Pular para o conteúdo principal

Quinze mulheres mostram seus bordados.
Foto: Ana karina bernardes/PBH

Projeto Bordando Memórias incentiva cuidado com o patrimônio cultural 

criado em - atualizado em

O museu Casa Kubitschek, da Prefeitura de Belo Horizonte, integra o Conjunto Moderno da Pampulha e foi aberto ao público com o objetivo de promover experiências e pesquisas no campo do paisagismo, da arquitetura residencial e do design modernos. Por meio da sua programação cultural e educativa, o Museu procura estimular a interação com o patrimônio artístico e cultural, como é o caso do projeto Bordando Memórias, lançado em 2017, que coloca os trabalhos manuais em diálogo com o acervo do museu e a Pampulha.

 

Este ano será realizada a quarta edição das oficinas do projeto. A mostra Bordando Memórias, com os trabalhos já realizados, pode ser visitada até o dia 28 de julho. São bordados com o tema "O jardim que mora em mim" e duas colchas coletivas. O projeto é inspirado na figura de dona Juracy Guerra, proprietária da casa que hoje abriga a instituição. Ela era uma artista doméstica e, segundo a diretora de Museus, Letícia Dias, deixou seu talento e criatividade impressos nas intervenções artísticas que fez em seus móveis.

 

Por meio das oficinas, os participantes podem interagir com o espaço do museu e com o patrimônio arquitetônico e paisagístico da Pampulha de maneira mais afetiva e criativa. Para Letícia, os encontros possibilitam o compartilhamento de histórias, lembranças e memórias. “A atividade contribui para a reflexão sobre as relações dos moradores da cidade e seu patrimônio. Além disso, a valorização da costura e do bordado como linguagem e expressão aproxima a pessoa de sua própria sensibilidade e estimula suas habilidades e criatividade”, afirma.

 

Mônica Theodora Caillaux dos Santos é uma entusiasta da atividade, tendo participado das oficinas nos anos de 2017 e 2018. “Eu e minhas irmãs somos apaixonadas por bordado e não poderíamos perder a oportunidade de bordar no Museu Casa Kubitschek, que para nós é um espaço de confraternização. Lá, o passado e o presente são bordados com arte, e, num trabalho com muitos retalhos, constrói-se uma grande recordação”, relata.

 

A experiência também foi marcante para Carolina Nobre, que participou em 2018. “Estar na oficina de bordados foi uma experiência maravilhosa. Senti que as minhas mãos geram vida e arte. E me permiti criar laços com mulheres incríveis e fortes. Além de ter a chance única de ter uma obra imortalizada em um museu. Como é bom vivenciar a cultura de Belo Horizonte!”, destaca.

 

 

Temáticas

Os temas das edições das oficinas são escolhidos previamente para cada ano. Assim, quem participa é convidado a conversar, investigar e bordar sobre a temática escolhida. Já foram realizadas três edições e em 2019 será desenvolvida a quarta. A primeira oficina, em 2017, foi sobre o mobiliário modernista do museu. Ao todo, 12 mulheres trabalharam em bordados que foram unidos e formaram uma colcha coletiva.

 

Logo após, com este mesmo grupo, veio a ideia de confeccionar mais uma colcha, desta vez, representando as espécies botânicas dos jardins do museu. Daí surgiu a oficina com o tema “Jardins de Burle Marx”, que aconteceu em 2018 e reuniu mais de 20 bordadeiras. Segundo Letícia Dias, os bordados foram confeccionados a partir das ilustrações da artista e bióloga Mariana Soares. “A coordenadora da oficina, Gil Duarte, preparou os riscos com base nas ilustrações, as bordadeiras colocaram a ‘mão na massa’ e, assim, o museu passou a contar com uma segunda colcha”, detalha.

 

Ainda em 2018, o museu, em parceria com o Centro Cultural Pampulha, realizou outra oficina com o tema relacionado aos jardins, porém com uma abordagem diferenciada. As 19 participantes foram convidadas a bordar "O jardim que mora em mim". Cada uma escolheu uma planta de suas memórias e a artista Sarah Macfadem assumiu a delicada tarefa de traduzir essas lembranças em aquarelas. “Sobre estes desenhos, cada bordadeira/jardineira bordou sua planta. Brotaram margaridas, rosas, copos-de-leite, dentes-de-leão, violetas, fícus, ipês, amoreiras, jabuticabeiras e pés de mamão”, conta Letícia.

 

Uma das participantes de 2018, Maria Cândida Caillaux, demonstra sua satisfação em fazer parte do projeto. “Unidas num só objetivo, cada uma com seu talento, aprendemos a bordar e recordar todo o encanto que se encontra presente no Museu”, afirma. Assim como Leísa Amaral Gomes, que também compartilha sua boa experiência. “Bordar os jardins de Burle Marx mudou meu olhar”, comenta.

 

Para 2019, as aves da Pampulha foram escolhidas como tema, com base no livro “Pássaros poemas – Aves na Pampulha”, um trabalho fotográfico realizado pelo compositor, cantor e escritor Tavinho Moura, publicado em 2012, que identificou e fotografou 150 espécies da região.

 

 

Participação da comunidade

As oficinas são abertas para o público de todas as idades, pois o bordado é uma atividade para qualquer geração. Inclusive, um dos propósitos é contribuir para o reconhecimento da pessoa idosa como sujeito detentor de conhecimento e vivências a serem transmitidas às demais gerações. E a participação feminina é o que tem marcado os encontros, o que está ligado à tradição histórica do próprio bordado, como explica Letícia Dias. “Se na sua origem o bordar era uma atividade doméstica exclusivamente feminina, relacionada com a preparação das jovens mulheres para a vida no lar, hoje ele é ressignificado, carregando as marcas do empoderamento da mulher e de seus coletivos. Na delicadeza do bordado, encontramos a afirmação dos saberes das bordadeiras, suas narrativas, sua expressão criadora”, afirma.

 

Gláucia Marise Ribeiro Santos, professora/facilitadora da oficina "O jardim que mora em mim", também chama a atenção para a importância da atividade no desenvolvimento pessoal das mulheres. “Além de ensinar técnicas novas da arte de bordar, ajudou cada participante a olhar pra dentro de si e enxergar o sentido e a presença das plantas em sua trajetória de vida. Cada quadro representa um exercício de autoconhecimento e lembranças, e a oficina também nos proporcionou um encontro com mulheres fortes e suas histórias de vida”, relata.  

 

Atendendo à solicitação das participantes, em 2019, o museu Casa Kubitschek criou o “Grupo de Bordados Bordando Memórias”, que se reúne mensalmente, no segundo sábado do mês, das 9h às 12h, nos jardins do museu. Para participar, basta enviar e-mail para educativos.ck@pbh.gov.br ou ligar para 3277-1586.

 

 

Museu Casa Kubitschek

Avenida Otacílio Negrão de Lima, 4.188, Bandeirantes – Pampulha

Ônibus 5106 (Bandeirantes/BH Shopping)

Telefone: (31) 3277-1586 / E-mail: ck.fmc@pbh.gov.br

Funcionamento: De terça a domingo, das 9h às 18h

 

 

26/06/2019. Museu Casa Kubitschek realiza oficinas de bordado temáticas. Fotos: Ana Karina Bernardes/PBH