10 October 2017 -
Dois veículos, um deles adaptado com elevador para cadeirante, percorrem cerca de 120 quilômetros diariamente para transportar usuários do Centro Dia Barreiro. “Alguns vêm do bairro Olhos D’água, às margens do Anel Rodoviário, e outros do bairro Lindéia, limite com Contagem”, relata a coordenadora do Centro Dia, Márcia Gurgel.
O serviço especializado de assistência social atende os moradores do Barreiro com deficiência, que dependem de terceiros para atividades cotidianas e tiveram as limitações agravadas por violações de direitos como confinamento, falta de cuidados adequados, entre outras situações que aumentam a dependência.
Localizado dentro da Escola Municipal Polo de Educação Integrada (Poeint Barreiro), o Centro Dia é mantido pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e conta também com recursos estaduais e federais. O serviço é executado por meio da União dos Paraplégicos de Belo Horizonte (Unipabe).
Construção da autonomia
Após serem recebidos com um lanche, eles seguem para a rotina de cuidados e atividades individuais e coletivas. Às sextas-feiras começam o dia cuidando das unhas. “No Dia da Beleza cortamos, lixamos e esmaltamos as unhas e cuidamos dos pés. Ocasionalmente, voluntários oferecem tratamentos para os cabelos”, explica a coordenadora.
O trabalho é intersetorial. Os usuários são atendidos mediante encaminhamento do centro de referência especializado da assistência social. Há uma interação permanente com profissionais da rede municipal de educação. O cardápio é preparado por uma nutricionista da Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional e os casos são discutidos em conjunto com os serviços de saúde. A biblioteca do Poeint oferece oficina literária semanalmente e um professor do programa Academia da Cidade reúne os usuários às terças e às quintas para aulas de ginástica.
Todas as atividades e serviços – oficinas de artesanato, passeios em espaços culturais e parques, alimentação balanceada, além de trabalhos temáticos sobre questões como defesa de direitos, sexualidade e violência doméstica – são feitos sob o acompanhamento de cuidadores, psicólogas, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais. Diariamente eles recebem treinamento para o banho e a escovação. Cada ganho de autonomia é comemorado. “Temos um usuário que era acamado, mas hoje já consegue se alimentar sozinho. Recebeu uma cadeira de rodas e circula para todo lado”, cita Márcia.
O atendimento se estende também aos familiares. “Nosso foco é acolher, ajudar a família. O cuidador também requer cuidados”, observa a coordenadora, ao chamar atenção para a sobrecarga dos familiares decorrente da prestação de cuidados permanentes.
Além de reuniões periódicas no Centro Dia, as famílias recebem visitas semanais da equipe técnica. “Buscamos fortalecer o vínculo familiar e mostrar à família em quais aspectos ela pode dar mais autonomia, na medida em que identificamos que o usuário tem condições de assumir”, justifica Márcia.
Inclusão social
A partir da inserção no próprio núcleo familiar, o Centro Dia também se foca no protagonismo social dos usuários. “Trabalhamos com um público em isolamento social”, pontua a terapeuta ocupacional do Centro Dia Barreiro, Priscila Salles, enquanto acompanha um grupo de 25 usuários em uma blitz educativa realizada na porta da Regional Barreiro, na avenida Sinfrônio Brochado, 587.
Surpresos ao serem abordados por pessoas com deficiência física e cognitiva, os transeuntes e cidadãos que se dirigiam à Regional mostram-se receptivos à iniciativa. “Muito legal vê-los empenhados diretamente nessa campanha”, avalia Conrad Marques, após receber um panfleto das mãos de Francisco Eugênio. Cadeirante, Francisco elogia o atendimento que recebe no Centro Dia. “Lá somos abraçados, recebemos conforto, amor e respeito”.
Para Conrad, que trabalha como acompanhante de crianças com deficiência na Escola Municipal Antônio Salles Barbosa, no bairro Tirol, um dos pontos essenciais para avançar no atendimento a esse público é investir cada vez mais no preparo dos profissionais de saúde e educação. Ele avalia que o tema é desconhecido pela maioria das pessoas: “Desde que comecei a trabalhar com as crianças, tenho outra visão sobre a deficiência.”