25 October 2017 -
Foram três anos de muitas dificuldades para se adaptar à nova rotina. Recém-diagnosticada como diabética tipo II, a telefonista Leandra Viotte, de 38 anos, passou por muitas consultas, fez uso de diversos medicamentos e chegou a ser internada com crise de hiperglicemia. “Para mim estava sendo muito difícil aceitar a doença. Além do fator psicológico, os remédios estavam causando efeitos colaterais e a aplicação da insulina doía. Eu já não conseguia nem me cuidar direito”, conta a paciente.
Demorou um tempo até conseguir controlar a doença. A grande virada nesse quadro foi algo inesperado: uma consulta farmacêutica. “Eu não sabia que tinha esse tipo de consulta, mas quando a nutricionista da minha equipe me propôs esse acompanhamento, eu aceitei porque precisava controlar a diabetes”, se recorda.
Em janeiro de 2017, foi realizada a primeira consulta com a farmacêutica Isabela Vaz, do Centro de Saúde Paraíso, onde Leandra é acompanhada. No primeiro momento foi feito um mapeamento dos medicamentos prescritos, verificando as dosagens e interações. A partir daí foram propostas as alterações no tratamento. “No caso dela, após a avaliação, eu percebi que a dosagem de insulina estava alta devido à ocorrência de episódios de hipoglicemia. Então eu conversei com a médica para diminuirmos. Eu e a médica fomos ajustando a dose até chegar à dose ideal para Leandra”, explica a farmacêutica.
Além disso, foi feita a troca de medicamento por outro com menor potencial de efeitos adversos e a paciente também se adaptou melhor. Mas a assistência farmacêutica prestada para Leandra foi além do tratamento medicamentoso. “A Isabela me deu um passo a passo de como tomar os medicamentos, mostrou onde eu deveria aplicar a insulina e, a partir desse momento, eu comecei a fazer o controle corretamente. Hoje a diabetes já está totalmente controlada. A endocrinologista até pensou em tirar a insulina”, relata Leandra, satisfeita.
Ações educativas
Em Belo Horizonte, todos os 152 centros de saúde contam com um farmacêutico de referência – ao todo, são 63 profissionais atuando na atenção primária à saúde, inseridos no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Eles são responsáveis pela assistência farmacêutica nas unidades básicas de saúde e atuam no plano de cuidado de pacientes que demandam acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.
Só no primeiro semestre de 2017 os farmacêuticos realizaram 944 visitas domiciliares, 4.336 atendimentos individuais e 1.216 participações em atividades coletivas, como ações de promoção à saúde. Além das consultas aos usuários, o farmacêutico está inserido em ações educativas. Este profissional dá apoio às demais equipes de saúde na discussão dos casos, com o objetivo de traçar o melhor plano de cuidado individual ou coletivo.
As ações educativas podem ser direcionadas a outros profissionais de saúde, através de capacitações e atualizações. Para usuários, por meio de grupos terapêuticos, palestras ou oficinas, como grupos sobre uso correto de insulina e insumos de diabetes, tabagismo, medicamentos e dispositivos inalatórios (asma, rinite), planejamento familiar e gestantes, higiene do sono, dores crônicas, dentre outros.
Segundo a gerente de assistência farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Emília Ahouagi, atualmente vários estudos mostram que a atuação do profissional farmacêutico amplia o percentual de desfechos clínicos favoráveis e aumenta a segurança do paciente em relação à utilização de medicamentos: “Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), os erros de medicação causam pelo menos uma morte todos os dias e prejudicam aproximadamente 1,3 milhão de pessoas anualmente apenas nos Estados Unidos. Dessa forma, a assistência farmacêutica, integrada nas redes de atenção à saúde, é importante para melhorar a qualidade da assistência prestada aos pacientes e otimizar os recursos da saúde.”
Para passar por uma consulta com o farmacêutico, o paciente deve procurar um centro de saúde. O tempo de acompanhamento de cada paciente varia de acordo com cada caso clínico e a necessidade do paciente.