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Fotografia da Peça Oito Mulheres, encenada no Teatro Marília em 1966.
Foto: Arquivo FMC

Exposição sobre os 20 anos do Teatro Marília em cartaz a partir de 12/12

criado em - atualizado em

O Teatro Marília, um dos mais emblemáticos espaços da capital mineira, terá sua história retratada pela pessoa que inspirou seu nome. Marília Salgado, filha do ex-governador Clóvis Salgado (1906-1978), assina a curadoria da exposição “Teatro em Construção: o Marília nos seus primeiros 20 anos”. Promovida pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, a exposição será inaugurada na próxima quarta-feira, dia 12 de novembro, às 19h, no foyer do teatro. A mostra fica em cartaz até o dia 3 de março de 2019 e pode ser visitada gratuitamente de segunda a quinta, das 10h às 18h; de sexta a domingo, das 10h às 20h.

 

A exposição conta a história do Marília por meio de textos curtos, imagens e lembranças de alguns daqueles que estiveram envolvidos no fazer teatral e que assim fazem parte da memória da cidade de Belo Horizonte. A narrativa da mostra é baseada em três aspectos fundamentais da construção do teatro: o aspecto físico, que destaca a construção do primeiro espaço destinado às artes cênicas; o aspecto artístico, que ressalta os grupos e artistas mineiros que se dedicaram a estudar, pesquisar e levar espetáculos de alta qualidade ao palco do Marília; e ainda, o aspecto político, que traz a importância do teatro para a construção de uma resistência ao regime militar.

 

“O Teatro Marília tem uma importância histórica para a produção local, para os artistas e para o público de Belo Horizonte. Revisitar essa trajetória que se iniciou nos anos 60, em pleno período de resistência, nos faz reafirmar o nosso compromisso com o zelo, a manutenção e a ocupação deste espaço, com uma programação intensa e plural. Além disso, nos alegra ver que hoje o Marília segue sendo espaço de articulação dos artistas e grupos culturais da cidade que ali se encontram para refletir sobre suas pautas”, afirma o secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira.

 

A abertura da exposição, no dia 12, contará com a exibição do documentário “Primeiro Sinal – A História Do Teatro de Belo Horizonte – Dos Primórdios até 1980”, dirigido por Chico Pelúcio e Rodolfo Magalhães. Documentário que traça um panorama do que foi feito e do que existiu desde os anos iniciais de produção teatral em BH até os anos 80 e reflete sobre a valorização e o reconhecimento dos artistas da capital mineira, cidade que, até pouco tempo, não dava espaço para os artistas locais que se viam obrigados a procurar outras profissões ou outros rumos em eixos de maior produção cultural como São Paulo e Rio de Janeiro.

 

Para Aline Vila Real, diretora de promoção das artes da Fundação Municipal de Cultura, receber essa exposição que revive os primeiros 20 anos do Teatro Marília é abrir as portas para as possibilidades. “O Teatro Marília tem uma importância fundamental para a produção artística de Belo Horizonte, tendo sido ponto de encontro de artistas e estudantes das artes cênicas e recebido grandes espetáculos de todo o Brasil. Nesse momento em que planejamos sua longevidade ativa, se faz necessário revisitar esse histórico tão bem-sucedido e repleto de sentidos”, completa.

 

 

A história do Teatro Marília

O Teatro Marília tem uma história particular entre as casas de espetáculo da cidade. Foi construído no início da década de 1960 pela Cruz Vermelha de Minas Gerais, cujo presidente era Clóvis Salgado. A ideia foi construir na sede da entidade um teatro de palco italiano, dedicado especificamente às artes cênicas. Belo Horizonte na época só contava com o Francisco Nunes e o teatro do Instituto de Educação.

 

Ainda em construção, o teatro estreou sua primeira peça, “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, e a segunda, “Mulheres”, de Clare Booth Luce. A partir daí os espetáculos se sucederam com rapidez e o teatro chegou a oferecer quatro apresentações no mesmo dia, todas com casa lotada. Com o Marília, formaram-se importantes grupos de teatro em Belo Horizonte, saídos principalmente do Teatro Universitário. Eram encenações que contemplavam espetáculos variados, que iam desde o teatro grego, tendo à frente o professor Ítalo Mudado, passando por autores norte-americanos, como Tennessee Williams, Arthur Miller, autores brasileiros consagrados e contemporâneos e também do teatro infantil.

 

A par dos espetáculos montados por diretores e atores de Minas, as companhias profissionais do Rio de Janeiro e de São Paulo vinham apresentar-se com frequência no Marília. Anualmente, o público mineiro assistia a espetáculos de grandes nomes da cena nacional como Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Cacilda Becker e Walmor Chagas, Sérgio Brito, Sérgio Cardoso, Ítalo Rossi, Eva Tudor, Beatriz Segall, Paulo Gracindo, entre outros.

 

Durante o período da Ditadura Militar de 64, integrantes da classe teatral formaram grupos de resistência à censura, muitas vezes se reuniram em suas dependências, principalmente no Stage Door, para organizar atividades variadas de enfrentamento à restrição da liberdade. O Stage Door e a Galeria Guignard integravam o espaço do Marília, prolongando o tempo de duração das encenações, com movimento intenso de artistas, intelectuais, professores, estudantes e público em geral. No porão do teatro, funcionou o Teatro Escola da Cruz Vermelha, fundado e dirigido por Priscila Freire, com cursos de interpretação, estética, movimentação cênica, improvisação e outros tantos mais. No teatrinho do espaço, com seus 80 lugares, havia intensa atividade, com ensaios, aulas e apresentações, sempre lotadas, com sessões matinais, vesperais, noturnas e uma especial, chamada Sessão Maldita, à meia-noite.