoas já leram a obra. Os médicos, por exemplo, recomendaram a publicação como ferramenta para outros pacientes e para familiares. Em “Um câncer, uma felicidade…”, livro de linguagem leve, contado em prosa, Soraia fala das vivências com o câncer, a rotina no hospital onde realizou o tratamento, a relação com outros pacientes, as reações da sociedade frente ao cabelo que cai e ao lenço que embeleza a cabeça.
 

O livro, de 186 páginas, é sendo considerado parte do tratamento da paciente, mesmo depois de escrito, editado e impresso. Ela segue sendo acompanhada por uma oncologista e por uma psicóloga.
 

O título "Um câncer, uma felicidade...", explica ela, está na esperança que ela ainda carrega. “Quando eu falei, eu vou escrever o livro, o título veio de uma vez. Eu realmente estava feliz por ter oportunidade de poder declarar o meu amor pelas pessoas,” disse.

 

Lançamento

Escritora de primeira viagem, Soraia tem dedicado o tempo às atividades que envolvem o livro. Entrevistas e reuniões para parcerias já estão na agenda. O filho, Pedro Felipe, 23, é quem sente a diferença de não ter mais a mãe por perto em todos os momentos. “Ele esteve comigo durante todo esse tempo, mas agora a minha atenção está voltada para o livro. Ele não quis ler para não reviver tudo de novo, mas este momento é importante para outras pessoas.”
 

Depois da entrevista ao BH em Pauta, o segundo compromisso é o pré-lançamento do livro em Belo Horizonte. Na próxima terça-feira, dia 29, Soraia tem um encontro marcado com os futuros leitores dela, às 18h30, no Guaja Café-Coworking (avenida Afonso Pena 2881). Na ocasião, a campanha “Um novo olhar oncológico” também será lançada. Em sequência, Soraia segue para o Rio de Janeiro, onde participará da Bienal Internacional do Livro.

 

Prevenção e Tratamento

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) recomenda a mamografia de prevenção para as mulheres entre 50 e 69 anos, sendo apenas um exame a cada dois anos. Já as mulheres que têm casos de câncer de mama na família, como é o caso de Soraia, o Inca sugere a realização do exame uma vez por ano a partir dos 35 anos de idade. Em 2017, até o momento, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte já realizou 49.042 mamografias. No ano passado, foram 144.888 procedimentos realizados. Ainda em 2016, foram agendados 626 casos de patologia confirmada ou suspeita para encaminhamento e tratamento nos hospitais oncológicos. Foram 892 cirurgias oncológicas com código "mastologia". São, em média, 970 pacientes/mês em tratamento quimioterápico e 164 pacientes/mês em tratamento radioterápico.

 

 

28/08/2017. Funcionária da PBH Soraia Evangelista lança livro-Um Câncer, Uma Felicidade. Fotos: Rodrigo Clemente/PBH