7 June 2018 -
O 10º Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ-BH), encerrado no último domingo, dia 3, reafirmou-se como principal referência do gênero no Brasil, tanto pela representatividade de temáticas quanto pela qualidade da produção dos quadrinhos. Em cinco dias de programação intensa, diversa e gratuita, a edição deste ano reuniu 80 mil pessoas, na Serraria Souza Pinto, no MIS Santa Tereza, no Centro de Referência da Juventude e na Casa Fiat de Cultura, locais de realização do festival.
O evento foi correalizado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e da Fundação Municipal de Cultura (FMC), e pelo Instituto Periférico.
O coordenador do FIQ-BH, Afonso Andrade, ressaltou o empenho dos quadrinistas para garantir a realização de uma edição histórica em uma semana tumultuada pela greve dos caminhoneiros. “O FIQ atraiu de mais de 500 quadrinistas, vindos de 19 estados mais do DF. Importante destacar a disposição destes artistas, que conseguiram chegar a tempo de participarem do evento”.
Jheine Alves de Moura, do Coletivo Estação Nova (Cariri/Ceará), foi dos artistas que se esforçaram para marcar presença no FIQ-BH. “Apesar do cansaço, das 39 horas de viagem de ônibus até BH, com toda essa confusão e do estresse que passamos na estrada, foi muito válido estar aqui. É tudo muito maravilhoso! Ver o seu trabalho junto dos grandes nomes dos quadrinhos é gratificante demais. Posso falar que esse festival não tem comparação com nenhum outro. Nossa intenção é voltar na próxima edição e trazer mais pessoas do coletivo para participar”, comemora.
Na edição do FIQ-BH deste ano, foram cerca de 300 lançamentos. Os números, segundo Andrade, são resultado do crescimento e da qualidade dos quadrinhos feitos no Brasil, representados pelos artistas presentes no festival. Neste ano, foram disponibilizadas 215 mesas de artistas, face às 123 contabilizadas na edição de 2015. Também foram promovidas 100 sessões oficiais de autógrafos com convidadas e convidados nacionais e internacionais.
O evento recebeu quadrinistas brasileiras e brasileiros com projeção internacional e ainda artistas internacionais com fãs e admiradores no Brasil. Foram oito convidadas e convidados estrangeiros, lançando trabalhos e participando de bate-papos e sessões de autógrafos.
A temática deste ano abordou os “Processos Colaborativos” e a grande homenageada foi a quadrinista Érica Awano, profissional de destaque entre quadrinistas brasileiros, com reconhecida projeção internacional. O trabalho da homenageada foi representado em exposição que levou seu nome e ainda em uma sessão de bate-papo.
Produção e formação
O público presente aos espaços de realização do FIQ-BH 2018 foi bastante expressivo em todas as atividades. Nas sessões da Mostra FIQ de Cinema, no MIS Santa Tereza, foram aproximadamente 250 espectadores, que acompanharam as nove exibições de longas-metragens de animação. No caso das oficinas, foram registradas a participação de 1500 pessoas, que se dividiram nos cursos de formação (“Criação de personagens”, “Transformando quadrinhos em jogos” e “Pintando Quadrinhos com Aquarela”) e nas oficinas básicas (“Chibi Mangá” e “Criando Monstros”). Cada uma das 32 atividades sediadas no auditório Toninho Mendes, por sua vez, contou em média com 300 espectadores.
Rodada de Negócios
Uma Rodada de Negócios foi oferecida pelo festival. São encontros organizados com objetivo de ampliar o networking profissional, oferecendo aos quadrinistas a oportunidade de apresentarem às editoras convidadas os seus projetos. Mesmo que não haja uma negociação imediata, espera-se que os encontros gerem parcerias futuras. A iniciativa contou com o apoio do Sebrae e destinou-se aos profissionais e projetos inscritos previamente e selecionados pela organização do FIQ-BH. Neste ano, foram realizados 572 atendimentos por nove editoras participantes.
FIQ Jovem
Duas atividades em especial vão garantir a continuidade do FIQ-BH 2018. A primeira delas é a confirmação da segunda turma do FIQ Jovem – Curso de Formação de Quadrinistas, em parceria com o Sesc em Minas, e a “Inarredáveis! Mulheres Quadrinistas”.
O FIQ Jovem 2018 vai oferecer aulas gratuitas, entre os meses de agosto e dezembro de 2018. Mais do que ensinar a fazer quadrinhos, o objetivo do curso é desmistificar a produção de HQs e mostrar aos alunos como cada pessoa, com suas próprias vivências e influências, pode encontrar sua forma de contar histórias dentro desse meio.
As aulas são voltadas para pessoas que já tenham alguma relação com a criação de quadrinhos, mas que ainda não se profissionalizaram. Sendo um espaço de preparação profissional e de reflexão sobre a produção em quadrinhos, o curso será ministrado por um corpo docente de experientes profissionais da área, responsáveis por apresentar e desconstruir conceitos referentes às narrativas gráficas. O FIQ Jovem 2018 – Curso de Formação de Quadrinistas é gratuito e vai ofertar 25 vagas. As informações e inscrições estarão disponíveis no site do FIQ-BH (www.fiq.bh.gov.br), a partir da segunda quinzena de junho.
Além disso, a exposição “Inarredáveis! Mulheres Quadrinistas” segue em exibição na Casa Fiat de Cultura, até o dia 29 de julho. Integrante da programação do FIQ, a expografia composta por painéis destaca um recorte da produção de 12 mulheres quadrinistas em Belo Horizonte. Ao acolher a diversidade e a subjetividade das autoras, o fazer artístico de cada uma torna-se o norte que guia a experiência do visitante. “Inarredáveis!” prolonga a experiência do FIQ-BH com o público ao oferecer um período de visitação.
São mais de 80 obras de 12 artistas de Belo Horizonte e região metropolitana de BH: Aline Lemos, Ana Cardoso, Bianca Reis, Carol Rossetti, Chantal, Ina Gouveia, Julhelena, Laura Athayde, Lu Cafaggi, Rebeca Prado, Sophie Silva e Virgínia Fróes. A mostra traz à luz o trabalho feminino no cenário mineiro da produção de quadrinhos. A exposição segue em cartaz e pode ser vista de terça a sexta, das 10h às 21h; e sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.
O FIQ-BH
Em 1997, quando Belo Horizonte comemorou seu primeiro centenário, a capital foi sede de diversos eventos e homenagens. Um deles, em especial, chamou a atenção de todos, com convidados nacionais e internacionais de renome, transformando BH, pela primeira vez, no maior ponto de encontro latino-americano de HQs. Era a 1ª Bienal de Quadrinhos, realizada nos espaços nobres e históricos da Serraria Souza Pinto.
A partir de 1999, rebatizado como Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), o evento configurou-se como referência obrigatória para os quadrinistas e hoje pode ser considerado o principal do gênero na América Latina.