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Cinco visitantes de exposição de arte dos usuários do serviço de saúde mental do Barreiro no Hospital Metropolitano  Dr. Célio de Castro.
Foto: Lidiane Sant'Ana

Exposição no Hospital do Barreiro promove inclusão social

criado em - atualizado em

“Meu irmão não conversava, não interagia, era totalmente dependente. Hoje, tem autonomia para realizar tarefas diárias como arrumar a própria comida e tomar banho”, orgulha-se Geralda Costa, ao falar de João Costa de Jesus, frequentador das oficinas de arte do Centro de Convivência de Saúde Mental Barreiro. 

Embora continue sendo de poucas palavras, hoje ele se expressa pela arte. “Tenho dois quadros dele na sala. Cada um da família tem ao menos um”, conta Geralda. 

O estilo inconfundível de João pode ser visto de perto na exposição dos usuários do serviço de saúde mental aberta à visitação no Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro (rua José de Oliveira, 340, bairro Milionários), até dia 31 de janeiro.

A mostra celebra os 21 anos do Centro de Convivência Barreiro, um dos serviços da rede de Saúde Mental da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). 

Com foco na inserção social, o serviço estimula a convivência e a sociabilidade por meio da arte e da cultura, tornando mais ricas e criativas suas relações sociais e familiares. Com resultados que surpreendem, o serviço segue desconstruindo preconceitos e mudando o olhar social sobre a loucura. 

A exposição conta com 40 quadros, 21 painéis com pinturas, além de desenhos e bordados construídos coletivamente. Algumas peças foram produzidas especialmente para a exposição e outras resgatam o trabalho desenvolvido há mais de duas décadas no Centro de Convivência. 

Com temas variados, as obras propõem uma reflexão sobre a capacidade de produzir do portador de sofrimento mental, a beleza da arte e a transformação individual e coletiva.
 

Poesias

“Queremos contar a história desses 21 anos do Centro de Convivência Barreiro”, ressalta a monitora de artes plásticas e artes cênicas, Marilene Castanha, que ministra oficinas de pintura, teatro com improvisação, confecção de instrumentos musicais com sucata e pintura com diversos estilos. 

Marilene ressalta que o marco dos 21 anos da unidade é a maturidade do trabalho, mas também o início de uma outra fase, a de fortalecimento do que foi conquistado durante todos estes anos. “O tratamento em liberdade, em substituição aos hospitais psiquiátricos, é uma batalha diária”, reafirma.

A usuária Maria Aparecida Faria reforça a importância da unidade: “Eu gosto de ir ao Centro de Convivência, pois eu saio de casa, faço amigos e aprendo muita coisa.” Ela faz várias atividades, como oficinas de pintura, teatro, artesanato, música e escreve poesias. “Antes eu escrevia só para mim e agora escrevo para muitas pessoas. Já tenho mais de duzentas (poesias).”

A gerente do Centro de Convivência Barreiro, Marise Hilbert, ressalta o resultado dos trabalhos. “As pessoas portadoras de sofrimento mental têm oportunidade de vivenciar a inserção social de forma cuidadosa, cidadã e em liberdade. E cada dia é uma superação, uma inclusão, uma criação de laços que proporciona mudanças para si e para a família, onde as diferenças passam a ser aceitas, respeitadas e principalmente valorizadas”, conta.

O reconhecimento social e familiar são, sem dúvida, peças-chave. “É muito positivo poder divulgar o nosso trabalho em uma exposição. Estamos quebrando paradigmas”, corrobora o usuário Marcos Evandro, na companhia dos filhos Natalie, de 14 anos, Pablo, 11, e Enzo, 8, que sempre prestigiam o pai nos eventos e apresentações promovidos pelo Centro de Convivência.
 

Sociabilidade   

Os Centros de Convivência são serviços que compõem a rede de atendimento em Saúde Mental da PBH, substitutiva ao manicômio. O foco é a inserção social da pessoa em sofrimento mental, por meio da arte e da cultura, estimulando a convivência e a sociabilidade.

Os usuários são encaminhados por profissionais da saúde da rede pública e privada. São atendidas pessoas em sofrimento mental e usuários em uso prejudicial de álcool e outras drogas que apresentem dificuldades de inserção social. 

Belo Horizonte tem nove Centros de Convivência. O Centro de Convivência Barreiro funciona à rua Pinheiro Chagas, 252, Barreiro.


 

22/12/2017. Exposição Meus dedos derrubam barreiras. Fotos: Lidiane Santana/PBH