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PBH oferece oportunidade de formação para alunos da EJA durante hemodiálise
Amira Hissa/PBH

PBH oferece oportunidade de formação para alunos da EJA durante hemodiálise

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Iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte em parceria com hospitais garantem saúde e aprendizado ao mesmo tempo. Por meio da proposta de implementar turmas da EJA nos centros nefrológicos do Hospital Evangélico e da Fundação Hospitalar São Francisco de Assis, 690 pacientes já tiveram a possibilidade de assistir às aulas durante o processo de hemodiálise.

A iniciativa permitiu que os pacientes conquistassem a autonomia de realizar sozinhos procedimentos médicos que poderiam ser feitos em casa, mas que eram realizados no hospital devido à dificuldade de ler e interpretar informações. O trabalho é também uma forma de ocupar o tempo em um momento que gera ansiedade nos pacientes, que é o tratamento.

A proposta tem o objetivo de capacitar as turmas não apenas para ler e escrever, mas também para dominar o conteúdo programático do Ensino Fundamental. Até então, 59 alunos foram formados pelo projeto e estão aptos para cursar o Ensino Médio. Denise Fernanda Risi, coordenadora pedagógica das turmas externas da EJA, enaltece o interesse, a persistência e a resiliência dos alunos. “São pessoas que buscam na escola uma forma de realizar o sonho de completar os estudos que não puderam ser concluídos em idade regular; mas também buscam uma forma de ocupar o tempo que disponibilizam para o tratamento de saúde que fazem no Centro de Nefrologia. Às vezes se surpreendem e verbalizam sobre a influência positiva da oportunidade de estudar durante o seu tratamento”.

“Vivendo e aprendendo”: projeto com Hospital Evangélico é pioneiro

O projeto “Vivendo e Aprendendo”, realizado em parceria com a Unidade de Nefrologia do Hospital Evangélico, em Venda Nova, tem alcançado êxito e favorecido transformações reais na vida dos(as) estudantes. As aulas são ministradas pelos professores da Escola Municipal Padre Marzano Matias durante o processo de hemodiálise, que costuma durar de duas a duas horas e meia.

Desde 2018, 610 pacientes renais crônicos em tratamento na unidade Venda Nova do Hospital Evangélico tiveram a oportunidade de estudar enquanto faziam as sessões de hemodiálise. A primeira formatura aconteceu em 2019, com três formandos. Devido à pandemia, as turmas de 2020 e 2021 se formaram juntas no final de 2021, com 30 participantes. Em 2022, 21 pacientes/alunos receberam o diploma e, em 2023, foram 26.

De acordo com Júlio Cezar Matos Pereira, diretor da Escola Municipal Padre Marzano Matias, as nove turmas aprendem todas as disciplinas (como português, matemática, ciências, geografia e arte), que são adaptadas de acordo com o nível de aprendizado de cada grupo: “Tem alunos no processo de alfabetização, alguns já são alfabetizados num nível intermediário e outros são mais avançados, já estão no processo final da alfabetização. As atividades são elaboradas coletivamente pelos professores e pela coordenação pedagógica para o perfil de cada estudante, pois esse atendimento é individualizado”.

Além de apresentar a possibilidade de continuar os estudos, a parceria colabora com o processo de emancipação desses estudantes. “Tivemos o relato do hospital de que alguns desses ex-alunos, depois que aprenderam a ler melhor, interpretar, trabalhar melhor com os textos e com a leitura, conseguiram inclusive ter alta ou diminuir o tratamento, já que muitos dos procedimentos poderiam ser feitos em casa e não são feitos pela dificuldade de entender e interpretar as informações”, relata Pereira.

“Linhas que dão Vida” une saúde e educação no Hospital São Francisco

O “Vivendo e Aprendendo” inspirou iniciativas semelhantes na cidade. Segundo Risi, em fevereiro deste ano, outras quatro turmas foram abertas na Fundação Hospitalar São Francisco de Assis, com o projeto “Linhas que dão vida”. A proposta teve aderência por 80 pacientes, que se inscreveram para as aulas da EJA, ministradas pela equipe da Escola Municipal Hugo Pinheiro Soares. Formado por seis turmas, o projeto oferece aulas dois dias da semana, entre as segundas e quintas-feiras.

A idade dos pacientes varia de 30 a 96 anos. Maria Marta Graveli, de 74 anos, é uma dessas pessoas. Durante os últimos quatro anos, ela sai três vezes por semana de sua casa, no bairro São Paulo, para fazer o tratamento de hemodiálise na unidade Concórdia do Hospital São Francisco de Assis. Nessa rotina, Maria Marta passa mais de três horas conectada à máquina de hemodiálise, onde faz “caça-palavras”, bate-papo com os funcionários e outros pacientes: “Acho que as horas de tratamento na máquina de hemodiálise vão passar mais rápidas”, relata a aposentada.

Para Pereira, projetos como esse são fundamentais não só pelos resultados pedagógicos, mas também pelo retorno humano: “É muito importante que eles alcancem conquistas na vida social, não só na vida escolar, pois eles alcançam outros direitos na sociedade a partir do contato com a aprendizagem.”