Um curso inédito de formação docente focado na educação bilíngue de surdos deve melhorar ainda mais as práticas pedagógicas voltadas a esses estudantes na Rede Municipal de Educação. Fruto de um trabalho da Secretaria Municipal de Educação (Smed) e organizado pela Diretoria de Educação Inclusiva, Diversidades e Transversalidade (Deit), em parceria com o Movimento Bilíngue de Surdos de Minas Gerais, o curso, que se inicia em abril, oferece aos professores a oportunidade de expandirem as vivências por meio do embasamento teórico e troca de experiências. O convite para a participação será enviado aos professores da rede por e-mail.

Intitulado "Educação Bilíngue para Surdos: Possibilidades e Desafios", a formação visa proporcionar aos educadores da Rede uma imersão nas práticas pedagógicas para o ensino e aprendizagem de estudantes com deficiência auditiva, com foco na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e português na modalidade escrita.

A formação será oferecida pelo sistema de Ensino a Distância (EAD), permitindo a participação de professores de toda a rede. Pelo menos 500 vagas serão destinadas especialmente aos docentes que atuam diretamente com estudantes surdos.

Com 60 horas de carga horária, o curso foi dividido em seis módulos, que abordam temas como “Libras: que língua é essa?”, “Ensino de português como segunda língua”, “Ensino de matemática e ciências para surdos”, “Produção de material didático bilíngue (Libras e português)”, “O papel dos tradutores, intérpretes e instrutores na rede municipal de educação de Belo Horizonte” e a “surdocegueira ”.

A professora Luciana Freitas, organizadora do curso e integrante do Núcleo de Educação Bilíngue da Smed, aponta que essa é mais uma conquista da comunidade surda em prol da qualidade no ensino para estudantes surdos da rede. “É uma formação inédita que tem como objetivo proporcionar ao professor um espaço de estudo e diálogo quanto às expectativas em relação ao fazer docente. “Ressalto a importância do reconhecimento da Libras como meio de comunicação e expressão dos estudantes e professores surdos nas nossas escolas, e essa iniciativa precisa ser incluída como formação docente continuada, pois existem metodologias específicas para o ensino da leitura e escrita, no contexto educacional bilíngue”, explicou.

Com a formação dos professores, a Secretaria Municipal de Educação pretende garantir que os estudantes surdos tenham acesso ao ensino tanto de Libras, sua língua materna, quanto do português escrito, e também promover reflexões sobre as práticas pedagógicas no contexto da sala de aula que ajude a eliminar as barreiras de comunicação e de acesso ao conteúdo.

No Brasil, cerca de 90% das crianças surdas são filhas de pais ouvintes. Esse dado, segundo o secretário de Educação de BH, Bruno Barral, amplia a responsabilidade com a inclusão destes alunos. “Com pais ouvintes, esses meninos e meninas terão o contato com a Libras nas nossas escolas, e é nossa responsabilidade oferecer material humano, recursos, estratégias e acessibilidade apropriadas para garantir a inclusão desses estudantes”, afirmou.

Barral também enfatizou a importância da formação dos professores na educação inclusiva. “A inclusão deve ser tratada não apenas como um direito garantido pela Constituição, mas como um processo contínuo de construção. Temos à disposição ferramentas modernas e é fundamental investir nelas, mas nada substitui o agente transformador mais essencial, que é o professor”, defendeu Barral.

Ele também reforçou a necessidade de reflexão sobre os resultados pedagógicos, destacando a necessidade de uma formação eficaz. “A inclusão é fundamental, e por isso, uma formação sem um propósito prático não gera um impacto real. Nesse contexto, espero que este encontro seja proveitoso, permitindo que nossos professores compartilhem experiências e aprendam de maneira a enfrentar os desafios com coração aberto e embasamento sólido”, concluiu.

O lançamento no Teatro do Centro Educacional Imaculada (CEI), e contou com a presença do secretário de Educação, Bruno Barral, da Diretora do Deit, Bernadete Duarte, de educadores e militantes do movimento bilíngue de surdos de Minas Gerais, de representantes da Associação de Surdos de Minas Gerais e outros profissionais da área.