1 Fevereiro 2018 -
Analisando a estrutura e os números que cercam o Carnaval de Belo Horizonte em 2018 é difícil acreditar que, há apenas dez anos, a cidade ficava deserta durante o período.
O Carnaval da cidade cresceu de forma exponencial nos últimos anos e com esse crescimento várias possibilidades se abriram. De forma artesanal ou com grandes investimentos, um grupo cada vez maior de empreendedores tem usado a criatividade e a determinação para buscar uma forma de garantir uma renda extra ou mesmo impulsionar um negócio já existente.
Carolina Azevedo, empreendedora no segmento da moda, que pelo segundo ano consecutivo lançou uma coleção de Carnaval, composta por maiôs, hot pants, tops e outras peças com motivos momescos, explica por que resolveu focar nesse mercado: “Minha marca passou por vários formatos em seus 11 anos de existência. Hoje ela não se prende ao calendário tradicional da moda.
Sigo livre para criar de acordo com meu tempo e minha inspiração e foi a partir desse formato livre que decidi juntar minhas paixões pelo Carnaval e pela produção de roupas. O Carnaval de BH cresceu muito, vejo uma grande oportunidade comercial para as marcas que estão investindo nisso”.
Os números confirmam o que diz a estilista: a expectativa, divulgada pela Belotur, é de que o Carnaval movimente mais de R$ 637 milhões na cidade, 20% a mais que no ano passado.
As cifras podem ser até mais expressivas, já que essa estimativa diz respeito apenas ao período oficial da folia, que vai de 27 de janeiro a 18 de fevereiro e muitos setores, entretanto, já experimentam um aquecimento desde o início do ano.
Além disso, o crescimento do Carnaval de Belo Horizonte também ajuda a dar visibilidade fora do Estado: uma grande parte dos clientes de Carolina é de Recife, São Paulo e Rio de janeiro.
Com que roupa eu vou, no samba que você me convidou?
O setor de fantasias e adereços é um dos que têm vivido uma explosão nos dois últimos anos. O crescimento do Carnaval favorece marcas já estruturadas, mas também pequenos produtores que fazem tudo de forma artesanal.
É o caso da professora de Língua Portuguesa Ana Luisa Vaz, que se mudou para Belo Horizonte há apenas um mês. “Sempre produzi meus acessórios de Carnaval e neste ano minhas amigas me pediram que eu fizesse para vender”, diz ela, que produz brincos e pulseiras com temática feminista e vende nas pequenas feiras itinerantes que têm se espalhado na cidade: “Na última vendi quase tudo o que levei”.
A arquiteta Luiza Alana também produz brincos e cuida de todo o processo, desde a criação das peças até a venda. “Tenho evento de quinta a domingo, o dia inteiro”, comemora Alana, que ainda tem tempo para divulgar o coletivo que luta contra o assédio em locais públicos.
O ativismo é uma característica comum dessa geração de empreendedoras. Assim como Alana, Ana Luiza também defende que o Carnaval vai além de uma fonte de renda. “O Carnaval é uma identidade cultural nossa, que deve ser celebrada. Sobre as minhas criações, eu compreendo que a moda é um ato político. No Carnaval somos livres para ser quem somos e para mostrar como pensamos”, explica Ana Luiza.
Garrafa cheia eu não quero ver sobrar...
Nem só da fantasia vive o folião e foi apostando no consumo de bebidas alcoólicas durante o Carnaval que Gabriel Mourão e seus três sócios escolheram o período para impulsionar a venda da sua marca de bebidas.
A dedicação ao projeto é a mesma dos pequenos produtores de adereços, mas os objetivos são maiores: das 500 unidades vendidas por mês, eles esperam saltar para um volume de vendas de até sete mil unidades durante a folia. “É uma projeção pé no chão”, assegura Gabriel.
Fruto de um planejamento minucioso, a marca espera decolar depois do Carnaval. O investimento não foi pequeno: R$ 40 mil de aporte inicial e mais R$ 25 mil para se prepararem para o período momesco.
Neste ano em que a fiscalização sobre a venda de bebidas em garrafas de vidro, por motivos de segurança, e fracionadas, por determinação da Vigilância Sanitária, será rigorosa, eles adiantam que estão de acordo com as regras. “Temos um método de vedação e fechamento dos drinks que atende a todos os requisitos técnicos, adaptamos as embalagens para garrafas plásticas, além de termos nos credenciado na Belotur para atuarmos como ambulantes”, explica Gabriel.
Gente é pra brilhar, então brilha!
Flora Guerra já se aventurou na venda de bebidas alcoólicas em outros anos, quando vendia chup-chups, mas desde 2017 mudou o foco e começou a comercializar glitter, embalado em pequenos frascos, que funcionam como pingentes de colares e brincos.
As peças têm sido um sucesso depois que o ela passou a produzi-las de forma personalizada, com a temática dos blocos. “Ano passado vendemos 150 em todo o Carnaval; nesse ano já foi quase o dobro”, conta Flora, que já está recebendo encomendas de Belo Horizonte e até de São Paulo.
Ó abre alas, que eu quero passar!
Nos últimos anos o Carnaval de Belo Horizonte se consolidou como um dos maiores do Brasil. De acordo com as estimativas divulgadas pelo Ministério do Turismo, a cidade é um dos destinos mais procurados, ao lado de Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife e Olinda. Juntas, elas devem ser responsáveis por 65% de toda a movimentação financeira no país durante o período de folia.
O Carnaval de Belo Horizonte, que acontece oficialmente do dia 27 de janeiro a 18 de fevereiro, se tornou um dos mais surpreendentes do país. Para este ano, a expectativa é de 3,6 milhões de foliões, 20% a mais que em 2017. Serão cerca de 480 blocos de rua com 550 desfiles.
Entre as novidades estão os nove palcos oficiais distribuídos entre as regionais, descentralizando ainda mais a programação na cidade. Além disso, melhorias estruturais acontecerão na avenida Afonso Pena para o desfile das escolas de samba e blocos caricatos.
Pela primeira vez na história da cidade, a avenida será pintada de branco para valorizar as fantasias e adereços, assim como acontece nos sambódromos. No local será instalado ainda um cronômetro para contar o tempo dos desfiles.
Outro aspecto importante, também previsto no regulamento, é a abertura de espaço para o surgimento de novas escolas e blocos, um ingrediente com potencial para trazer inovação e renovação para o Carnaval.